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IN "NOTÍCIAS MAGAZINE"
05/10/13
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«Se não eu, quem?»
Apenas conhecia Emma Watson pelo seu trabalho de actriz na saga Harry
Potter. Mas, pela postura que demonstrava em even tos públicos e
entrevistas, parecia-me ser uma jovem mulher do seu tempo, com estilo e
muita «pinta», que sabe o que quer e não tem medo de o dizer ou fazer.
Há anos, uma mulher com estes predica dos seria descrita como feminista,
porque pertenceria ao grupo de mulheres que tentavam libertar-se de uma
série de preconceitos de género e de um destino que lhes impunha o
casamento e a mater nidade como únicos e últimos objectivos a alcançar.
De há algum tempo para cá, ser ou descrever-se como femi nista passou
a ser visto por uma boa parte das mulheres como algo demasiado radical e
agressivo. O feminismo passou a estar relacio nado com uma aversão ao
masculino e a tudo o que representava. Para além disso, fruto de todas
as conquistas das feministas dos anos 1960 e 70, já não se sentia como
necessária a «inscrição» numa «luta» contra a desigualdade de género que
fosse tão acintosa e ar regimentada. A confusão entre o ser-se
feminista e o ser-se anti masculino ajudou a que o conceito se tornasse
pouco simpático à sociedade em geral. Mesmo as mulheres que claramente
seguiam o caminho aberto por todas as que as antecederam e que
conti nuavam a quebrar barreiras e preconceitos demonstravam alguma
hesitação em apelidar-se de feministas.
Porém, nos últimos tempos, o número de mulheres com poder que têm
vindo a afirmar-se como feministas tem aumentado, tal vez mercê de
notícias preocupantes que dão conta de crimes de gé nero a acontecer
cada vez mais perto de «casa» (leia-se: Ocidente) e de mentalidades que
ou regridem com grande rapidez ou nunca progrediram e sentem-se agora
confortáveis o suficiente para se mostrar numa sociedade ocidental cada
vez mais confundida.
Emma Watson fez um interessante e importante discurso nas Nações
Unidas, no qual se assumia como feminista, depois de algu mas
experiências que a fizeram perceber que havia ainda muito ca minho a
percorrer na luta pela igualdade de género. Experiências que poderão ser
partilhadas por muitas mulheres, desde o conside rar-se uma mulher que
dá a sua opinião de forma clara e decidida como «mandona» ou
«arrogante», não fazendo idêntico juízo de va lor para um homem nas
mesmas condições, até ao escrutínio total ou parcial do seu corpo e
comportamento.
Preocupante é certamente a tendência crescente para a cul pabilização
da vítima feminina em crimes sexuais ou passionais. Ou porque a mulher,
se não quer ser atacada, se deve vestir de cer ta maneira, ou comportar
de certa maneira, ou porque, se não quer ser perseguida ou morta pelo
seu companheiro, deve apresentar-se como modelo de virtudes, para evitar
a «vergonha» e a «desonra» do homem, como se de mera propriedade se
tratasse. A mulher não é propriedade de nenhum homem, porque o ser
humano é ineren temente livre e igual perante o seu semelhante. Tanto
mulheres co mo homens são semelhantes na medida em que são seres
humanos. Como tal, a liberdade e a igualdade das mulheres em relação aos
ho mens é, para mim, inquestionável.
Não falo, obviamente, das pequenas diferenças que nos carac terizam.
Falo, sim, das enormes características que nos aproxi mam. Isso,
principalmente isso, leva a que me considere como fe minista: como
alguém que lutará sempre contra uma sociedade que considere inferiores
as mulheres, que lhes queira impor certos com portamentos, atitudes,
códigos morais que visem o seu domínio ou subjugação.
A luta não é (se é que alguma vez foi) contra os homens, o univer so
masculino ou sequer as mulheres que não se inscrevam nos ideais
feministas. A luta será contra duas coisas que estão na base de todas as
injustiças: a ignorância e a vontade cega de poder.
IN "NOTÍCIAS MAGAZINE"
05/10/13
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