08/07/2016

UMA GRAÇA PARA O FIM DO DIA

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35.O QUE NÓS
  
"APRENDEMOS"!


CICLISMO


* Depois de mais de três dezenas de modalidades olímpicas explicadas em vídeo, é altura de aprendermos regras de outros jogos que o "olimpismo" não consagra.

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10-De onde nasceu


o Dinheiro?




* Estamos num mundo onde 1% da população mundial detém mais de 40% da riqueza, o dinheiro é a mais tenebrosa das religiões!

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HOJE NO   
"DIÁRIO ECONÓMICO"

Suécia: 
Primeira auto-estrada eléctrica 
para camiões

Após vários anos de pesquisa e desenvolvimento da tecnologia, a Suécia instalou cerca de dois quilómetros de cabos eléctricos na faixa mais lenta de uma das suas principais auto-estradas para proporcionar alternativa de combustível aos veículos pesados.

A iniciativa integra-se numa estratégia mais alargada de tornar o país livre de veículos alimentados a combustíveis fósseis até 2020 e, de acordo com Magnus Ernström, um dos responsáveis pelo projecto, desenvolvido com o apoio da Siemens, na região de Gävleborg.
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Em declarações à "Sverige Radio", o responsável considerou fundamental este projecto, uma vez que "muitas mercadorias são transportadas por esta via, uma vez que a linha de caminho de ferro que segue nessa direcção já está superlotada".

Um estudo sobre o assunto está em marcha na cidade de Sandviken - se tudo correr bem em termos financeiros, Ernström espera alargar o número de cabos eléctricos a cerca de 200 quilómetros desde a cidade costeira de Gävle até à industrial Borlänge.

* Importa ter também viabilidade económica, embora proteger o ambiente seja primordial.

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9-NAICA


A Caverna dos Cristais 


ÚLTIMO EPISÓDIO

* As nossas séries por episódios são editadas no mesmo dia da semana à mesma hora, assim torna-se fácil se quiser visionar episódios anteriores.

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HOJE NO  
"CORREIO DA MANHÃ"
Estado dá milhões 
sem controlo aos colégios 

Finanças arrasam subsídios milionários a colégios privados.  

O Ministério da Educação (ME) atribuiu 451 milhões de euros, em 2013 e 2014, aos estabelecimentos de ensino particular e cooperativo, revela o relatório de atividades de 2015 da Inspeção-Geral de Finanças (IGF). 
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Este organismo critica o Estado por não verificar se as verbas são bem aplicadas nem confirmar os rendimentos das famílias apoiadas. "Em regra, não são efetuadas diligências para confirmar a real situação socioeconómica do agregado", refere a IGF, considerando que o "ME não dispõe de um plano estratégico enquadrador" nem de "indicadores de aferição do impacto na sociedade, o que não permite avaliar cabalmente a eficiência e eficácia da utilização destes dinheiros". O problema da não verificação da real situação económica das famílias diz respeito aos contratos simples e de desenvolvimento, no 1 º Ciclo e Pré-Escolar, nos quais o Estado gasta 25 milhões de euros por ano para apoiar 30 mil alunos. 

Estes apoios, de cerca de 800 euros anuais, variam consoante o IRS e destinam-se a famílias carenciadas. Mas o apoio não chega para pagar as mensalidades nos colégios, e não se percebe como é que as famílias pagam a diferença. 

Tudo indica que o apoio esteja a ser dirigido a famílias com poder económico mas IRS reduzido. O ME diz que "tudo fará" no sentido de haver "mais rigor" na "utilização de fundos públicos". 

* Esta notícia é verdadeira, o escândalo mantém-se, não admira que Crato seja testemunha do folclore amarelo.

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O QUE PENSAM AS CRIANÇAS

SOBRE AS RELIGIÕES



FONTE: BEST OF WEB


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HOJE NO 
"OBSERVADOR"

A falsa seita que 
abusava de crianças em Palmela

Um falso psicólogo criou um falso local de culto para uma falsa seita religiosa. Pedro, de 34 anos, era tratado por "mestre". Na realidade, abusava de crianças e vendia os seus serviços a pedófilos. 

Da estrada vê-se apenas a casa principal da herdade, em Brejos do Assa, Palmela. Nada que dê indicação do que se passava lá dentro. Um falso local de culto, de uma falsa seita religiosa, inventada por um falso psicólogo. E assim Pedro, de 34 anos, abusou de várias crianças e criou um negócio de pedofilia.

Foi preciso percorrer o caminho de terra para a Polícia Judiciária encontrar inscrito numa árvore o nome “Javeh” e um crucifixo. À volta, umas cadeiras, onde seriam feitas as supostas cerimónias religiosas. E depois, entre paredes, o choque: havia colchões espalhados por todo o lado e documentos com as regras da organização. Os miúdos passavam por uma cerimónia semelhante ao batismo, mas o grande objetivo “não era chegar ao céu”. Era ser purificado.
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Havia vários graus de purificação, todos eles através de atos sexuais com os menores. “Sexo anal era o topo. Seguiam-se diferentes tipos de abusos: carícias, masturbação, sexo com penetração”, diz uma fonte da PJ. Os purificadores? Os predadores sexuais.

Pedro sabia que podia fazer dinheiro. Bissexual assumido, ele próprio abusava dos menores. Criando cenários para lhes tirar fotografias, acariciando-os. Foram essas imagens, assim como as descrições físicas de cada um dos meninos que usou numa série de sites destinados a encontros gay — onde passava horas e acabaria por encontrar vários homens que andavam, afinal, à procura de crianças.”Ele percebeu que havia homens com preferências específicas por crianças e começou a vender-lhe os serviços”, diz fonte da investigação.

