16/09/2015

HELENA CRISTINA COELHO

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A política do poucochinho

No dia seguinte às eleições, quando os portugueses já tiverem escolhido quem querem a governar o país, quase tudo o que andou a alimentar os debates mais participados das últimas semanas será irrelevante para os dias que se seguem.
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No dia seguinte às eleições, já poucos se lembrarão das polémicas fotos nos cartazes do PS. Ou do que levou Joana Amaral Dias a despir-se para uma capa de revista. Ou se houve jogos de futebol nesse dia. Ou se alguém falhou a entrega de uma pizza de pepperoni à porta de José Sócrates. Ou qual foi a sondagem mais certeira: se a que deu a vitória num dia ao PS e, no outro, ao PSD/CDS. Porque no dia seguinte às eleições, tal como hoje, nenhum desses temas será minimamente relevante para a vida do país. Eles apenas revelam os vícios e fraquezas que, cada vez mais, dominam a política e um país desencantado por quem dela vive - e nela sobrevive.

No entanto, tem havido mais opiniões e fóruns de discussão à volta desses temas do que daqueles que verdadeiramente vão influenciar a vida do país nos próximos anos. E as perguntas a fazer são tantas... Qual o plano para financiar a segurança social sem fazer mais cortes sangrentos nas pensões e nos salários? Como melhorar a educação e a saúde sem eliminar serviços fundamentais? Quais os meios para sustentar a máquina do Estado sem aumentar mais os impostos? Como assegurar que o desemprego se mantém em queda sem destruir mais empregos? Que relação queremos manter com uma Europa em mudança? Como evitar que a economia tenha o seu crescimento insuflado pelo consumo? 

Como restaurar a confiança dos portugueses e compensá-los pelos últimos quatro anos de sacrifícios? Dar a resposta a estas (e muitas outras) questões é antecipar o futuro. É saber com o que podemos contar nos próximos tempos. Daí que seja imperativo fazer todas essas perguntas - e, mais do que isso, exigir respostas - a quem tem a ambição de governar. E, tendo essas respostas, garantir que são compromissos para o futuro e não apenas promessas que ficam esquecidas no passado.

Elevar esse nível de exigência seria assim uma forma de contrariar a pobreza e o vazio que se instalaram no debate político - um universo nivelado pelo ‘poucochinho' que se sabe, que se constrói, que se debate, que se respeita, que se cumpre. Já se sabe que a política nunca foi uma casa de virtudes - mas nunca como agora essas fraquezas estiveram tão escancaradas. Nunca como agora se viram tantas trocas de acusações, desprezo pelas responsabilidades, jogos de empurra, descaramentos, abusos e ilicitudes a descoberto, tanta futilidade a caçar votos. E, também por isso, tantas razões a afastar os cidadãos da política, motivos para não confiar, tantas pessoas desiludidas - e, claro, tantos votos em branco, tanta desistência. É por isso pertinente que o país e os seus políticos se importem com este estado de coisas e possam, de facto, envolver o país e debater o que realmente importa no seu futuro. Conseguir isso, sim, não é poucochinho.

IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
10/09/15


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