19/07/2009

MÁRIO CRESPO

Basta

Simultaneamente com a Comissão Parlamentar sobre o BPN decorreu em Washington o inquérito do Congresso às irregularidades de gestão das grandes empresas financeiras americanas que tinham levado à crise.

Logo aqui, a premissa de partida para as investigações americanas demarcou-se diametralmente da da Assembleia da República.

Em Portugal, assumiu-se que os problemas no BPN decorreram da crise. A actuação desregulada e criminosa dos gestores pode estar a custar aos contribuintes dois mil milhões de euros subtraídos a hospitais, lares e escolas, mas, pelo relatório do BPN, não contribuiu para as dificuldades financeiras do país, que seriam só culpa da crise internacional.

Numa das mais emblemáticas sessões da Comissão americana (18 Março, 2009) foi chamado a Washington Edward Liddy, o presidente do maior grupo segurador do Mundo, o American International Group. Em plena crise, a AIG tinha distribuído prémios aos seus quadros.
Stephen Lynch, congressista de Massachusetts, perguntou iradamente a Liddy se não "tinha vergonha na cara". Liddy respondeu que o estavam a ofender ao questioná-lo nesses termos. O parlamentar respondeu-lhe que a intenção era mesmo ofendê-lo, porque ele era o responsável por uma imensa ofensa ao património do povo americano.


Chegou a altura de nos inspirarmos na vitalidade da prática secular de democracia na América e dizer que os relatores do inquérito ao BPN não tiveram vergonha na cara.
E dizer mais: que a maneira brutal como as conclusões do relatório foram impostas, pela lei esmagadora dos números ainda que rejeitadas por toda a Oposição, constitui um claro alerta para os riscos que corre a democracia em Portugal.
É um sinal gritante ao eleitorado para não repetir o erro cometido há quatro anos e passar, finalmente, a utilizar o voto como arma rectificadora de um sistema político imaturo e venal, como tem mostrado ser o português.
É um aviso para os riscos desta maioria e um aviso para os riscos de maiorias destas.

A Comissão Parlamentar sobre o BPN ouviu durante meses relatos de anos consecutivos de uma actuação predadora dos bens de depositantes que confiaram num sistema bancário regulado e garantido pelo Estado.
Durante o inquérito, leram e ouviram descrições de como os politicamente poderosos obtiveram lucros espantosos em situações questionáveis.
Dos juros de cento e muitos por cento que o professor Cavaco Silva e família receberam, às empresas falidas compradas por Dias Loureiro por milhões que desapareciam das contas em vendas fantasma.
A fiscalização deste mercado de loucos estava (está) entregue a um alto quadro socialista.
O Partido Socialista concluiu agora, quatro meses e dois mil milhões de euros depois, que ao longo dos anos de saque o Banco de Portugal do antigo secretario-geral socialista tinha exercido a sua fiscalização de forma "estreita e contínua" (pags. 214 e 215 do Relatório Parlamentar ao BPN).

Por absurdas que sejam estas conclusões, elas foram lavradas em documento da Assembleia da República, que é o que fica para a história como o relato dos representantes eleitos pelos portugueses da maior roubalheira de sempre na finança nacional. O relatório está feito. Por imoral que seja, vamos ter de viver com ele. Compete ao eleitorado garantir que para a próxima legislatura não haja condições para se repetir uma afronta destas.

in «jornal de notícias»

DA MÃE NATUREZA................



enviado por ANA DIAS

RAINHA SANTA ISABEL

LENDA DA RAINHA SANTA

1ª DINASTIA - D. DINIS

D DINIZ

D. Dinis
Monarca de Portugal

D. Dinis, rei de Portugal

Ordem: 6.º Monarca de Portugal
Cognome(s): o LAVRADOR, o REI AGRICULTOR, o REI POETA, o REI TROVADOR
Início do Reinado: 16 de Fevereiro de 1279
Término do Reinado: 7 de Fevereiro de 1325
Aclamação: 1279
Predecessor(a): D. Afonso III
Sucessor(a): D. Afonso IV
Pai: D. Afonso III,
Mãe: D. Beatriz de Castela
Data de Nascimento: 9 de Outubro de 1261
Local de Nascimento: Santarém
Data de Falecimento: 7 de Janeiro de 1325
Local de Falecimento: Lisboa
Local de Enterro: Mosteiro de São Dinis e São Bernardo, Odivelas
Consorte(s): Rainha Santa Isabel, Infanta de Aragão
Príncipe Herdeiro: Infante D.Afonso (filho)
Dinastia: Borgonha (Afonsina)

