A escandalosa escassez de informação sobre o assunto leva a que, provavelmente, o leitor não saiba que começa hoje o Campeonato do Mundo de futebol. Trata-se de uma competição entre equipas compostas pelos melhores jogadores de 32 países, e disputa-se no Brasil. 

Os jogadores portugueses têm feito várias deslocações, a bordo de um autocarro, mas os jornalistas persistem em ignorá-las. Ao que parece, nesta altura a equipa portuguesa já se encontra numa unidade hoteleira do Brasil, mas tirando a exacta localização geográfica, a descrição pormenorizada das instalações e o nome e morada de todos os funcionários do hotel, são muito poucas as informações que nos chegam. 

Para receber o Mundial, o Brasil renovou e construiu vários estádios, incluindo o estádio nacional, em Brasília - uma cidade em que as equipas de futebol não têm grande expressão. O recinto tem capacidade para cerca de 73 mil pessoas e, curiosamente, chama-se estádio Mané Garrincha - e não estádio do Algarve, o nome que se costuma dar a estádios que, depois de acolherem dois ou três jogos, deixam de ser usados. 

A humanidade é culturalmente diversa, mas é muito belo constatar que existe um traço que une a espécie humana inteira: há construtores garganeiros em toda a parte. É sob o signo do construtor garganeiro que a humanidade dá as mãos e constrói o futuro. E depois o futuro nunca mais fica pronto, porque estes empreiteiros prometem sempre o fim da obra para uma determinada data mas adiam sistematicamente o fim da construção.

De acordo com os jornais brasileiros, alguns estádios ainda não estão prontos, o que representa um motivo de orgulho para Portugal. Significa que os brasileiros retiveram algumas das nossas características mais encantadoras. 

O destino deste mundial começou a ser traçado em Tordesilhas, há 520 anos. É comovente ver as marcas mais representativas da cultura portuguesa um pouco por todo o lado, testemunhando a nossa presença nos quatro cantos do mundo. 

Alguns dos estádios não passaram nos testes de segurança, pelo que podem registar-se incidentes dentro dos recintos. Fora dos recintos vão certamente registar-se incidentes, devido às manifestações de boa parte da população brasileira contra a realização do Mundial no seu país. 

Parece que os manifestantes preferem hospitais e escolas para acolher condignamente os cidadãos a estádios para acolher condignamente o Bósnia Herzegovina-Irão. Confesso que não sei a quem é que eles saem assim. Alguma coisa correu mal na nossa colonização.

IN "VISÃO"
19/06/14