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28/08/14
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Ébola – ajuda
desesperadamente
necessária
Esta semana temos mais três motivos para aumentar o nosso nível de
preocupação com o surto de Ébola que assola parte do continente
africano. Uma doença hemorrágica, descrita pela Organização Mundial de
Saúde (OMS) como “uma das mais virulentas doenças virais conhecidas pela
humanidade”.
Primeiro, a República Democrática do Congo tornou-se no 5º país em
que a infeção por Ébola foi confirmada. E, muito embora as autoridades
de saúde afirmem que os casos ali detetados nada têm a ver com o surto
que se observa na África Ocidental (Libéria, Guiné-Conacri, Serra Leoa e
Nigéria, até ao momento), e que já vitimou mais de 1.500 pessoas, foram
entretanto implementadas medidas de contenção da doença. Isso significa
que Angola, um país em que trabalham atualmente mais de 100 mil
portugueses, passou a integrar o grupo de países com risco “moderado a
alto” de infeção por Ébola, uma vez que é seu país vizinho.
Segundo, após a notícia da promissora recuperação de dois
profissionais de saúde norte-americanos tratados com o medicamento
experimental ZMapp, um médico liberiano que estava a ser submetido à
mesma terapêutica acabou por não sobreviver, apesar de inicialmente ter
demonstrado sinais de melhoria clínica. Já o padre missionário espanhol
tratado com ZMapp tinha acabado por falecer pouco tempo após ter
recebido o tratamento. A comunidade científica (e não só!) aguarda
agora, expectante, informação sobre os outros dois médicos liberianos a
quem foi administrado o soro.
Coloca-se a questão sobre se será motivo suficiente para contestar a
eficácia do soro experimental.
Ora, devemos ter em linha de conta que as
taxas de recuperação para esta doença variam de acordo com a espécie em
causa, indo desde os 25 aos 90%. O surto em curso tem vitimado
aproximadamente metade dos indivíduos infectados. O que justificou a
utilização de um medicamento ainda não testado em humanos, uma vez que
até agora, não existe nenhuma vacina ou tratamento aprovado para a
doença. Ou seja, estamos, neste momento a efetuar, em pleno surto, um
“ensaio clínico” submetido a escrutínio público para determinar a
eficácia de um medicamento – tarefa de muito difícil execução, uma vez
que ao contrário dos habituais ensaios clínicos a medicamentos, as
circunstâncias em que decorre a sua administração e utilização são tudo
menos perfeitamente controladas. A única coisa que se poderá afirmar
então, até ao momento, é que o medicamento não é 100% eficaz. Ora, muito
poucos medicamentos são. Aqui a questão será a de se saber se
efetivamente aumenta a taxa de sobrevivência.
Entretanto, sabe-se que o Canadá enviou cerca de 1.000 doses de um
medicamento também experimental desenvolvido por laboratórios de
investigação governamentais. Apesar de ter sido testado em animais, com
resultados promissores, também nunca foi testado em humanos.
Por fim, terceiro, parece que não é por sabermos, com rigor, como se
transmite o vírus que conseguimos conter as infeções. Nos países
envolvidos, mais de 240 profissionais de saúde já foram diagnosticados
com Ébola, dos quais mais de 120 vieram a falecer. Sabendo que o vírus
só se transmite através de contacto direto com secreções corporais dos
indivíduos (ou animais) infetados ou com os corpos das vítimas, e que o
seu período de incubação (desde a infecção até ao aparecimento de
sintomas) é de aproximadamente 21 dias, porque é que mesmo os
profissionais de saúde não implementam medidas de proteção mais
eficazes?
A OMS já emitiu um comunicado sobre esta matéria, onde se afirma que
existem vários factores que explicam uma tão elevada proporção de
profissionais infectados, tais como: a falta de equipamento de proteção
pessoal ou o seu uso incorreto; poucos profissionais de saúde para um
surto de tão grandes proporções; e, de forma muito significativa, a
compaixão que faz com que estes profissionais trabalhem nas enfermarias
de isolamento, sob condições longe de ideais, muito para além das horas
recomendadas como seguras.
São três motivos de preocupação... mas também são razões para se
apelar a um maior envolvimento internacional, uma vez que a ajuda, nas
palavras de David Nabarro, coordenador da resposta local por parte das
Nações Unidas, é “desesperadamente necessária”.
Mas não é somente necessária agora. Este surto coloca a nu as
carências de uma região onde os recursos, de todas as ordens, são
escassos. Chama também a atenção da comunidade internacional, nem que
seja porque esta não pode acreditar que permanecerá sempre imaculada,
uma vez que, para todos os efeitos, vivemos numa aldeia global.
Os riscos podem ser diferentes por todo o globo, mas não há risco
“zero”. A nossa Direção-Geral da Saúde sabe-o e está atenta. Temos
muitas razões para nos sentirmos seguros... mas todos motivos para nos
mantermos alerta e, dentro das nossas capacidades e competências,
ajudarmos aqueles que mais precisam…
Farmacêutica
IN "i"
28/08/14
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