Organização do Desporto
nas Instituições de Ensino
Superior Público em Portugal
O desporto na Universidade comummente e
anacronicamente designado por desporto Universitário — desporto é o
objeto da atividade e a Universidade o contexto no qual se desenvolve
não modificando nem as regras nem os procedimentos da sua
operacionalização — surgiu no século XIX em Inglaterra e foi introduzido
nas Instituições de Ensino Superior (IES) com o objetivo de gerir os
tempos livres dos estudantes, fomentado a confraternização e fator
importante para alcançar um estilo de vida mais saudável.
Décadas
mais tarde, o desporto na universidade organizou-se sob a tutela da
confederação internacional de estudantes (ICS), liderada pelo Francês
Jean Petitjean, que organizou uma série de jogos universitários (de 1923
em Paris até 1939 no Mónaco) instituição que daria lugar à FISU em
1948, pela ação de Paul Schleimer, dando origem à organização da semana
internacional do desporto (1949 em Merano, Itália) percursora, mais
tarde, dos jogos Mundiais Universitários (1957, pela Federação Francesa
do desporto Universitário).
Em Portugal o desporto na
universidade está na dependência da FADU — Federação Académica do
Desporto Universitário- Federação multidesportiva com a missão de
organizar o desporto na universidade em toda a sua dimensão -
desportiva, educativa e social — fomentando a competição, o convívio e
intercâmbio de estudantes das várias instituições de ensino superior
dentro e fora de Portugal.
O facto de o desporto nas IES
universidades ser uma área em cada vez maior expansão, principalmente na
última década, quer pela sua importância crescente na sociedade quer
pelo reconhecimento, na missão institucional das IES que assume,
provocou a necessidade de se delinearem opções estratégicas, tendo em
conta, as atividades e o modelo de organização, obrigando à criação de
serviços desportivos integrados ou autónomos.
Na rede pública de
IES em Portugal, constituída por 13 Universidades públicas o ISCTE e a
Universidade católica e 15 Institutos Politécnicos, cerca de 71% das
Universidades e 67% dos Institutos politécnicos possuem um serviço ou
gabinete desportivo responsável pela gestão do desporto sob as mais
variadas formas de organização.
No último encontro de Serviços
Desportivos Universitários do Ensino Superior de Portugal, realizado em
Leiria em janeiro de 2017, foram apresentados dados de 12 destas IES
públicas em Portugal (3).
A maioria dos serviços
desportivos (50%) estão alocados aos Serviços de Ação Social; 25% estão
na dependência direta ou da reitoria da universidade ou da presidência
dos institutos; 16%, são geridos pelas Associações de estudantes e/ou
académicas e os restantes 9% são geridos por serviços autónomos.
Mais
do que reforçar a existência, já demonstrada, de diferentes modelos de
organização do desporto, o que nos deve preocupar é o serviço que
prestam aos estudantes, de acordo com as condições estruturais, de
enquadramento técnico-científico e académico que disponibilizam, sendo
paradigmático que nalgumas IES nem a coordenação científica dos
programas sejam assumidos por recursos qualificados existentes.
A
generalidade dos serviços com a tutela do desporto possuem elementos
comuns: forte ligação aos estudantes-atletas pois são estes que
representam a Instituição nos diferentes campeonatos organizados pela
Federação Académica de Desporto Universitário (FADU); recursos humanos,
técnicos qualificados; gestão eficaz dos espaços desportivos disponíveis
e/ou a agregar; capacidade de captar Atletas-Estudantes, através da
atração regulamentar que permita conciliar os estudos com a prática
desportiva.
Não existindo no quadro de referência europeu um
modelo de organização e estruturação do desporto equivalente ao
existente no paradigma internacional, a NCAA — National Collegiate
Athletic Association — entidade máxima do desporto na universidade nos
Estados Unidos da América, o facto é que cada vez mais a importância
crescente do desporto nas IES em Portugal obriga a novas práticas de
organização podendo a prazo ser uma fator diferenciador para a captação
de novos alunos e afirmação Nacional e Internacional das instituições
com uma papel relevante nos resultados desportivos dos nossos
desportistas.
Papel das IES no desporto na Universidade.
O
desporto na universidade deve-se basear na educação: dos valores, à
prática como modelo e ao rendimento como excelência, que vê nos
participantes — os atletas — como estudantes em busca de uma educação,
devidamente alinhada com a missão, visão e valores institucionais.
Há,
por isso, elementos nucleares para a consolidação dos modelos de
organização e promoção do desporto que deveriam estar presentes em todas
as IES, públicas.
Ao nível da organização e massificação:
a.
Inscrevendo a promoção da prática regular do desporto na comunidade
académica, na missão, visão e valores institucionais, assumindo a aposta
no desporto e exercício como pilar estratégico da formação e bem-estar
da comunidade;
b. Promovendo o desporto como um setor de excelência para a investigação e inovação.
Ao nível do rendimento desportivo:
a.
Atrair estudantes-atletas para prática regular ativa, e participação
competitiva nos campeonatos organizados pela FADU devidamente
coordenados com o percurso académico;
b. Atrair, criando
condições especiais estudantes-atletas de alto rendimento desportivo,
aumentando a projeção da imagem institucional ao nível regional,
nacional e internacional, por um lado, e possibilitando as carreiras
duais por outro.
Papel complementar da FADU no desporto na e das IES
Tendo
em consideração a importância, representatividade e o papel
progressivo que o desporto nas IES desempenha atualmente seria
determinante um trabalho complementar da FADU na definição de políticas
transversais, especificamente:
1. Na redefinição da missão
institucional das IES inserindo o desporto e o exercício num conceito
de Health-Campus transversal com a definição de unidades curriculares e
respetivos ECTS no currículo dos alunos dos diferentes ciclos de estudo;
2. No apoio à definição dos modelos de organização dos
serviços desportivos face ao benchmarking existente e à massa crítica
institucional neste âmbito;
3. No apoio à definição institucional de vários regulamentos:
a. Estudante-Atleta, prática federada, nas diferentes IES;
b.
Estudante- atleta de alto rendimento em cooperação estratégica com o
subsistema de alto rendimento desportivo e carreiras duais;
c. Atribuição bolsas de estudo, totais e/ou parciais face ao envolvimento (1) e representatividade (2) dos estudantes e os resultados desportivos.
4.
Coordenação, entre as federações desportivas e as IES em tarefas
determinantes: i) sinalização dos locais institucionais de prática com
melhores condições para o alto rendimento; ii) criação de laboratórios
de apoio institucionais de controlo e avaliação do processo de treino,
disponibilizando os recursos humanos, logísticos e organizativos
existentes para esse efeito.
«Podemos sempre motivar-nos a chegar
mais longe. Escrevam sobre isso, sonhem com isso. Mas depois,
transformem em ação. Não se limitem a sonhar», Dan Gable.
* Professor Catedrático Departamento Ciências
Desporto, Exercício e Saúde da UTAD; Membro do Conselho Nacional
Educação (CNE); Membro do Conselho Nacional do Desporto (CND);
Presidente do Conselho Cientifico da Rede Euro Americana de Motricidade
Humana; Presidente da Federação Portuguesa de Natação.
(2) Sérgio Pereira — Mestre em gestão desportiva. Gestor desportivo dos SasUevora
(3) Gabinete de Desporto da Universidade do Porto, 2017.
(2) Sérgio Pereira — Mestre em gestão desportiva. Gestor desportivo dos SasUevora
(3) Gabinete de Desporto da Universidade do Porto, 2017.
IN "A BOLA"
03/05 /17
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