Para camuflar o esquema, Pedro, utilizando os seus conhecimentos enquanto Testemunha de Jeová, criou uma seita a que chamou “Verdade Celestial”. Segundo a PJ, elaborou um conjunto de regras, com categorias hierárquicas, e alegava ser ele o “mestre” — que por sua vez respondia a um mestre espanhol, de nome Pablo. No Facebook, criava vários perfis para sustentar a mentira.

Pedro dava consultas de psicologia e explicações às crianças e aproveitava-se do facto de elas por vezes passarem a noite na quinta para trazer os clientes pedófilos até lá. Enquanto as crianças dormiam, eram sujeitas a abusos sexuais vários. Sempre sozinhas, para que os crimes não fossem testemunhados por outras crianças. E sempre sob o pretexto da purificação. “Chegou a cobrar 30, 60 euros pelos serviços. Havia homens que acabavam a dormir lá, outros iam embora” depois dos abusos, conta a PJ.

Entre os múltiplos contactos que fez pela internet, e cujas conversas foram recuperadas pela Polícia Judiciária, há diálogos “inacreditáveis”. “Nalguns ele descreve os próprios filhos. Noutros, há homens a sugerirem que tenham filhos para se servirem deles”, conta a PJ.

Na casa que a PJ visitou, em junho de 2015, numa operação montada em apenas duas semanas, viviam Pedro, a mulher e os dois filhos, um amigo que servia de “motorista” da organização e o filho deste, também menor. Era o motorista quem ia buscar e levar os miúdos a casa dos pais.

A certa altura, nos contactos pela internet, Pedro conheceu também um casal de raparigas com cerca de 20 anos que tinham fugido da casa dos pais, em Aveiro, porque eles não aceitaram a sua homossexualidade. “Foram para lá viver, tomavam conta das crianças, mas tinham práticas sexuais à frente delas. Uma vez terão mostrado como se usa um vibrador”, diz a PJ. “Lembro-me de a mulher do Pedro andar sempre acompanhada de duas miúdas muito loiras. Dizia que eram amigas dela. Às vezes eram elas que iam buscar as crianças à escola”, diz uma testemunha.

Certo dia, chegou um oitavo habitante à casa: um rapaz que acabara o curso superior e que também tinha assumido a sua homossexualidade. Os pais não o aceitaram e sentia-se “perdido”. Todos eles contribuíam de alguma forma para a falsa seita, acreditando que Pedro tinha “superpoderes”.

“Ninguém queria acreditar na história” 
Foi esse rapaz, recém-licenciado, que acabou por denunciar tudo à PJ. Um dia, chateado com Pedro, disse-lhe que ia abandonar a organização. O mestre respondeu-lhe que, se o fizesse, corria sérios riscos de vida. Alegou que havia elementos da PSP e da GNR na organização e que esta tinha dimensões internacionais. Chegou mesmo a castigá-lo, obrigando-o a despir-se e vergastando-o com ramos de árvores.
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O rapaz fugiu e, cheio de medo, foi bater à porta da Polícia Judiciária de Setúbal. “Ninguém queria acreditar na história que estava a contar”, diz a fonte. “Era tão inacreditável que tivemos dificuldade em considerar o caso credível”, sublinha. Mas, como a história envolvia crianças, era preciso atuar. “É um case study. Não é normal em Portugal, parece inacreditável. Passa-se ao lado da nossa casa”, diz a PJ.

Em duas semanas, a PJ conseguiu reunir vários peritos e obter mandados de busca e detenção para junho de 2015. “Nesse dia havia polícia por todo o lado”, recorda a vizinha. Foram recolhidos computadores, vestígios de sémen, papéis com regras e todas as provas que pudessem confirmar a história da testemunha que fugiu da seita. Seguiram-se horas de interrogatórios, de identificações das crianças, de cruzamento de provas — que incluíam chats na internet, vídeos, fotografias feitas na casa.

A PJ conseguiu identificar oito vítimas, entre elas os filhos de Pedro e do seu motorista. “O filho do ‘psicólogo’ era uma criança muito calada. Fazia tudo o que lhe diziam e passava o dia sem ir à casa de banho. Ele recusava ir a passeios da escola por causa disso”, conta a funcionária da escola.

Pedro alegou também ser vítima 
Assim que a PJ lhe entrou em casa, Pedro descaiu-se. Disse que já estava à espera de ser detido um dia. Mas depois, já nas instalações da PJ, viria a tornar-se um suspeito difícil de interrogar. Com contradições e omissões. Até que, com persistência da polícia, acabou por confessar. Alegou ter sido abusado em criança, à frente dos pais, pensando assim que a sua culpa seria atenuada.

No seu passado, apurou a PJ, não havia cadastro. Mas a mulher dele admitiu ter-lhe satisfeito alguns fetiches sexuais, como fazer sexo com outros homens enquanto ele filmava. Por outro lado, ele próprio já tinha deixado um pedófilo ir a sua casa e acariciar o seu filho. Um ato que também filmou e com o qual chegou a lucrar. “Foram encontradas no computador inúmeras imagens dele próprio e de pornografia infantil. Fotografava os miúdos na piscina insuflável, de cuecas, afastava as cuecas das crianças e mostrava isso tudo a pedófilos”, diz a PJ.