D. Dinis[1] (Lisboa [?], 9 de Outubro 1261Santarém. 7 de Janeiro de 1325) foi o sexto rei de Portugal. Filho de D. Afonso III e da infanta Beatriz de Castela, neto de Afonso X de Castela, foi aclamado em Lisboa em 1279.

Foi cognominado O Lavrador ou O Rei-Agricultor, pelo impulso que deu no reino àquela actividade, e ainda O Rei-Poeta ou O Rei-Trovador, pelas Cantigas de Amigo e de Amor que compôs, e pelo desenvolvimento da poesia trovadoresca a que se assistiu no seu reinado. Foi o primeiro rei português a assinar os seus documentos com o nome completo. Presume-se que tenha sido o primeiro rei português não analfabeto.

ADMINISTRAÇÃO

Como herdeiro da coroa, D. Dinis desde cedo foi envolvido nos aspectos de governação pelo seu pai. À data da sua subida ao trono, o país encontrava-se em conflito com a Igreja Católica. D. Dinis procurou normalizar a situação assinando um tratado com o papa Nicolau III, onde jurava proteger os interesses de Roma em Portugal. Salvou a Ordem dos Templários em Portugal através da criação da Ordem de Cristo, que lhe herdou os bens no reino português depois da sua extinção e apoiou os cavaleiros da Ordem de Santiago ao separarem-se do seu mestre castelhano.

Cruz da Ordem de Cristo, símbolo que adornou, entre outras coisas, as naus portuguesas durante os Descobrimentos

D. Dinis foi essencialmente um rei administrador e não guerreiro: envolvendo-se em guerra com Castela em 1295, desistiu dela em troca das vilas de Serpa e Moura. Pelo Tratado de Alcanises (1297) firmou a Paz com Castela, definindo-se nesse tratado as fronteiras actuais entre os dois países ibéricos. Por este tratado previa-se também uma paz de 40 anos, amizade e defesa mútuas.

A sua prioridade governativa foi essencialmente a organização do reino: continuando a vertente legisladora de seu pai D. Afonso III, a profusa acção legislativa está contida, hoje, no Livro da Leis e Posturas e nas Ordenações Afonsinas. Não são "códigos" legislativos tal como os entendemos hoje, mas sim compilações de leis e do direito consuetudinário municipal, alteradas e reformuladas pela Coroa.

Com efeito, a incidência de questões de carácter processual com igual peso ao carácter de direito positivo das suas leis, denuncia a crescente preocupação do rei em enquadrar o direito consuetudinário (ou costumeiro) no âmbito da Coroa, e em efectivar o seu poder no terreno. As determinações sobre a actuação de alvazis (oficiais concelhios), juízes, procuratores e advocati demonstram isto, já que um poder meramente nominal sobre todos os habitantes do Reino, como era típico na Idade Média, não se compatibiliza com este esforço em esmiuçar os trâmites jurídicos, ou em moralizar o exercício da justiça. A criação de corregedores denuncia claramente o início do processo de territorialização da jurisdição da Coroa, extravasando os domínio régios, a par da crescente importância da capitalidade de Lisboa.

O reinado de D. Dinis acentuou a predilecção por Lisboa como local de permanência da corte régia. Não existe uma capital, mas a localização de Lisboa, o seu desenvolvimento urbano, económico e mercantil vão fazendo da cidade o local mais viável para se afirmar como centro administrativo por excelência.

