03/09/2014

EMA PAULINO

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Ébola – ajuda
 desesperadamente 
necessária

Esta semana temos mais três motivos para aumentar o nosso nível de preocupação com o surto de Ébola que assola parte do continente africano. Uma doença hemorrágica, descrita pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como “uma das mais virulentas doenças virais conhecidas pela humanidade”. 

Primeiro, a República Democrática do Congo tornou-se no 5º país em que a infeção por Ébola foi confirmada. E, muito embora as autoridades de saúde afirmem que os casos ali detetados nada têm a ver com o surto que se observa na África Ocidental (Libéria, Guiné-Conacri, Serra Leoa e Nigéria, até ao momento), e que já vitimou mais de 1.500 pessoas, foram entretanto implementadas medidas de contenção da doença. Isso significa que Angola, um país em que trabalham atualmente mais de 100 mil portugueses, passou a integrar o grupo de países com risco “moderado a alto” de infeção por Ébola, uma vez que é seu país vizinho. 

Segundo, após a notícia da promissora recuperação de dois profissionais de saúde norte-americanos tratados com o medicamento experimental ZMapp, um médico liberiano que estava a ser submetido à mesma terapêutica acabou por não sobreviver, apesar de inicialmente ter demonstrado sinais de melhoria clínica. Já o padre missionário espanhol tratado com ZMapp tinha acabado por falecer pouco tempo após ter recebido o tratamento. A comunidade científica (e não só!) aguarda agora, expectante, informação sobre os outros dois médicos liberianos a quem foi administrado o soro.
Coloca-se a questão sobre se será motivo suficiente para contestar a eficácia do soro experimental. 

Ora, devemos ter em linha de conta que as taxas de recuperação para esta doença variam de acordo com a espécie em causa, indo desde os 25 aos 90%. O surto em curso tem vitimado aproximadamente metade dos indivíduos infectados. O que justificou a utilização de um medicamento ainda não testado em humanos, uma vez que até agora, não existe nenhuma vacina ou tratamento aprovado para a doença. Ou seja, estamos, neste momento a efetuar, em pleno surto, um “ensaio clínico” submetido a escrutínio público para determinar a eficácia de um medicamento – tarefa de muito difícil execução, uma vez que ao contrário dos habituais ensaios clínicos a medicamentos, as circunstâncias em que decorre a sua administração e utilização são tudo menos perfeitamente controladas. A única coisa que se poderá afirmar então, até ao momento, é que o medicamento não é 100% eficaz. Ora, muito poucos medicamentos são. Aqui a questão será a de se saber se efetivamente aumenta a taxa de sobrevivência.

Entretanto, sabe-se que o Canadá enviou cerca de 1.000 doses de um medicamento também experimental desenvolvido por laboratórios de investigação governamentais. Apesar de ter sido testado em animais, com resultados promissores, também nunca foi testado em humanos.
Por fim, terceiro, parece que não é por sabermos, com rigor, como se transmite o vírus que conseguimos conter as infeções. Nos países envolvidos, mais de 240 profissionais de saúde já foram diagnosticados com Ébola, dos quais mais de 120 vieram a falecer. Sabendo que o vírus só se transmite através de contacto direto com secreções corporais dos indivíduos (ou animais) infetados ou com os corpos das vítimas, e que o seu período de incubação (desde a infecção até ao aparecimento de sintomas) é de aproximadamente 21 dias, porque é que mesmo os profissionais de saúde não implementam medidas de proteção mais eficazes? 

A OMS já emitiu um comunicado sobre esta matéria, onde se afirma que existem vários factores que explicam uma tão elevada proporção de profissionais infectados, tais como: a falta de equipamento de proteção pessoal ou o seu uso incorreto; poucos profissionais de saúde para um surto de tão grandes proporções; e, de forma muito significativa, a compaixão que faz com que estes profissionais trabalhem nas enfermarias de isolamento, sob condições longe de ideais, muito para além das horas recomendadas como seguras. 

São três motivos de preocupação... mas também são razões para se apelar a um maior envolvimento internacional, uma vez que a ajuda, nas palavras de David Nabarro, coordenador da resposta local por parte das Nações Unidas, é “desesperadamente necessária”. 

Mas não é somente necessária agora. Este surto coloca a nu as carências de uma região onde os recursos, de todas as ordens, são escassos. Chama também a atenção da comunidade internacional, nem que seja porque esta não pode acreditar que permanecerá sempre imaculada, uma vez que, para todos os efeitos, vivemos numa aldeia global. 

Os riscos podem ser diferentes por todo o globo, mas não há risco “zero”. A nossa Direção-Geral da Saúde sabe-o e está atenta. Temos muitas razões para nos sentirmos seguros... mas todos motivos para nos mantermos alerta e, dentro das nossas capacidades e competências, ajudarmos aqueles que mais precisam… 

Farmacêutica


IN "i"
28/08/14

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