Com ele foram detidos quatro outros homens, os “purificadores” da seita: o recém-licenciado; um homem com o curso de Direito que se fazia passar por advogado; o motorista; e um amigo, que namorava com a filha dos donos da quinta. Os primeiros três ficaram em prisão preventiva. Há ainda um quinto arguido, que, quando a PJ agiu, já se encontrava preso preventivamente à ordem de outro processo — também por abuso sexual de menores. A mulher de Pedro e as duas raparigas de Aveiro foram detidas, mas encontram-se em liberdade. “A mulher do mestre tem uma atitude demasiado passiva, tem algum instinto protetor em relação ao mais velho, mas assistia impávida e serena. Compactuou”, diz a PJ.

Como Pedro chegou à terra e ficou conhecido por “psicólogo” 
A dona de um café em Brejos do Assa, Palmela, que não quer ser identificada, lembra-se bem da primeira vez que viu Pedro. Chegou ao café acompanhado da mulher e dos dois filhos pequenos. Foi a mulher dele quem os apresentou, através de uns cartões de visita que o identificavam como “psicólogo”. E foi assim que Pedro ficou conhecido pela vizinhança. Até ao dia em que a PJ irrompeu na casa onde viviam e desmantelou a falsa seita religiosa. Um ano depois, com cinco homens e três mulheres arguidos no processo, o caso continua a gerar perplexidade.

Pedro e a mulher terão chegado à freguesia em 2013. Quem os conheceu diz que pareciam “pessoas pobres”. Pensavam que tinham vindo do Norte, com os dois filhos então de dois e sete anos. Mas, segundo disse fonte da PJ ao Observador, Pedro veio de perto. Antes vivera em casa de uma irmã no bairro de Monte Belo, em Setúbal, onde trabalhou como rececionista. E a mulher era do Pinhal Novo.

O casal não teve dificuldades em integrar-se. Pedro tinha experiência como treinador de futebol e conseguiu um lugar no Clube Desportivo de Algeruz, a treinar os Ferinhas. Ia mantendo contacto com os rapazes menores. Aos pais, entregava cartões e apresentava a sua especialidade: psicologia. “Cheguei a levar lá o meu filho, ele fez um relatório médico e eu entreguei-o à psicóloga da escola. Nunca ninguém estranhou”, disse uma residente ao Observador.

Os relatórios feitos pelos psicólogos da PJ mostram que é um “burlão manipulador, mentiroso, convincente naquilo que diz”. Pedro conseguia argumentar e convencer as pessoas sem sequer as confrontar. Sabia levá-las. E foi assim que se integrou na freguesia e depressa conseguiu um conjunto de clientes. Todos menores.

Manuel ainda se lembra de quando ele chegou. Um vizinho perguntara à sua mulher, entretanto falecida, se ela não teria um espaço para o “senhor psicólogo alugar para dar consultas”. Ela tinha um anexo: uma sala, uma pequena cozinha e uma casa de banho. Pedro aceitou e pagou-lhe 150 euros. Ainda chegou a pintar as paredes, mas acabou por nunca habitar ali, em Algeruz. A mulher de Manuel acabou por devolver-lhe o dinheiro. “Via-se que eram pessoas pobres”, argumenta.

Foi num anexo numa quinta em Brejos do Assa que Pedro e a família acabaram por ficar. Com eles um amigo, da mesma idade, que também tinha um filho de oito anos. Com os contactos feitos através dos treinos de futebol com os pais das crianças, Pedro começou a dar consultas de Psicologia. Diz a PJ que por apenas cinco euros. Paralelamente, dava explicações. “Lembro-me de ele vir cá distribuir panfletos para divulgar as explicações que dava. Mal soube que tinha sido preso deitei tudo fora”, conta ao Observador uma funcionária da escola primária, frequentada pelo filho de Pedro.

Montou o seu negócio e acabou por deixar os treinos de futebol. Da estrada, é impossível ver todo o espaço ocupado por Pedro, localizado no centro de uma enorme quinta com árvores de fruto e rodeada de videiras. Cá fora, os moradores pensavam tratar-se um verdadeiro ATL. Havia consultas de psicologia, explicações e atividades. Os miúdos gostavam de ir para lá. E os pais até chegaram a ser convidados para festas e sessões de karaoke. Sem suspeitas. “Ao fim de semana ouvia-se sempre música. Às vezes até muito tarde”, conta ao Observador uma vizinha, que chegou a pensar deixar lá o neto no verão — a PJ chegou antes para prender Pedro.

A acusação aos cinco homens e três mulheres por parte do Ministério Público ficou concluída em junho deste ano, doze meses após a detenção. O procurador pediu que os arguidos perdessem as responsabilidades parentais. Os filhos de Pedro encontram-se à guarda da mulher dele, que está em liberdade.

A Comissão de Proteção de Menores e Jovens em Risco está a avaliar o caso. Além dos filhos dos arguidos, vai avaliar se as crianças que foram vítimas dos abusos se encontram seguras com quem vivem. “Como é que os pais nunca suspeitaram, olhando para as condições daquela casa?”, interroga a PJ. E deixa o aviso: “Que este caso sirva de prevenção. Estas coisas podem acontecer mesmo ao lado e ninguém dá por elas”.

* Uma história real tenebrosa,  tenebroso devia ser o  castigo para este bandido. 
Não esqueça, ao longo  da história mais de 90% das guerras têm  como origem conflitos gerados por religiões, em nome de Deus assassina-se.

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MARIA JOÃO MARQUES

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Grupo de lesados da grande 
literatura masculina

Em boa verdade, as mulheres, se fossem inteligentes, tratariam de imitar as figuras femininas idealizadas pela literatura masculina. Esta mania de decidirmos por nós como somos será a nossa perdição.

