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"JORNAL DE NEGÓCIOS"
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Jorge Sampaio:
Tragédia síria não deve ser
encarada como problema alheio
O ex-presidente Jorge Sampaio defendeu esta
quarta-feira que "a tragédia síria não deve ser encarada como um
problema alheio", ao assinar com a Universidade Europeia um protocolo
pelo qual cinco jovens sírios aí estudarão já a partir da próxima
semana.
"[Com a assinatura deste protocolo,]
estamos perante um muito feliz conjunto de circunstâncias, que contraria
a inércia e as delongas que têm marcado a vida do povo sírio e, neste
caso, a sua população jovem, que todos os dias vê apagar-se sempre mais a
esperança de um regresso a uma vida normal, em paz e segurança, e um
retorno ao seu quotidiano digamos usual, pautado pelos ritmos académicos
e pela confiança num futuro melhor", declarou Jorge Sampaio.
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Trata-se de uma iniciativa da Plataforma Global de Assistência
Académica de Emergência a Estudantes Sírios, promovida em Portugal pelo
antigo chefe de Estado português, que falava na cerimónia de início do
ano lectivo 2015/2016 de acolhimento aos novos alunos da Universidade
Europeia, em Lisboa.
"De facto, a tragédia síria não deve ser encarada como um problema
alheio nem uma questão extrínseca, que não nos diz respeito. Como
europeus, herdeiros de um acervo humanista que coloca a dignidade da
pessoa humana no centro do Direito e dos direitos, da Ética e do
imperativo ético existencial, a questão do destino dos refugiados sírios
tem de nos interpelar", sustentou.
"Tenho a esperança de que a Europa possa responder de acordo com os
seus princípios e a sua riqueza fundadora. Não é uma matéria fácil, é
uma matéria muito difícil, mas é preciso ter uma grande coordenação
global, ao nível dos países europeus, e dentro de cada país também: as
entidades disponíveis devem coordenar-se entre si e não andarem todas a
correr umas atrás das outras, como às vezes é típico", afirmou.
Esse esforço, Sampaio classificou-o como "magnífico, de uma
disponibilidade magnífica" e sublinhou que "não há que ter receios, há
que sobretudo procurar integrá-los (os refugiados) da melhor maneira
possível". "É a experiência que temos feito e que, do ponto de vista
académico, tem sido altamente positiva".
Questionado pela Lusa, João F. Proença, reitor da Universidade
Europeia, onde os cinco estudantes sírios frequentarão, com uma bolsa, o
curso de Gestão e Turismo, considerou que Portugal "pode claramente
contribuir para dar apoio, permitindo criar condições para que eles
possam mais tarde reconstruir a Síria que, como se sabe, está em grandes
dificuldades".
Para Jorge Sampaio, "quaisquer iniciativas que tenham por objectivo
acolher e criar oportunidades de futuro para os refugiados sírios devem
ser estimuladas e apoiadas". E, neste caso, acrescentou, o foco está
"nos jovens estudantes do ensino superior que a guerra obrigou, de uma
forma trágica, a interromper os seus estudos".
"Quando pensamos que quando a paz voltar - e não sabemos quando será
-, será preciso reconstruir um país e dispor de novas lideranças bem
apetrechadas para dar rumo a uma sociedade desfeita, torna-se por demais
evidente que é agora, no presente, que temos de começar a preparar o
futuro", frisou.
"É-me grato anunciar que estamos a preparar o ingresso de mais cerca
de 40 bolsistas neste ano lectivo", disse Sampaio, recentemente laureado
com o Prémio Nelson Mandela, atribuído este ano pela primeira vez pela
ONU como homenagem aos defensores dos ideais da organização.
O antigo presidente da República indicou ainda que a Plataforma de
que é fundador, em parceria com Conselho da Europa, Liga Árabe,
Instituto Internacional de Educação, União para o Mediterrâneo, e alguns
governos nacionais, tem, neste momento, à sua responsabilidade cerca de
100 estudantes em dez países, 63 dos quais em Portugal, estando para
chegar mais 20, com o apoio do chamado Consórcio Académico, formado por
politécnicos e universidades de todo o país.
* Jorge Sampaio teve sempre o nosso respeito pela seriedade com que conduziu a sua vida política, pela sabedoria com que protegeu a vida privada, pela dignidade com que se empenha em prol dos mais aflitos.
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