A articulação entre o norte e o sul do país - este sul que se torna alvo da maior atenção e permanência dos reis - fazem de Lisboa centro giratório para tornar Portugal viável. Entre o norte, onde a malha senhorial é mais densa e apertada, e o sul, onde o espaço vasto conquistado aos mouros implanta sobretudo os domínios régios e as ordens militares, assim como vastos espaços de res nullius e torna Portugal um reino onde duas realidades diferentes se complementam.

Preocupado com as infra-estruturas do país (ver discussão), D. Dinis ordenou a exploração de minas de cobre, prata, estanho e ferro. Fomentou as trocas com outros reinos, assinou o primeiro tratado comercial com o rei de Inglaterra em 1308 e criou o almirantado, atribuído como privilégio ao genovês Manuel Pessanha, e fundando as bases para uma verdadeira marinha portuguesa ao serviço da Coroa.

D. Dinis redistribuiu terras, promoveu a agricultura e fundou várias comunidades rurais, assim como mercados e feiras, criando as chamadas feiras francas ao conceder a várias povoações diversos privilégios e isenções. Um dos seus maiores legados foi a ordem de plantar o Pinhal de Leiria, que ainda se mantém, de forma a proteger as terras agrícolas do avanço das areias costeiras.

Cultura

A cultura foi um dos seus interesses pessoais. D. Dinis não só apreciava literatura, como foi ele próprio um poeta notabilíssimo e um dos maiores e mais fecundos trovadores do seu tempo. Aos nossos dias chegaram 137 cantigas da sua autoria, distribuídas por todos os géneros (73 cantigas de amor, 51 cantigas de Amigo e 10 cantigas de escárnio e maldizer), bem como a música original de 7 dessas cantigas (descobertas casualmente em 1990 pelo Prof. Harvey L. Sharrer, no Arquivo da Torre do Tombo, num pergaminho que servia de capa a um livro de registos notariais do século XVI, e que ficou conhecido como Pergaminho Sharrer).

Durante o seu reinado, Lisboa foi, pois, um dos centros europeus de cultura. A Universidade de Coimbra, a primeira universidade em Portugal, foi fundada pelo seu decreto Magna Charta Priveligiorum. Desde se ensinou aqui as Artes, o Direito Civil, o Direito Canónico e a Medicina. Mandou traduzir importantes obras, tendo sido a sua Corte um dos maiores centros literários da Península Ibérica.

Diz a lenda de uma aldeia do concelho de Seia, Lapa dos Dinheiros, que D. Dinis terá por lá passado e, depois de ter jantado e pernoitado no lugar, deu-lhe o seu nome actual.

Últimos anos e morte

Os últimos anos do seu reinado foram marcados por conflitos internos. O herdeiro, futuro D. Afonso IV, receoso que o favorecimento de D. Dinis ao seu filho bastardo, D. Afonso Sanches o espoliasse do trono, exigiu o poder e combateu o pai. Nesta luta teve intervenção apaziguadora a Rainha Santa Isabel que, em Alvalade se interpôs entre as hostes inimigas já postas em ordem de batalha.

D. Dinis morreu em Santarém a 7 de Janeiro de 1325, e foi sepultado no Mosteiro de São Dinis, em Odivelas. Tem como descendente também o Papa Bento XIII, que foi papa de 1724 a 1730.

