Avaliação sim, mas a sério
Há muitos maus
professores. Mas também os há muito bons. Como em todas as profissões, a
educação tem profissionais de excelência e tem medíocres. Como para
qualquer classe, defendo para os professores uma avaliação rigorosa,
exigente e com consequências (sim, com consequências). Uma avaliação que
já devia estar plenamente em curso, depois de discutida com todos os
envolvidos, TODOS. Desde pais a alunos (sim, interesses à parte, eles
conhecem os problemas), desde colegas a superiores hierárquicos (sim, e
sem a velha história corporativa de não quererem dar nota aos colegas,
nem denunciar exemplos de falta de profissionalismo que bem sabem
existir). Uma avaliação a sério, e não o arremedo em que se tornou a
existente, depois dos avanços e recuos que foi tendo porque os
sindicatos conseguiram pôr na rua a ameaça de menos 200 mil votos nas
urnas.
Haverá, haveria pelo menos até este ano, também professores
a mais. Não tantos como o Governo nos quer fazer crer, é certo, mas
bastante mais do que Fenprof e afins se recusam a aceitar. A
redistribuição e a reforma da escola pública eram uma necessidade óbvia,
mas continuamente adiada, face a um poder corporativo com uma força
esmagadora junto do ministério. E que só está agora a ser feita por
imposição externa. Não foi pensada, não está estruturada. Por isso anda
aos solavancos, sem um propósito final, apenas de acordo com as
necessidades. E quase só com as financeiras.
Dito isto, vamos à
última causa da classe: a famigerada e polémica prova para os
professores contratados. Desde o início que me levantou dúvidas estar a
duplicar--se a avaliação: se já existe uma, a que estes professores
também são sujeitos, para quê uma outra? Se a que existe é má - e eu
acho que é - devia melhorar-se de uma vez por todas e aplicar-se sem
receios. Ponto. Ainda admiti tratar-se de uma espécie de exame de
admissão à profissão, o que acharia admissível, e esperei para ver. Só
que além da prova afinal ser igual para professores inexperientes e para
quem tem anos e anos de profissão, o que finalmente ontem dela se soube
é aterrador. Já não bastava a forma absolutamente inaceitável como o
processo foi conduzido pelo ministério, como não há adjetivos para
qualificar o seu conteúdo. Um teste de escolha múltipla, que vale 80%,
com algumas perguntas básicas e outras cheias de rasteiras baixas, não
serve para atestar qualquer qualidade de ensino. A produção de um texto,
que vale os restantes 20%, e que até admite (imagine-se, que belo
exemplo para os alunos! )dez erros de sintaxe e de gramática, é uma
imbecilidade que também não valida ninguém para a arte de bem ensinar.
O
que vai resultar daqui? Alguns (poucos) dos desejados despedimentos.
Meia dúzia de exemplos de provas com erros básicos, que circularão por
aí, para achincalhar quem as fez. A vitimização habitual, mas desta vez
até com alguma razão, da parte dos professores. E tudo na mesma. A
educação não vai melhorar. E a qualidade dos professores também não. É
mais uma oportunidade perdida. Para o Governo. Para os alunos, claro.
Mas sobretudo para os professores. Que deviam ser os primeiros a exigir
ser (bem) avaliados. Sem medo. Em defesa dos que fazem bem o seu
trabalho. Expulsando os que dão má fama à classe. Enquanto assim não
for, é o futuro do País que se hipoteca.
Autoridade no degrau mínimo
A
escalada de 12 mil polícias escada da Assembleia acima, com o claro
beneplácito mascarado de solidariedade dos colegas em serviço, só
conseguiu duas coisas: fazer rolar a cabeça do diretor e deixar no
degrau mínimo a autoridade das polícias. Ah, e uma terceira. Pôr a nu as
incongruências de Assunção Esteves. A presidente da AR que tanto se
orgulha de presidir à casa à porta da qual todos batem, como quer
expulsar das galerias os carrascos dos maus costumes. A demagogia é um
perigo. E o que aí pode vir depois deste precedente policial também.
As esquerdas e Aguiar-Branco
Qualquer
marciano que chegasse agora a Portugal pensaria que estava num país à
beira da guerra civil. De um lado, as chamadas esquerdas agitam a
bandeira de que a democracia está em causa, que estamos à beira da
ditadura, e propõem derrubar, até à paulada se necessário for,
Presidente e Governo; do outro, um ministro, Aguiar-Branco, fala também
numa ameaça "de um Estado totalitário" e exige a imediata revisão da
Constituição, para, presume-se, impedir que os juízes do Constitucional
possam fazer cumprir essa lei maldita para o Governo. Eu, mais terrena,
depois de ler que a OCDE prevê que Portugal viole todas as metas logo no
pós-troika, temo que não haja quem nos salve.
Os amigos de Passos
Parece
que para Passos ir para o Governo foram precisas campanhas de
arregimentados dos blogues que lhe deram o empurrão decisivo. Agora, as
campanhas também existem, mas os protagonistas são outros, a nova
plataforma é a televisão, e o resultado pode ser o oposto. É mais ou
menos assim: Marques Mendes anuncia ao sábado, Marcelo acrescenta ao
domingo e pelo meio há uns bitaites de Santana Lopes e Morais Sarmento. A
última encenação, em curso, é a de que a troika não exige a assinatura
do PS no programa para depois do verão, a tal "coisa" que ninguém sabe o
que é, mas de que toda a gente fala. Resta saber se estes novos amigos
estão mesmo a ajudar o PM ou a dar-lhe um empurrão fatal.
DIRECTORA-ADJUNTA
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
23/11/13
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