Importância das "soft skills"
- a mudança de paradigma
Quando, há alguns anos, se pensava em formação avançada de gestão, aquilo que nos vinha à mente era toda uma panóplia de temas associados a finanças, marketing, estratégia, entre outros.
A questão da liderança era incluída numa disciplina da área de
recursos humanos, mas, a não ser que a memória me traia, a questão do
desenvolvimento pessoal era algo de que se falava muito vagamente.
Passados
vários anos, o que estamos a assistir é a consciencialização de que o
conhecimento técnico sendo fundamental para se ser um gestor de sucesso
não é suficiente. A capacidade de transformar esse conhecimento numa
visão, que inspira equipas e que as motiva para uma implementação de
excelência é neste momento vista como a peça crucial.
Paralelamente
o mundo em que operamos é também ele muito diferente daquele que
tínhamos há 20 anos. A velocidade, a incerteza, a complexidade e a
ambiguidade são hoje realidade, sendo que a capacidade de adaptação e a
flexibilidade ganharam nova relevância. E se isto é verdade hoje, será
ainda mais no futuro.
De acordo com David Deming,
professor associado de Educação e Economia na Universidade de Harvard,
competências como capacidade de negociação, partilha, empatia e
cooperação serão fundamentais para se obter sucesso no futuro.
Curiosamente estas são as competências que aprendemos no infantário, mas
que depois deixam de estar integradas no próprio sistema educativo.
O
desafio passa, assim, por conseguir desenvolver culturas empresariais
onde se promova o desenvolvimento destas competências. Se até aqui o
tema da diversidade era visto pela perspetiva dos números, a partir de
agora terá de ser cada vez mais entendido como uma oportunidade de
desenvolvimento de competência dos colaboradores. O facto de as pessoas
estarem alocadas a projetos multidisciplinares, com pessoas de
diferentes nacionalidades, cria um laboratório perfeito para
experimentarem novas formas de estar e de ser, e que serão fulcrais para
o seu sucesso e o das suas empresas.
Simultaneamente, o
próprio sistema educativo terá de se adaptar a esta nova realidade. Se
no passado o professor era tido como o detentor da sabedoria, com a
difusão da tecnologia e do conhecimento, neste momento os alunos veem o
professor muito mais como um facilitador de um debate, do que alguém que
lhes transmite o que eles podem ler online. Aquilo a que assistimos é o
porquê a sobrepor-se ao quê. Os alunos atuais, começando na primária e
acabando na universidade, têm necessidades diferentes e o mundo requer
que desenvolvam competências diferentes.
E se um mundo
tecnologicamente avançado traz muitos benefícios para a forma como
vivemos, também traz muitos desafios, especialmente no que toca ao
desenvolvimento de competências sociais. Não deixa de ser um
contrassenso que a ilusão da conectividade dificulte o desenvolvimento
de competências de relacionamento e que, apesar de muitas vezes as
pessoas terem uma presença online bastante ativa, tenham imensas
dificuldades em desenvolver relações que privilegiem o contacto pessoal.
No entanto, são essas competências que serão cada vez mais valorizadas,
num mundo em que as máquinas irão progressivamente substituir o homem,
nas tarefas mais rotineiras.
Neste contexto cabe, contudo,
dizer que grandes desafios trazem grandes oportunidades. E é exatamente
por causa disso que, ao ganharem consciência da importância das "soft
skills", muitas pessoas se envolvem em processos de desenvolvimento
pessoal, recorrendo a ferramentas como o "coaching". E é também por
causa disso que algumas universidades ao redor do mundo começam a
integrar a componente de desenvolvimento pessoal nos seus currículos.
E
se a relevância destas dimensões parece ser óbvia, é importante
salientar que já começou a ser medida. A título de exemplo, no estudo
realizado no Reino Unido em 2015, "The value of Soft Skills to the UK
Economy", conclui-se que as "soft skills" contribuíram para 88,5 mil
milhões de libras, o que corresponde a 6,5% do valor acrescentado bruto
da economia britânica. E a previsão é que esse valor vá ser ainda mais
relevante no futuro.
* Diretora Executiva do The Lisbon MBA
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
21/05/17
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