DESCENDÊNCIA


Milagre das Rosas da Rainha Santa Isabel, consorte de D. Dinis

WIKIPÉDIA

4 - ABADIA DE ALCOBAÇA

Aumento do poder

O sucesso económico trouxe consigo uma considerável afluência populacional, o que obrigava a um permanente alargamento das instalações do Mosteiro. Por este motivo, surgiu a construção, hoje considerada de estilo medieval, nas imediações a norte da igreja. De acordo com recentes achados arqueológicos antes da viragem do século, possivelmente teriam sido iniciadas construções de outros edifícios já no século XIV, no lado sul da igreja provavelmente mesmo um novo claustro e suas instalações circundantes, do qual o actual lado sul do Mosteiro fazia parte.[7] Até àquele momento pensava-se que esta ala só tivesse sido acrescentada no século XVIII, altura em que toda a frente ocidental do Mosteiro foi revestida por uma fachada barroca. Até ao início do século XV, os monges desenvolveram uma grande actividade, cultivando as terras e desenvolvendo a agricultura, dedicando-se à pesca, extraindo sal e ferro, desenvolvendo a arte de forjar, promovendo o artesanato e educando os colonos. Em 1269, criaram uma das primeiras escolas públicas do ocidente,[8] cuja transferência, em 1290, para Coimbra, deu origem à Universidade de Coimbra. As comunidades pertencentes ao Mosteiro floresciam de tal maneira que na própria abadia de Alcobaça o relaxamento começava a substituir as regras rígidas cistercienses, à semelhança do que sucedia noutros mosteiros. Por este motivo, o Papa Bento XII determinou, em 1335, uma reforma da ordem cisterciense que o rei D. Afonso IV (1291-1357) aproveitou para reduzir o poder da abadia e subordinar ao seu poder a maior parte das terras pertencentes a Alcobaça com o argumento de o certificado de doação de D. Afonso Henriques não englobar as vilas mas apenas o campo. No entanto, a abadia readquiriu o seu poder através de D. Pedro I, seu filho, cujo túmulo foi depositado juntamente com o da sua amada Inês de Castro no transepto da Igreja de Alcobaça (ver abaixo). D. Pedro I foi um grande defensor da abadia, restabelecendo o direito da abadia sobre as vilas confiscadas. Contudo, não lhe concedeu a jurisdição real mais elevada, reservando-a para si próprio.

Posição da abadia dentro do estado

O abade de Alcobaça era membro, por nascença, das cortes, era o padre principal do rei, não se encontrando, hierarquicamente, muito abaixo dos bispos, sendo-lhe reservada, pelo contrário, uma grande importância, devido ao seu domínio territorial. Desta forma, ele tornou-se numa das pessoas mais importantes do reino e tinha o título de Dom Abade do Real Mosteiro de Alcobaça, do Conselho de Sua Majestade, seu Esmoler-Mor, Donatário da Coroa, Senhor dos Coutos e Fronteiro-Mor. Ele praticava a jurisdição, embora esta fosse limitada pelos poderes do rei como, por exemplo, no que respeitava à decisão das penas de morte. A sua jurisdição estendia-se desde Alcobaça, passando por Porto de Mós até bastante a sul (Ota) e a leste (Beringel, perto de Beja). No seu território a abadia não era obrigada a recrutar tropas para o rei. D. João I(1385-1433), Mestre de Avis, grão-mestre da Ordem de São Bento de Avis e membro da Ordem de Cister, foi extremamente benevolente para com o Mosteiro, restituindo-lhe todo o poder que antepassados seus lhe tinham tentado tirar. Mesmo assim, no ano de 1427, D. João I declarou, perante as Cortes, que considerava a Abadia de Alcobaça como pertença do rei.

