HOJE NO
" JORNAL DE NEGÓCIOS"
Os episódios que ditaram
o fim de uma coligação
Uma coligação que arrancou sólida foi-se degradando. A difícil gestão e justificação da austeridade, em conjunto com várias discordâncias em relação a medidas e reformas, levaram Paulo Portas a ir esticando a corda, culminando com a apresentação da sua demissão esta tarde.
O CDS-PP mostrou-se contra a extinção
de feriados, defendendo o fim das “pontes”. A posição foi defendida por
dois vice-presidentes da bancada dos centristas, Telmo Correia e João
Almeida.
Maio de 2012
O primeiro grande momento de ruptura do Governo ocorre em Setembro de
2012, quando Pedro Passos Coelho anunciou a intenção de subir a Taxa
Social Única para os trabalhadores, reduzindo-a para as empresas. O
líder do CDS-PP mostrou-se contra a medida, apesar de não a ter vetado.
“Não a bloqueei porque fiquei inteiramente convencido que isso
conduziria a uma crise nas negociações com a missão externa”, afirmou na
altura Paulo Portas.
Setembro de 2012
CDS-PP recusou o modelo de privatização da RTP2 que estava a ser
proposto, avisando que violava o programa do Governo e o acordo de
coligação entre os dois partidos. Segundo o “Sol”, Paulo Portas
considera que aceitar esse modelo significaria “abrir um precedente
muito complicado”.
Setembro de 2012
Em entrevista, Pedro Passos Coelho refere-se a Vítor Gaspar como o
número dois do Governo, o que significa que Paulo Portas seria o número
três, uma hierarquia estranha tendo em conta que Portas é o líder do
segundo partido da coligação.
Novembro de 2012
O Correio da Manhã noticiou que Paulo Portas se mostrou contra o aumento do IVA no Vinho.
Janeiro de 2013
No final de uma reunião da Comissão Política Nacional do CDS-PP,
vários centristas pediram uma remodelação profunda do Governo. Paulo
Portas não fez declarações no final da reunião. Diogo Feio e António
Pires de Lima foram duas as figuras do CDS que defenderam essa
remodelação. Os nomes de que mais se falavam eram Álvaro Santos Pereira e
Miguel Relvas.
Março de 2013
Depois de um Conselho de Ministros em que Vítor Gaspar apresentou
novos cortes salariais e nas pensões, Paulo Portas, em conjunto com a
facção do CDS do Governo e alguns ministros do PSD, criticaram as novas
medidas de austeridade. O líder centrista terá mesmo ameaçado romper a
coligação, caso não houvesse uma reponderação dessas medidas, noticiou o
"i".
Abril de 2013
Paulo Portas não comparece na tomada de posse dos novos ministros e
secretários de Estado. Passos disse que "todos os membros do Governo
devem estar presentes" nas tomadas de posse. Portas diz ter apresentado
uma "razão fundamentada" para nãoe star presente.
Abril de 2013
Dois dias depois de Passos Coelho ter
apresentado o conjunto de medidas que iria substituir os artigos
considerados inconstitucionais pelo Tribunal Constitucional, Paulo
Portas falou ao país, dizendo que recusava completamente uma delas: a
contribuição extraordinária sobre os reformados, conhecida como a TSU
dos pensionistas. “É a fronteira que não posso deixar passar e é do
conhecimento do primeiro-ministro”, afirmou o líder centrista. A medida
acabou por deixar de ser obrigatória, mas manteve-se no Memorando de
Entendimento. A crise deixou cicatrizes no Governo e na relação com a
troika.
Maio de 2013
O CDS-PP e Paulo Portas pediram um comprometimento para descer
impostos até ao final da legislatura. Uma hipótese que Passos Coelho
recusou garantir, dizendo não saber “se é possível” baixar impostos.
Junho de 2013
Depois de meses de conflito com Vítor Gaspar, o ministro das Finanças
acabou por pedir a demissão, referindo dificuldades relacionadas com os
dois chumbos do Tribunal Constitucional, a falta de apoio popular ao
programa e a falta de coesão dentro do Executivo. A escolha de Pedro
Passos Coelho para o substituir não agradou ao CDS. Paulo Portas
acabaria por apresentar a demissão 24 horas depois da de Gaspar. “O
Primeiro-Ministro entendeu seguir o caminho da mera continuidade no
Ministério das Finanças. Respeito mas discordo”, afirmou na sua carta de
demissão. “Expressei, atempadamente, este ponto de vista ao
Primeiro-Ministro que, ainda assim, confirmou a sua escolha. Em
consequência, e tendo em atenção a importância decisiva do Ministério
das Finanças, ficar no Governo seria um acto de dissimulação. Não é
politicamente sustentável, nem é pessoalmente exigível.”
Julho de 2013
* Título para esta telenovela: "Andava a esgraçadinha no gamanço"
.
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