Queria escrever sobre a mais recente polémica com o Facebook: empresa tão moderna, tão hipster, tão tecnológica, tão universo-aos-nossos-pés que não deixa as senhoras que lá trabalham vestirem-se de forma sexy. A propósito disso fui reler as notícias de Tim Hunt, o Nobel que acha uma maçada as mulheres cientistas: que os cientistas e as cientistas apaixonam-se e as mulheres choram quando são criticadas. Aqui, apanhei a verborreia de V.S. Naipaul sobre mulheres escritoras, vi tudo encarnado e decidi alargar o arco deste texto.

A saber: a mania que alguns egos masculinos têm de que a forma de agir, de trabalhar, de pensar, de escrever, de o que quer que seja masculina é a forma correta, o padrão, a ordem natural do mundo funcionar. E que a maneira feminina – e sim, eu voto sempre na existência de diferenças entre os sexos e nunca na igualdade intrínseca entre os xy e as xx (o que é muito diferente de assumir que há papeis, profissões, talentos predeterminados para cada sexo) – é um desvio à norma, fruto de emoções desordenadas e irracionalidades várias, sobretudo algo que as mulheres têm de corrigir se querem ser levadas a sério pelos guardiães da seriedade (também conhecidos como elementos do sexo masculino).

Este padrão masculino vai ao ponto das alucinações de Naipaul: a maneira de escrever certa e com qualidade é a masculina. O curioso é que este tipo de opiniões é levado a sério ou, pelo menos, reproduzido sem ser em tom de escárnio em jornais decentes. Quando merecia a zombaria que oferecemos a sugestões estrambólicas como a de retirar dos cursos de literatura as obras dos escritores masculinos, brancos e das potências colonizadoras. Os maluquinhos esquerdistas americanos querem extirpar os cursos de Shakespeare e Chaucer. Naipaul, porventura com o ego insuflado de que padecem os temperamentos artísticos e políticos, como  bem ilustrou Paulo Tunhas, opina que a escrita de Jane Austen ou das Brontë ou de George Eliot é ‘unequal to him’ (vá, vamos todos desmaiar ao mesmo tempo de comoção pelo tamanho do talento másculo de Naipaul).

Eu percebo que um homem goste mais do estilo literário de outro homem. Eu, (não) por acaso, tendo a apreciar mais a escrita feminina. Venero Thackeray e Evelyn Waugh e P.G. Wodehouse e Somerset Maugham, ando atrás de Julian Barnes e Peter Carey e disputo quem quer que diga que em Portugal há quem escreva melhor que o Bruno Vieira Amaral (que até sobre futebol é bom de ler). Mas, e estou pronta a constituir uma claque literária feminina, pegando por exemplo nos colegas nobelizados de Naipaul, os meus Nobel da literatura preferidos são Alice Munro e Doris Lessing. Munro – além de um talento para juntar umas palavras às outras que Naipaul invejaria se tivesse juízo – tem uma escrita, pela forma e pelos temas, que nunca viria de um homem. E o machismo da gente esclarecida dos movimentos comunistas anticoloniais que é descrito por Lessing dificilmente seria relatado no masculino.

O que V.S. Naipaul diz – sonsamente – é que o ponto de vista feminino só tem lugar na grande literatura se for apresentado (e distorcido) por um homem. Em boa verdade, as mulheres, se fossem inteligentes, tratariam de imitar as figuras femininas idealizadas pela literatura masculina. Esta mania de decidirmos por nós como somos, em vez de aceitar a recomendação masculina, será a nossa perdição.

O pior é que o padrão masculino não se fica pela literatura. Na empresa Facebook, segundo o folclore, as indumentárias são informais e os homens trabalham de calções e t-shirt. É o melhor dos mundos: os homens estão cómodos e as mulheres – como vários escritores masculinos já asseveraram – são seres assexuados incapazes de perderem uns minutos dos seus dias a escrutinar um agradável par de pernas do sexo oposto visíveis debaixo de uns calções. Já os homens, pobres almas, têm de ser protegidos deles próprios e das distrações causadas pelas minissaias e decotes femininos. Como os homens são impetuosos e não se conseguem conter – os escritores masculinos (e os extremistas islâmicos também) garantem que sim – têm de mudar as mulheres para acomodar o mundo às necessidades masculinas.

Nos laboratórios de investigação, como Tim Hunt escancarou, os contributos das mulheres são vistos (pelos ‘porcos chauvinistas’, como orgulhosamente se apresentou) como menores que os constrangimentos que a interação entre os sexos causa ao trabalho dos verdadeiros cientistas: os xy.

Acho também piada ao mito do choro feminino. É ver nas redes sociais e na comunicação social como as mulheres são imensamente mais criticadas e insultadas pelos valentes que se escondem atrás do teclado do computador; e como somos inundadas de lixo sexista constantemente. Nunca dei por ataques de choro. Já tantos homens – como Tim Hunt – quando levam como resposta a liberdade de expressão daquelas que, fazendo uso dessa mesma liberdade de expressão, ofenderam, correm a vitimizar-se e a dizerem-se mártires do feminismo fundamentalista e do politicamente correto.

E, por fim, vemos o mesmo na política. Hillary Clinton. Péssima política, deve a carreira ao marido – é proibido dizer o contrário. E com essa característica imperdoável numa mulher decente: é ambiciosa. O desejo de poder e de dinheiro está, com abundante ‘grande’ literatura masculina a argumentar para este lado, reservado aos homens e às pérfidas vamps dos romances oitocentistas.