Dependência do poder real

Pelourinho em Aljubarrota, 1514

Devido à sua enorme riqueza e poder, os monges distanciavam-se novamente dos ensinamentos rígidos dos seus fundadores. J. Vieira Natividade escreveu: "A Abdadia enriquece, transforma-se em poderoso feudo, e a crescente opulência pouco e pouco faz esquecer o rigor da Ordem e toda a simplicidade e austeridade da primitiva vida monacal."[9] Em 1475, o abade Nicolau Vieira abdicou, secretamente, dos seus direitos a favor do arcebispo de Lisboa, - mais tarde o cardeal da cúria Jorge da Costa -, em troca de uma concessão anual de 150.000 reis. Os monges só tomaram conhecimento desta situação quando uma delegação do arcebispo tomou posse dos seus novos direitos. Devido à sua influência em Roma, as queixas dos monges ao Papa eram inúteis, principalmente quando o arcebispo obrigou o Mosteiro a pagar tributos a Roma. [10] O Mosteiro, que sempre elegeu autonomamente os seus abades, encontrou-se, assim, sob a influência de abades colocados pelo rei ( os abades comendatários). Por volta do século XV, a fragilidade do Mosteiro levou a que muitas povoações subordinadas à abadia exigissem uma maior autonomia administrativa, que lhes acabou por ser concedida em 1514 pelo rei D. Manuel I (1469-1521) através de uma reforma da cidade. Assim, o número de irmãos leigos reduziu drasticamente. O domínio imediato das terras e a própria agricultura limitavam-se a poucos territórios perto do Mosteiro. Em 1531 Afonso de Portugal (1509-1540), o quarto filho do rei D. Manuel I e irmão do futuro rei D. João III (1502-1557), tornou-se abade de Alcobaça, sendo simultaneamente bispo de Lisboa e cardeal. Após a sua morte, D. João III proclamou o seu irmão Henrique (1512-1580) abade, que era, igualmente, arcebispo de Lisboa bem como inquisidor-mor de Portugal , tornando-se, mais tarde, cardeal. Dois anos antes da sua morte, o cardeal D. Henrique foi proclamado rei de Portugal. Esta ligação íntima do cardeal com a Casa Real- que escolhia o abade há mais de 50 anos -, levou, no ano de 1567, a que após as primeiras divergências sobre um afastamento de Claraval, o Papa Pio V decretasse numa bula a independência da Ordem dos Cistercienses portuguesa.

T R O V A D O R I S M O

Symphonia de Cantiga 160, Cantigas de Sta. María de Alfonso X El Sabio, Códice de El Escorial. (1221-1284).

Trovadorismo é a primeira manifestação literária da língua portuguesa. Seu surgimento ocorreu no mesmo período em que Portugal começou a despontar como nação independente, no século XII; porém, as suas origens deram-se na Occitânia, de onde se espalhou por praticamente toda a Europa. Apesar disso, a lírica medieval galaico-português possuiu características próprias, uma grande produtividade e um número considerável de autores conservados.As origens do trovadorismo

Os trovadores medievais escreviam em pergaminhos, como por exemplo o pergaminho Vindel

As origens do Trovadorismo

São admitidas quatro teses fundamentais para explicar a origem dessa poesia: a tese arábica, que considera a cultura arábica como sua velha raiz; a tese folclórica, que a julga criada pelo próprio povo; a tese médio-latinista, segundo a qual essa poesia teria origem na literatura latina produzida durante a Idade Média; e, por fim, a tese litúrgica, que a considera fruto da poesia litúrgico-cristã elaborada na mesma época. Todavia, nenhuma das teses citadas é suficiente em si mesma, deixando-nos na posição de aceitá-las conjuntamente, a fim de melhor abarcar os aspectos constantes dessa poesia.

A mais antiga manifestação literária galaico-portuguesa que se pode datar é a cantiga "Ora faz host'o senhor de Navarra", do trovador português João Soares de Paiva ou João Soares de Pávia, composta provavelmente por volta do ano 1200. Por essa cantiga ser a mais antiga datável (por conter dados históricos precisos), convém datar daí o início do Lírica medieval galego-portuguesa (e não, como se supunha, a partir da "Cantiga de Guarvaia", composta por Paio Soares de Taveirós, cuja data de composição é impossível de apurar com exactidão, mas que, tendo em conta os dados biográficos do seu autor, é certamente bastante posterior). Este texto também é chamado de "Cantiga da Ribeirinha" por ter sido dedicada à Dona Maria Paes Ribeiro, a ribeirinha. De 1200, a Lírica galego-portuguesa se estende até meados do século XIV, sendo usual referir como termo o ano de 1350, data do testamento do Conde D. Pedro, Conde de Barcelos|D. Pedro de Barcelos, filho primogênito bastardo de Dinis de Portugal|D. Dinis, ele próprio trovador e provável compilador das cantigas (no testamento, D. Pedro lega um "Livro das Cantigas" a seu sobrinho, D.Afonso XI de Castela).

