27/11/2013

FILOMENA MARTINS

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Avaliação sim, mas a sério


Há muitos maus professores. Mas também os há muito bons. Como em todas as profissões, a educação tem profissionais de excelência e tem medíocres. Como para qualquer classe, defendo para os professores uma avaliação rigorosa, exigente e com consequências (sim, com consequências). Uma avaliação que já devia estar plenamente em curso, depois de discutida com todos os envolvidos, TODOS. Desde pais a alunos (sim, interesses à parte, eles conhecem os problemas), desde colegas a superiores hierárquicos (sim, e sem a velha história corporativa de não quererem dar nota aos colegas, nem denunciar exemplos de falta de profissionalismo que bem sabem existir). Uma avaliação a sério, e não o arremedo em que se tornou a existente, depois dos avanços e recuos que foi tendo porque os sindicatos conseguiram pôr na rua a ameaça de menos 200 mil votos nas urnas.

Haverá, haveria pelo menos até este ano, também professores a mais. Não tantos como o Governo nos quer fazer crer, é certo, mas bastante mais do que Fenprof e afins se recusam a aceitar. A redistribuição e a reforma da escola pública eram uma necessidade óbvia, mas continuamente adiada, face a um poder corporativo com uma força esmagadora junto do ministério. E que só está agora a ser feita por imposição externa. Não foi pensada, não está estruturada. Por isso anda aos solavancos, sem um propósito final, apenas de acordo com as necessidades. E quase só com as financeiras. 

Dito isto, vamos à última causa da classe: a famigerada e polémica prova para os professores contratados. Desde o início que me levantou dúvidas estar a duplicar--se a avaliação: se já existe uma, a que estes professores também são sujeitos, para quê uma outra? Se a que existe é má - e eu acho que é - devia melhorar-se de uma vez por todas e aplicar-se sem receios. Ponto. Ainda admiti tratar-se de uma espécie de exame de admissão à profissão, o que acharia admissível, e esperei para ver. Só que além da prova afinal ser igual para professores inexperientes e para quem tem anos e anos de profissão, o que finalmente ontem dela se soube é aterrador. Já não bastava a forma absolutamente inaceitável como o processo foi conduzido pelo ministério, como não há adjetivos para qualificar o seu conteúdo. Um teste de escolha múltipla, que vale 80%, com algumas perguntas básicas e outras cheias de rasteiras baixas, não serve para atestar qualquer qualidade de ensino. A produção de um texto, que vale os restantes 20%, e que até admite (imagine-se, que belo exemplo para os alunos! )dez erros de sintaxe e de gramática, é uma imbecilidade que também não valida ninguém para a arte de bem ensinar.

O que vai resultar daqui? Alguns (poucos) dos desejados despedimentos. Meia dúzia de exemplos de provas com erros básicos, que circularão por aí, para achincalhar quem as fez. A vitimização habitual, mas desta vez até com alguma razão, da parte dos professores. E tudo na mesma. A educação não vai melhorar. E a qualidade dos professores também não. É mais uma oportunidade perdida. Para o Governo. Para os alunos, claro. Mas sobretudo para os professores. Que deviam ser os primeiros a exigir ser (bem) avaliados. Sem medo. Em defesa dos que fazem bem o seu trabalho. Expulsando os que dão má fama à classe. Enquanto assim não for, é o futuro do País que se hipoteca.

Autoridade no degrau mínimo
A escalada de 12 mil polícias escada da Assembleia acima, com o claro beneplácito mascarado de solidariedade dos colegas em serviço, só conseguiu duas coisas: fazer rolar a cabeça do diretor e deixar no degrau mínimo a autoridade das polícias. Ah, e uma terceira. Pôr a nu as incongruências de Assunção Esteves. A presidente da AR que tanto se orgulha de presidir à casa à porta da qual todos batem, como quer expulsar das galerias os carrascos dos maus costumes. A demagogia é um perigo. E o que aí pode vir depois deste precedente policial também.

As esquerdas e Aguiar-Branco
Qualquer marciano que chegasse agora a Portugal pensaria que estava num país à beira da guerra civil. De um lado, as chamadas esquerdas agitam a bandeira de que a democracia está em causa, que estamos à beira da ditadura, e propõem derrubar, até à paulada se necessário for, Presidente e Governo; do outro, um ministro, Aguiar-Branco, fala também numa ameaça "de um Estado totalitário" e exige a imediata revisão da Constituição, para, presume-se, impedir que os juízes do Constitucional possam fazer cumprir essa lei maldita para o Governo. Eu, mais terrena, depois de ler que a OCDE prevê que Portugal viole todas as metas logo no pós-troika, temo que não haja quem nos salve. 

Os amigos de Passos
Parece que para Passos ir para o Governo foram precisas campanhas de arregimentados dos blogues que lhe deram o empurrão decisivo. Agora, as campanhas também existem, mas os protagonistas são outros, a nova plataforma é a televisão, e o resultado pode ser o oposto. É mais ou menos assim: Marques Mendes anuncia ao sábado, Marcelo acrescenta ao domingo e pelo meio há uns bitaites de Santana Lopes e Morais Sarmento. A última encenação, em curso, é a de que a troika não exige a assinatura do PS no programa para depois do verão, a tal "coisa" que ninguém sabe o que é, mas de que toda a gente fala. Resta saber se estes novos amigos estão mesmo a ajudar o PM ou a dar-lhe um empurrão fatal.

DIRECTORA-ADJUNTA


IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
23/11/13

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