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Gémeos digitais:
a informação
e o instrumento
Podem ser usados para testar políticas, ações de planeamento, regras de segurança, e tantas outras funcionalidades que podemos dizer ter potencial quase ilimitado.
Os gémeos digitais são reconhecidos no mundo científico como o futuro dos modelos urbanos integrados de escala ampla. São modelos computacionais dinâmicos que reproduzem com rigor o original que focam, permitindo a fusão de vários vetores de conhecimento e fluxos de dados, o que constitui um elemento fundamental do planeamento integrado e inclusivo. Permitem por isso simular a dinâmica de bairros, cidades, ou regiões, ou mesmo países, desde que para isso se disponha dos dados essenciais que caracterizam o comportamento dos diferentes agentes económicos e sociais existentes na realidade. Dai a designação de gémeos, na prática é a reprodução de algo, com a possibilidade de aperfeiçoar. Podem ser usados para testar políticas, ações de planeamento, regras de segurança, e tantas outras funcionalidades que podemos dizer ter potencial quase ilimitado. Na verdade, é sobretudo limitado pela capacidade de processamento que permite, ou não, ser um apoio à decisão com respostas em tempo útil para o que o decisor de hoje necessita.
O investimento em tecnologias e equipamentos permite aos investigadores, e aos decisores, realizarem análises mais complexas, por integração de dados e desenvolvimento de algoritmos que caracterizam os metabolismos existentes no mundo real, que nos permitem associar os consumos de materiais, a geração de emissões, a estimativa de impactos económicos e sociais, e tantas outras informações que hoje consideramos essenciais para projetar o futuro das nossas cidades e territórios. Estas novas tecnologias, têm evidenciado o benefício das parceiras entre investigação científica e decisores no chamado mundo real, com enorme valor acrescentado para ambos. Não há dúvida que o resultante desenvolvimento tecnológico tem melhorado de forma exponencial a nossa qualidade de vida, mas sempre na dependência de um elemento critico: os dados. Sempre os dados, quanto mais dados, mais informação de qualidade, e mais possibilidades de desenvolvimento e de fortalecimento das nossas sociedades. Sem os dados o instrumento tecnológico torna-se impotente e deixa de ter valor acrescentado.
Mas ao longo dos tempos nossa sociedade foi permitindo que os dados fossem um fator de exclusão, uma espécie de “novo ouro” ao qual nem todos têm acesso, e que dá um poder ilusório a quem lhes tem acesso. Há cerca de uma década emergiu o conceito de dados abertos, amplamente aplaudido, porém implementado ainda com bastante timidez, nem sempre se reconhece a necessidade de investir também na recolha de dados de forma sistemática, para permitir análise de séries e projeção de tendências. A informação parcial ou incorreta é perniciosa, pode conduzir a erros de análise e mesmo de diagnóstico das causas associadas a cada problema. São inúmeros os estudos que confirmam a interação colaborativa entre redes de informação como um dos principais fatores de desenvolvimento e fortalecimento das sociedades.
Informação de qualidade é um requisito fundamental para decisão de qualidade. Já temos a tecnologia disponível, se tivermos também os dados, poderemos dar um salto qualitativo na qualidade das nossas políticas e, em geral, da decisão pública.
* Professora do Instituto Superior Técnico
IN "iN"-22/04/25 .