Trovadores eram aqueles que compunham as poesias e as melodias que as acompanhavam, e cantigas são as poesias cantadas. A designação "trovador" aplicava-se aos autores de origem nobre, sendo que os autores de origem vilã tinham o nome de jogral, termo que designava igualmente o seu estatuto de profissional (em contraste com o trovador). Ainda que seja coerente a afirmação de que quem tocava e cantava as poesias eram os jograis, é muito possível que a maioria dos trovadores interpretasse igualmente as suas próprias composições.

A mentalidade da época baseada no teocentrismo serviu como base para a estrutura da cantiga de amigo, em que o amor espiritual e inatingível é retratado.As cantigas, primeiramente destinadas ao canto, foram depois manuscritas em cadernos de apontamentos, que mais tarde foram postas em coletâneas de canções chamadas Cancioneiros (livros que reuniam grande número de trovas). São conhecidos três Cancioneiros galego-portugueses: o "Cancioneiro da Ajuda", o "Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa" (Colocci-Brancutti) e o "Cancioneiro da Vaticana". Além disso, há um quarto livro de cantigas dedicadas à Virgem Maria pelo rei Afonso X de Leão e Castela, O Sábio. Surgiram também os textos em prosa de cronistas como Rui de Pina, Fernão Lopes e Gomes Eanes de Zurara e as novelas de cavalaria, como A Demanda do Santo Graal.

Classificação das cantigas

Com base na maioria das cantigas reunidas nos cancioneiros, podemos classificá-las da seguinte forma:

Gênero lírico
Gênero satírico

A cantiga de amor

O cavalheiro se dirige à mulher amada como uma figura idealizada, distante. O poeta, na posição de fiel vassalo, se põe a serviço de sua senhora, dama da corte, tornando esse amor um objeto de sonho, distante, impossível.

Neste tipo de cantiga, originária de Provença, no sul de França, o eu-lírico é masculino e sofredor. Sua amada é chamada de senhor (as palavras terminadas em or como senhor ou pastor, em galego-português não tinham feminino). Canta as qualidades de seu amor, a "minha senhor", a quem ele trata como superior revelando sua condição hierárquica. Ele canta a dor de amar e está sempre acometido da "coita", palavra frequente nas cantigas de amor que significa "sofrimento por amor". É à sua amada que se submete e "presta serviço", por isso espera benefício (referido como o bem nas trovas).

Essa relação amorosa vertical é chamada "vassalagem amorosa", pois reproduz as relações dos vassalos com os seus senhores feudais. Sua estrutura é mais sofisticada. Existem dois tipos de cantigas de amor: as de refrão e as de mestria, que não tem refrão.

Exemplo de lírica galego-portuguesa (de Bernal de Bonaval):

"A dona que eu am'e tenho por Senhor
amostrade-me-a Deus, se vos en prazer for,
se non dade-me-a morte.
A que tenh'eu por lume d'estes olhos meus
e porque choran sempr(e) amostrade-me-a Deus,
se non dade-me-a morte.
Essa que Vós fezestes melhor parecer
de quantas sei, ay Deus, fazede-me-a veer,
se non dade-me-a morte.
Ay Deus, que me-a fezestes mais ca min amar,
mostrade-me-a hu possa con ela falar,
se non dade-me-a morte."
  • Eu lírico masculino.
  • Ausência do paralelismo de par de estrofes e do leixa-pren.
  • Predomínio das idéias.
  • Assunto Principal: o sofrimento amoroso do eu-lírico perante uma mulher idealizada e distante.
  • Amor cortês; convencionalismo amoroso.
  • Amor impossível.
  • Ambientação aristocrática das cortes.
  • Forte influência provençal.
  • Vassalagem amorosa "o eu lírico usa o pronome de tratamento "senhor"".

A cantiga de amigo

São cantigas de origem popular, com marcas evidentes da literatura oral (reiterações, paralelismo, refrão, estribilho), recursos esses próprios dos textos para serem cantados e que propiciam facilidade na memorização. Esses recursos são utilizados, ainda hoje, nas canções populares.

