HOJE NO
"OBSERVADOR"
Defesa não tem gasto em média
200 milhões de euros por ano
dos seus orçamentos
Nos últimos oito anos, a Defesa tem gasto menos 200 milhões de euros que o autorizado pelo Parlamento nos orçamentos. Despesa de 2016 foi a mais baixa em quatro anos.
O roubo de material militar dos paióis de Tancos na semana passada levantou várias críticas à esquerda sobre o orçamento para o Ministério da Defesa nos últimos anos,
com o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista a relembrarem os cortes
feitos durante o governo passado e a falta de investimento. Nos últimos
oito anos, a Defesa tem gasto, em média, menos 200 milhões de euros do
autorizado pelo Parlamento nos seus orçamentos. Pelo menos parte, pode
depender da autorização das Finanças.
.
As questões prendem-se
sobretudo sobre os cortes feitos em especial durante o período em que a
troika esteve em Portugal. A trajetória dos últimos anos tem sido, de
facto, de contenção nos orçamentos para a Defesa (mas não só), mas essa
contenção tem sido uma constante nos últimos dois governos e não apenas
no de Passos.
Olhando para o dinheiro do orçamento gasto pelo Ministério da Defesa desde 2009, apenas em 2010 houve um aumento substancial de verbas.
Nesse ano, o dinheiro gasto pela Defesa subiu em mais de 200 milhões,
em parte devido ao programa de estímulo e investimento que o governo de
José Sócrates implementou para tentar conter os efeitos da crise que
começava a afetar Portugal de forma mais severa nessa altura. Como o
Ministério das Finanças liderado por Teixeira dos Santos explicava no
relatório do Orçamento do Estado para 2010, o orçamento desse ano
aumentava 6,5%, um aumento justificado com o reforço da Lei de
Programação da Infraestruturas.
Mas este aumento foi sol de pouca
dura. Pouco depois, a necessidade de começar a cortar o défice impôs-se e
Teixeira dos Santos anunciava cortes e privatizações. A Lei de
Programação Militar começou a sofrer um corte de 40%, corte que se
manteve. Os Estaleiros Navais de Viana do Castelo. Edisoft, Eid,
Empordef IT entraram para a lista de empresas a privatizar.
De 2010 para 2011, o Ministério da Defesa gastou menos 185 milhões de euros.
A maior queda aconteceu no ano seguinte,
o primeiro orçamento depois da troika chegar a Portugal e com o governo
já a implementar o plano acordado com o FMI, a Comissão Europeia e o
Banco Central Europeu: o dinheiro gasto pela Defesa caiu mais de 260 milhões de euros.
Em
2013, a despesa do orçamento da Defesa cresceu em quase 80 milhões, em
parte devido à necessidade de reforçar o orçamento do Ministério para
garantir que tinha capacidade para pagar os subsídios de férias e de
natal, que haviam sido cortados no início do ano, mas que o Tribunal
Constitucional chumbara logo em julho.
Desse ano em diante, o orçamento executado do Ministério da Defesa
ficou praticamente inalterado: em 2014 gastou-se menos cerca de 9
milhões de euros; em 2015 menos 7,5 milhões de euros.
Foi já com o atual Governo que foi aplicado novo corte. No primeiro orçamento do Governo de António Costa, o Ministério da Defesa gastou menos 50 milhões de euros,
o valor mais baixo desde 2012, ano em que o orçamento tinha sido
cortado porque a Defesa já não tinha de pagar subsídios de férias e de
natal.
A Defesa e o Défice
Todos os anos é normal que os governos tenham uma margem dentro de
cada um dos Ministérios reservada para cobrir eventuais desvios nas
contas. Se for preciso apertar um pouco mais o cinto porque alguma
despesa imprevista surgiu, e a dotação provisional não chegar,
há sempre cativações: ou seja, a parte dos orçamentos aprovados no
início do ano que não podem ser usados sem autorização do ministro das
Finanças.
A despesa que foi feita pelo ministério da
Defesa desde 2009 mostra que este tem sido um Ministério com uma
contribuição muito regular para conter o défice no final do ano. Nos últimos oito anos, a Defesa gastou em média menos 207 milhões de euros do que o previsto nos seus orçamentos.
Ou seja, menos 207 milhões de euros do que aquilo que o Parlamento aprovou no início destes anos para ser gasto.
Esta
média até seria mais alta se o ano de 2010, aquele em que Governo
aumentou o orçamento da Defesa para investir em infraestruturas no
âmbito do plano de estímulo à economia, não estivesse nestas contas
porque, nesse ano, apenas 46,1 milhões de euros ficaram por gastar.
Em
2009, já tinham ficado por executar 238,8 milhões de euros do que
estavam previstos no orçamento desse ano. Em 2011 foram 167,4 milhões de
euros. Em 2013 ficaram por executar 239,1 milhões de euros, em 2014
outros 257,7 milhões de euros, em 2015 mais 253,6 milhões de euros.
Em
2016, já com um orçamento executado pelo atual Governo, a Defesa não
gastou 242,2 milhões de euros, acabando por ter a menor despesa dos
últimos quatro anos.
Têm PCP e Bloco razão nas críticas?
O Bloco de Esquerda e o PCP lembraram os cortes, quando exigiam
responsabilidades pelo assalto, especialmente depois das questões da
falta de segurança da infraestrutura, do número de rondas de quem guarda
os paióis e do número de militares.
O secretário-geral do PCP
disse mesmo que há responsabilidade dos sucessivos governos, “que
reduziram ao osso a condição militar, tanto no plano pessoal, dos
direitos dos militares e da própria quantidade das Forças Armadas,
esquecendo muitas vezes que, aceitando as imposições designadamente da
União Europeia, dos cortes e mais cortes, de reduções e mais reduções,
colocam em causa aquilo que é a missão fundamental das nossas Forças
Armadas, que é serem o garante da nossa independência e soberania”.
De facto tem havido cortes dos vários governos, mas os orçamentos até se têm mantido estáveis desde 2013. No
ano passado, num orçamento que teve o carimbo de aprovação do PCP e do
Bloco de Esquerda, a Defesa acabou por gastar menos 50 milhões de euros,
o maior corte desde 2012.
Mas não é só o valor gasto que
é importante. A execução é onde o Governo tem mais margem para ajustar
as contas a meio do ano. Aqui, só no ano passado, ficaram por gastar
242,2 milhões de euros que o Parlamento deu autorização ao Ministério da
Defesa para gastar. No entanto, parte deste valor depende de
autorização do Mário Centeno para ser gasto.
* O roubo do armamento não tem a ver com orçamentos para câmaras de video vigilância. Há de certeza colaboração interna no roubo e o que desapareceu não saiu pelo buraco fotografado.
Depois há o desleixo da cadeia de comando até à inexistência de sentinelas permanentes e o custo da segurança a um paiol das forças armadas não tem preço. A manifestação de deposição de espadas pelos oficiais à porta do Palácio de Belém é, num país democrático, desobediência gravíssima à hierarquia, confronto ao mais alto dignitário nacional e desrespeito ao conceito de subordinação do poder militar ao poder civil. Não estamos na Turquia nem na Venezuela, muito menos na Grécia dos coronéis.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário