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.Cansados de blogs bem comportados feitos por gente simples, amante da natureza e blá,blá,blá, decidimos parir este blog do non sense.Excluíremos sempre a grosseria e a calúnia, o calão a preceito, o picante serão ingredientes da criatividade. O resto... é um regalo
10/11/2025
PEDRO AMARAL
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Os ciberataques
O meu ponto-provocação hoje é simples: não será o mundo da pós-verdade o maior dos ciberataques? A epidemia das fake news nas redes sociais não constituem um ataque à nossa democracia através de redes de informação informática?
A guerra é hoje quase omnipresente no nosso quotidiano, é raríssimo o dia que passamos sem qualquer menção a guerras, conflitos armados ou genocídios. A violência em larga escala através de estados ou grupos organizados normalizou-se. As nossas reações hoje são na sua maioria de indiferença ou mesmo de cinismo. Parece que há uma Terceira Grande Guerra às nossas portas e é tida como inevitável.
Há quem diga que já começou, que já vivemos num mundo movido a ódio e sangue, em que o nosso medo é justificado – um medo que vai da utilização da bomba atómica à arma branca no bairro. Pergunto-me a quem estas perceções podem dar jeito, sabendo desde já que são uma forma de normalização, de nos conformamos.
Há quem diga que a guerra é outra: os seus moldes são cibernéticos. Não são os drones o único meio bélico não-tripulado. A perturbação das redes informáticas pode afetar as nossas redes de distribuição de energia, a logística hospitalar, os centros de conhecimentos, a privacidade dos nossos dados,… Num mundo digitalizado, a guerra informática é uma possibilidade, cujas repercussões já vamos sentido no quotidiano se estivermos um pouco atentos – ou se pesquisarmos notícias.
Mas o que são ciberataques? No Glossário de Termos Militares do Instituto Universitário Militar não se define ciberataque, mas ciberespaço e ciberdefesa como «domínio global dentro do ambiente informacional que consiste na interdependência de redes e infraestruturas de tecnologia de informação, tais como a internet, redes de computadores, entre outros» e «implementação operacional da garantia de informação para assegurar a confidencialidade, integridade e disponibilidade dos meios de comunicação e sistemas de informação, em resposta a potenciais ameaças com origem no ciberespaço», respetivamente. A terminologia da NATO define um ciberataque como «um ato ou ação iniciado no ciberespaço ou através dele com o objetivo de causar efeitos prejudiciais» - numa tradução livre.
O meu ponto-provocação hoje é simples: não será o mundo da pós-verdade o maior dos ciberataques? A epidemia das fake news nas redes sociais não constituem um ataque à nossa democracia através de redes de informação informática? Não é ao cenário catastrófico do inverno nuclear que se assemelha o início da nossa autodestruição, até a ficção científica tem a necessidade de explicar as causas desses cenários, o seu início está sim no conquistar de uma hegemonia cultural que permita a sua execução. Ou seja, é preciso moldar a opinião pública para aceitar o inaceitável, para se conformar, mesmo perante aquilo que vê como negativo.
Pergunto-me se as redes sociais digitais associadas a grandes empresas como a Meta (Facebook e Instagram), X ou ByteDance (TikTok), como um todo, não podem ser vistas como um ciberataque: um vírus que nos afasta de uma internet democrática e nos submete a algoritmos que nos tratam como mercadoria, como um produto, ao mesmo tempo que promovem a nossa perda de pensamento crítica, radical, que reduzem o nosso intervalo de atenção, que nos colocam em bolhas, em câmaras de eco,…
É quando contemplamos o fim do mundo que a esperança é mais necessária. O fim do mundo tal como o conhecemos é a prova de que ele pode ser mudado, a esperança deve levar-nos a resistir para que em vez do apocalipse, tenhamos a utopia, em vez das crises que vivemos desembocarem em regimes opressores e violentos, devemos pensar radicalmente e construir as nossas comunidades assentes na liberdade, justiça e fraternidade.
* Natural da ilha de Santa Maria, estuda Filosofia no Porto. Membro da Comissão Coordenadora Regional dos Açores do Bloco de Esquerda.
IN "ESQUERDA" - 09/11/25.