Não interessa nada que muitos herdeiros políticos tenham falhado – Ted Kennedy, Jeb Bush,… –, que as vitórias tenham sido engendradas pela própria e que os escândalos sexuais de Bill Clinton sejam um flanco fácil de atacar. Hillary é mulher, faz discursos que são o cúmulo da sanidade numa campanha de candidatos que parecem alimentados a alucinogénios, pelo que é péssima. Já um trauliteiro com expressão verbal sub-humana, que se vê como o principal tema das eleições presidenciais (e do universo), nos discursos passa três quartos do tempo a referir as audiências que trouxe aos programas onde participa e a insultar os jornalistas que o criticaram – esse, bem, é um génio político que vai revolucionar a política mundial.

Descansem em paz, neurónios.

IN "OBSERVADOR"
06/07/16

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922.UNIÃO


EUROPEIA



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HOJE NO 
 "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
Crato é testemunha dos colégios 
privados contra o ministério

Ex-ministro confirma ao DN que irá depor. Escolas privadas acreditam que ficará esclarecida intenção dos contratos a três anos

O ex-ministro da Educação, Nuno Crato, vai ser o principal trunfo dos colégios privados nas ações que vão colocar em tribunal contra os cortes nos contratos de associação. A indicação do antigo governante para os processos que, por estes dias, estão a dar entrada na justiça, foi adiantada ao DN por Manuel Bento, representante das escolas privadas no Movimento em Defesa da Escola Ponto. E confirmada pelo próprio Crato.
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"A AEEP [Associação de Estabelecimentos do Ensino particular e Cooperativo) avisou-me de que me ia arrolar como testemunha. É um direito deles e eu colaborarei com a justiça e responderei a todas as perguntas do juiz", disse Nuno Crato ao DN.

O ex-ministro não quis adiantar pormenores sobre o que irá responder aos tribunais. Mas Manuel Bento - que revelou ainda que será também chamado a depor o antigo secretário de Estado do Ensino e da Administração Escolar, João Casanova de Almeida-, não tem dúvidas de estes irão "confirmar" a tese que os colégios têm defendido. Ou seja: que os contratos assinados em 2015 previam a abertura de um mesmo número de turmas de 5.º, 7.º e 10.º ano de escolaridade durante três anos e não apenas, como defende o ministério, a continuidade destes alunos até ao final dos respetivos ciclos.

"[Ambos] já afirmaram, ao longo destes meses, quando lhes foi questionado - nomeadamente por jornalistas - , que os contratos eram para três anos em inícios de ciclo.", lembra. "Irão confirmar aquilo que todos sabemos", acrescentou.

Em causa estão dezenas de ações - a AEEP confirmou na segunda- feira ao DN que, "nas próximas duas semanas", darão entrada nos tribunais duas dezenas de ações por "incumprimento contratual". Mas Manuel Bento explicou que Nuno Crato não terá de se desdobrar em deslocações. Casanova de Almeida - que disse ao DN ainda não ter sido contactado - também deverá ser dispensado da presença física nos tribunais.

"Um ex-governante não precisa de ir a tribunal. Basta que as questões lhes sejam postas e irão responder por escrito", lembra o responsável do Movimento em Defesa da Escola Ponto. De resto, Nuno Crato nem sequer está em Portugal. "Está em Milão, em licença sabática. Foi necessário arranjar em Portugal uma morada onde ele recebe as notificações."

O ex-primeiro ministro, Pedro Passos Coelho, também já assumiu claramente a visão dos colégios nesta questão. Nomeadamente quando, em maio, acusou o atual governo de estar a colocar o Estado na situação de "pôr em causa as próprias decisões que tomou em concurso público", considerando "muito possível" que a questão acabasse nos tribunais.

Mas Manuel Bento adianta que o líder social-democrata não será chamado a depor nas ações em que será contestado o corte de cerca de 300 turmas de início de ciclo. "Não foi contactado porque não estamos a partidarizar este assunto. É evidente que há partidos que nos apoiam e outros que não mas, para nós, esta é uma questão de justiça. O ex-ministro [ da Educação] já não é político .

Primeira sentença favorável
Entretanto, os colégios registaram ontem uma primeira vitória na guerra judicial com o ministério, com o Tribunal Administrativo e Fiscal de Braga a decretar a "suspensão preventiva" da eficácia do despacho 1H, da secretária de Estado Alexandra Leitão, relativo às matrículas.

A ação em causa - uma entre cerca de duas dezenas - não incidia sobre o corte de turmas, como recordou o Ministério da Educação numa resposta enviada aos jornalistas. O alvo era a decisão de impedir que os colégios com contrato inscrevessem alunos residentes em freguesias diferentes daquelas onde estão registados.

"Em mais de 20 providências, apenas uma foi decretada provisoriamente, sendo todos os outros pedidos de decretamento provisório - quando foram efetuados - recusados pelos Tribunais", afirmou o ministério, recordando ainda que a suspensão só tem impacto no colégio que interpôs a ação.
Mas os representantes dos colégios, tanto o movimento como a AEEP, garantem desconhecer qualquer decisão desfavorável. "[A afirmação do ministério] não corresponde à verdade", afirma Manuel Bento, segundo o qual esta é "a primeira ação" em que o tribunal se pronuncia a favor ou contra a suspensão do despacho. "O que nós acreditamos é que basta haver três decisões destas para fazer lei. Todas as que foram interpostas foram aceites e esta é a primeira em que sai uma primeira decisão".