Este tipo de cantiga, que não surgiu em Provença como as outras, teve suas origens na Península Ibérica. Nela, o eu-lírico é uma mulher (mas o autor era masculino, devido à sociedade feudal e o restrito acesso ao conhecimento da época), que canta seu amor pelo amigo (amigo = namorado), muitas vezes em ambiente natural, e muitas vezes também em diálogo com sua mãe ou suas amigas. A figura feminina que as cantigas de amigo desenham é, pois, a da jovem que se inicia no universo do amor, por vezes lamentando a ausência do amado, por vezes cantando a sua alegria pelo próximo encontro. Outra diferença da cantiga de amor, é que nela não há a relação Suserano x Vassalo, ela é uma mulher do povo. Muitas vezes tal cantiga também revelava a tristeza da mulher, pela ida de seu amado à guerra.

Exemplo (de D. Dinis)

"Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
ai Deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado!
ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo!
ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi há jurado!
ai Deus, e u é?"
(...)
  • Eu lírico feminino.
  • Presença de paralelismos.
  • Predomínio da musicalidade.
  • Assunto Principal: o lamento da moça cujo namorado partiu.
  • Amor natural e espontâneo.
  • Amor possível.
  • Ambientação popular rural ou urbana.
  • Influência da tradição oral ibérica.
  • Deus é o elemento mais importante do poema.
  • Pouca subjetividade.

A cantiga de escárnio

Na cantiga de escárnio, o eu-lírico faz uma sátira a alguma pessoa. Essa sátira era indireta, cheia de duplos sentidos. As cantigas de escárnio (ou "de escarnho", na grafia da época) definem-se, pois, como sendo aquelas feitas pelos trovadores para dizer mal de alguém, por meio de ambigüidades, trocadilhos e jogos semânticos, num processo que os trovadores chamavam "equívoco". O cômico que caracteriza essas cantigas é predominantemente verbal, dependente, portanto, do emprego de recursos retóricos. A cantiga de escárnio exigindo unicamente a alusão indireta e velada, para que o destinatário não seja reconhecido, estimula a imaginação do poeta e sugere-lhe uma expressão irônica, embora, por vezes, bastante mordaz. exemplo de cantiga de escárnio.

Ai, dona fea, foste-vos queixar que vos nunca louv[o] em meu cantar; mais ora quero fazer um cantar em que vos loarei toda via; e vedes como vos quero loar: dona fea, velha e sandia!... (...)

A cantiga de maldizer

Ao contrário da cantiga de escárnio, a cantiga de maldizer traz uma sátira direta e sem duplos sentidos. É comum a agressão verbal à pessoa satirizada, e muitas vezes, são utilizados até palavrões. O nome da pessoa satirizada pode ou não ser revelado.

Exemplo de cantiga Joan Garcia de Guilhade

"Ai dona fea! Foste-vos queixar
Que vos nunca louv'en meu trobar
Mais ora quero fazer un cantar
En que vos loarei toda via;
E vedes como vos quero loar:
Dona fea, velha e sandia!
Ai dona fea! Se Deus mi pardon!
E pois havedes tan gran coraçon
Que vos eu loe en esta razon,
Vos quero já loar toda via;
E vedes qual será a loaçon:
Dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
En meu trobar, pero muito trobei;
Mais ora já en bom cantar farei
En que vos loarei toda via;
E direi-vos como vos loarei:
Dona fea, velha e sandia!"

Este texto é enquadrado como cantiga de escárnio já que a sátira é indireta e não cita-se o nome da pessoa especifica. Mas, se o nome fosse citado ela seria uma Cantiga de Maldizer, pois contém todas as características diretas como sátira da "Dona". Existe a suposição que Joan Garcia escreveu a cantiga anterior uma senhora que reclamava por ele não ter escrito nada em homenagem a ela. Joan Garcia de tanto ouvi-lá dizer, teria produzido a cantiga.

Trovadores

Na lírica galego-portuguesa destacam-se:

RAINHA SANTA ISABEL - FADO - NUNO DA CÂMARA PEREIRA