* Nuno Crato contra Portugal, não é surpresa, não se cansa de prejudicar o país.

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3-PROJECTO VÉNUS
 2016
A ESCOLHA É NOSSA



As nossas séries por episódios são editadas no mesmo dia da semana à mesma hora, assim torna-se fácil se quiser visionar episódios anteriores.


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7.A GUERRA DA
DEMOCRACIA


DENÚNCIA DE COMO SOB A MÁSCARA DA DEMOCRACIA SE EXERCE A ESCRAVATURA MODERNA

* Na nossa procura sobre o tema, só encontrámos esta série subtitulada em espanhol.

* As nossas séries por episódios são editadas no mesmo dia da semana à mesma hora, assim torna-se fácil se quiser visionar episódios anteriores.

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HOJE NO
"RECORD".

Tamila Holub campeã europeia 
dos 1.500 metros livres

A nadadora portuguesa Tamila Holub sagrou-se esta sexta-feira campeã europeia júnior dos 1.500 metros livres, ao vencer a prova dos campeonatos que estão a decorrer em Hódmezovásárhely, Hungria.
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De acordo com nota da Federação Portuguesa de Natação, Holub dominou a prova por larga margem, assumindo a liderança desde o início, tendo terminado com o tempo de 16.20,80 minutos, novo recorde nacional por 18 segundos. A anterior marca (16.38,60) já lhe pertencia e tinha sido estabelecida em 14 de maio último, em Gijon (Espanha).

Na segunda posição terminou a alemã Celin Rieder (16.25,03), enquanto a terceira foi a italiana Sveva Schiazzano (16.26,16).

"Parece um sonho. Treinámos tanto durante todo o ano para chegar a um bom nível, mas nunca pensei chegar ao título europeu", afirmou a nadadora logo após a cerimónia do pódio.

Em relação à prova, a nadadora portuguesa de origem ucraniana disse: "Decidimos utilizar esta tática, sair forte logo nos primeiros metros. Sabia que era uma prova de risco, mas tinha de ser o tudo ou nada. Controlei a prova sempre, apesar de saber que as adversárias estavam a lutar pelo pódio e podiam recuperar na parte final."

O treinador Luís Cameira assumiu também o risco de uma tática para uma competição contra o tempo: "A Tamila estava muito confiante para esta prova. Sabíamos que tinha treinado para estar forte na segunda parte da competição. O difícil já tinha feito, que foi a prata nos 800 livres. Ela ainda não tinha nadado a distância na sua máxima forma, por isso este recorde de quase 18 segundos."

Para o técnico, Holub tem vindo a realizar uma "carreira consolidada", uma vez que já tinha sido nona classificada nos mundiais de Singapura e soma já 27 recordes de Portugal. "Tínhamos o sonho do pódio, mas não da medalha de ouro. Estamos felicíssimos", sublinhou.

A nadadora do Sporting de Braga foi há dois dias vice-campeã da Europa dos 800 livres. Na quinta-feira, bateu o recorde de Portugal de juniores dos 400 livres (4.16,77), no dia que viu confirmada, aos 17 anos, a sua presença nos Jogos Olímpicos do Rio2016.

A última portuguesa campeã europeia de juniores foi Diana Gomes nos 100 e 200 bruços em Budapeste2005.
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* Esta valente menina está imparável.

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 Rita Lee

Amor e sexo


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HOJE NO
"JORNAL DE NOTÍCIAS"

Marcelo explica porque 
pagou viagem num avião Falcon

O Presidente da República falou esta sexta-feira de "uma prática diferente" para justificar ter pago uma viagem a França num avião Falcon da Força Aérea, apesar de ter direito a essa viagem sem a pagar.

"O Presidente da República tinha esse direito, e ainda por cima repartido com o Governo", porque no mesmo avião, na quarta-feira para assistir ao jogo Portugal-País de Gales, viajaram dois membros do Governo e "eram dois órgãos de soberania a pagar", disse Marcelo Rebelo de Sousa quando questionado por jornalistas, no Palácio de Belém, em Lisboa.
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E justificou ter pago ele a viagem assim: "no entanto entendi, como sou um radical nessas matérias, mais papista do que o Papa, e decidi pagar".

Marcelo disse que não estava a abrir nenhum precedente, explicando que é uma "prática diferente" e que já aconteceu pagar do seu bolso almoços em Belém, que ainda que tenham sido de trabalho não foram oficiais.

A notícia de que Marcelo ia pagar do seu bolso a viagem de Falcon a Lyon, França, para assistir à meia-final do Euro 2016 (na quarta-feira), foi avançada esta sexta-feira na imprensa, depois de se saber que a viagem teria custado 14 mil euros, tendo o valor do combustível (só ele é contabilizado no caso de órgãos de soberania) rondado os seis mil euros, pelo que o custo por passageiro seria de 600 euros.

* Sempre fomos muito críticos do professor Rebelo de Sousa enquanto comentador político, não votámos nele para a Presidência, mas quanto a lisura financeira  é intocável,  aplaudimos e agradecemos.

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REENCONTRO


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HOJE NO 
"JORNAL DE NEGÓCIOS"

Durão Barroso: 
O peixe graúdo que 
a Goldman Sachs pescou

A Goldman Sachs contratou Durão Barroso para seu "chairman" e consultor. Durão Barroso tinha saído em 2014 da Comissão Europeia e andava dedicado à vida académica

Aos 60 anos, Durão - Barroso para os portugueses, José Manuel Barroso para o mundo e Zé Manel para os mais íntimos -, já escolheu o seu novo destino. Vai ser "chairman" do Goldman Sachs, e consultor do banco norte-americano para o Brexit.
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Durão Barroso entrou pela porta grande na instituição que está em litígio com o Banco de Portugal ainda por causa da resolução do Banco Espírito Santo. Tudo começou quando o regulador português decidiu, já depois da resolução, reenviar para o BES "mau" um crédito concedido pela Oak Finance, por considerar que esta entidade era indirectamente um dos accionistas qualificados em Agosto de 2014, aquando da resolução do BES.

O Banco de Portugal considerou "haver razões sérias e fundadas para considerar que a Oak Finance actuara, na concessão do empréstimo, por conta da Goldman Sachs International, e que esta entidade detivera uma participação superior a 2% do capital do BES". Por isso, retirou esse crédito ao Novo Banco e devolveu-o ao BES "mau".

O processo chegou a tribunal e está a ser julgado em Londres. A Oak Finance contesta que a instituição estava apenas a actuar em nome de clientes que não se queriam identificar. Segundo foi noticiado pelo Wall Street Journal, houve um "esforço conjunto" de vários grandes nomes do banco americano para conseguirem ganhar o negócio com o BES, entre eles José Luís Arnaut, consultor da Goldman Sachs, e o também português António Esteves, que na altura era um dos altos quadros do banco norte-americano de onde entretanto saiu.

Esse papel de Arnaut chegou a ser razão para o PS querer ouvi-lo na comissão de inquérito parlamentar ao BES/GES, mas o advogado acabou por ser dispensado. Tal, aliás, como Durão Barroso que chegou a constar da lista de personalidades a ouvir. Barroso era, na altura da resolução do BES, presidente da Comissão Europeia. Mas não tendo ido à comissão enviou umas respostas por escrito a propósito de ter recebido Ricardo Salgado em Maio de 2014, à data presidente do BES, num encontro onde este lhe revelou dificuldades do Grupo da família. Na resposta à comissão de inquérito, Durão Barroso confirmou a reunião, garantindo ter aconselhado Salgado "a entrar em contacto com as autoridades portuguesas até porque não via em que medida a Comissão poderia ter intervenção útil naquela questão".

Anos mais tarde, problemas com outro banco nacional. Apesar das várias questões colocadas sobre o papel da Comissão Europeia, nomeadamente da Direcção-geral da Concorrência, no desenvolvimento da capitalização do Banif (que culminou na resolução da instituição já em Dezembro de 2015), Durão Barroso acabou, também, por não ir à comissão de inquérito. Em entrevista ao Expresso, em Maio deste ano, afirmou que nem o regulador nem o Governo tinham feito "alertas especiais, pelo menos que eu me recorde, em relação à situação da banca. A Comissão, por exemplo, quando recebeu notícias do Banif, achou logo que aquilo era muito estranho". E o facto de Bruxelas ter recusado planos de reestruturação do Banif foi referido por Durão como a chamada de atenção da Comissão sobre os problemas. Quando o Banif acabou em resolução já Jean-Claude Juncker tinha substituído Durão Barroso na liderança da Comissão Europeia.

Não há mal em trabalhar no privado
Depois de sair de Bruxelas, Durão Barroso – que de 2004 a 2014 foi presidente da Comissão Europeia – esteve em actividade académica. Foi professor convidado de Política Económica Internacional e "fellow" na Universidade de Princeton – onde continuará a dar aulas esporadicamente, segundo disse recentemente ao Expresso -, assim como professor convidado na Universidade Católica, em Lisboa, na Universidade de Genebra, e no Instituto de Altos Estudos Internacionais e do Desenvolvimento, também naquela cidade suíça.

Em entrevista ao Expresso, em Maio, Durão Barroso assumiu que se manteria ligado à universidade, e que tinha recebido "algumas propostas interessantes do sector económico e empresarial". "É possível que aceite alguma coisa do ponto de vista não-executivo", admitiu. Trabalhar no privado depois dos mais altos cargos que teve, dizia, "é perfeitamente legítimo, desde que se evite qualquer problema de conflito de interesses. Razão pela qual quis deixar passar algum tempo antes de considerar qualquer ocupação desse género. Precisamente para marcar uma distância no tempo em relação a essa responsabilidade", justificava.

"A política", garantia "para mim hoje em dia, como actividade, é coisa do passado".
Agora junta-se à Goldman Sachs, banco que em várias ocasiões se tornou notícia por levar para os conselhos do banco altos dirigentes ou políticos. Mark Carney, governador do Banco de Inglaterra, ou Mario Draghi, presidente do BCE, são alguns dos nomes associados ao Goldman. Ou ainda Mario Monti, que foi comissário europeu e primeiro-ministro de Itália. Marc Roche, jornalista do Le Monde, colocou o dedo na ferida no livro "O banco – como o Goldman Sachs dirige o mundo".

Para este jornalista, segundo declarações à Lusa, a filosofia Goldman Sachs está presente na política europeia através de um grupo de "iluminados" que são simultaneamente "um grupo de pressão, uma associação de colheita de informações, uma rede de ajuda mútua eficaz, competente e treinada na instituição norte-americana", apesar de se saber muito pouco sobre o que andaram a fazer no Goldman Sachs os "tecnocratas" que actualmente são protagonistas na Europa. Agora, é a vez de Durão Barroso ir para a instituição. De Portugal, também passou pela instituição António Borges, já falecido, que viria a ser assessor da Parpública para as privatizações, no Governo de Passos Coelho.

É também de um clube considerado – no livro do jornalista do DN Rui Pedro Antunes - o "mais poderoso do mundo" que "influencia o destino da nação", que Durão Barroso passou a fazer parte. É o líder nacional do Clube de Bilderberg, em substituição de Francisco Pinto Balsemão. Sempre com ligações ao PSD, Durão Barroso foi, pela primeira vez este ano o líder nesse clube, tendo convidado a ir ao encontro Maria Luís Albuquerque, ex-ministra das Finanças e vice-presidente do PSD, e Fernando Medina, o autarca de Lisboa. Segundo uma investigação de Rui Pedro Antunes, os portugueses que já estiveram nestes encontros anuais acabaram por ascender ou já tinham desempenhado cargos governativos.

Assim aconteceu com Durão Barroso. Participou pela primeira em Bilderberg em 1994, quando era ministro dos Negócios Estrangeiros de Cavaco Silva, função que iniciou em 1992. Já antes tinha sido sub-secretário de Estado do Ministério dos Assuntos Internos, em 1985, quando a tutela era de Eurico de Melo. Ainda nos governos de Cavaco Silva foi secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação (1987-1991), com Deus Pinheiro como ministro, e foi nessa qualidade que ficou ligado aos acordos de Bicesse, em 1990, que resultaram num cessar fogo em Angola entre MPLA e Unita. Dois anos depois garantiu o cargo máximo da diplomacia nacional, na segunda maioria absoluta de Cavaco Silva. O seu antecessor, Deus Pinheiro, seguiria para Bruxelas para ser o segundo comissário português.

Durão Barroso liderou a pasta dos Negócios Estrangeiros até ao final do Governo de Cavaco Silva, em 1995. Candidatou-se depois à liderança do PSD, perdendo-a para Fernando Nogueira, num congresso cuja frase mais célebre acabou por ser a de Luís Filipe Menezes, referindo-se a Durão Barroso, a quem chamou de "sulista, elitista e liberal". E foi este "sulista" (Durão Barroso nasceu em Lisboa há 60 anos) que ao perder o partido ganhou novo alento na política. É que Fernando Nogueira perderia, nesse mesmo ano, as legislativas, levando ao fim do cavaquismo e permitindo um novo ciclo de governação socialista, com António Guterres ao leme.

A liderança do "cherne"
Durão Barroso aproveitou o momento. Foi para o Parlamento e aproveitou para se doutorar nos Estados Unidos, deixando, aliás, estes estudos como argumento para não disputar a liderança do partido. Até 1999. Sucede na liderança do PSD ao agora Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, sem ter tido luta. E perde as legislativas para Guterres, nesse mesmo ano, tendo-lhe sido atribuída a frase: "Tenho a certeza que serei primeiro-ministro, não sei é quando". Foi-o em 2002 e depois de reconfirmado à frente do PSD. A vitória das autárquicas dos sociais-democratas, ou antes a derrota dos socialistas, leva Guterres a demitir-se com o argumento de pretender evitar o "pântano político" e Jorge Sampaio, então Presidente, convoca eleições antecipadas.

Caminho aberto para Durão, primeiro-ministro, mas em coligação com o CDS de Paulo Portas. O "sonho" concretizava-se. Ficou dois anos. Saiu a meio do mandato para aceitar a presidência da Comissão Europeia em 2004. Deixou um vazio que Jorge Sampaio aceitou preencher com Santana Lopes, que assumiu a chefia do Executivo, mas por pouco tempo. O país voltaria a eleições em 2005, com o início da era Sócrates. E foi com o primeiro-ministro socialista ao leme que o Tratado de Lisboa seria assinado em 2007. Durão Barroso era presidente da Comissão Europeia. Os dois nomes ficarão para a história europeia e a célebre frase "Porreiro, pá!" dita por Sócrates a Barroso quando o acordo foi assinado.

Se Barroso diz que a vida política termina agora, ela iniciou-se, no entanto, muito antes das lides governativas. Tudo começou há mais de 40 anos. Antes mesmo do 25 de Abril, quando foi um dos líderes da FEM-L (Federação dos Estudantes Marxistas-Leninistas), do Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado (MRPP), de inspiração maoísta. Já depois do 25 de Abril foi expulso do MRPP. Só nos anos 80 aderiu ao PSD, a seguir à morte de Sá Carneiro.
Santana Lopes foi dos que antecipou grandes voos para Durão Barroso. Já subiu toda a hierarquia, mas ainda não se candidatou à Presidência, como muitos ainda antecipam. "Eu acredito que o sonho só é verdadeiramente sonho quando é grande", dizia, em 2002, em vésperas de eleições que levaram Barroso a chefe do Executivo, a sua mulher, Margarida de Sousa Uva, acrescentando que o seu marido tinha essa "imensa capacidade de sonhar".

E foi ao "vender o seu peixe" que Margarida de Sousa Uva acabaria, sem querer, por colar outro epíteto a Barroso: "De certa maneira foi ingrata a maneira de estar aqui a vender o meu peixe, mas o Zé Manel, se fosse peixe, era um cherne". Disse-o para citar o poema de Alexandre O’Neill: "sigamos o cherne". O poema, no entanto, segue dizendo: "Sigamos, pois, o cherne/ antes que venha/ Já morto, boiar ao lume de água".

Ainda não chegou a essa fase. Durão Barroso talvez olhe para o poema e prefira escolher a outra frase: "Desçamos ao fundo do desejo/Atrás de muito mais que a fantasia".

* Um "inginheiro" de tachos.

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