HOJE NO
"DIÁRIO ECONÓMICO"
Fisco reteve 486 milhões
em reembolsos de IVA em 2015
O número de reembolsos de IVA suspensos pelo Fisco disparou 247% em
2015, face ao ano anterior, para 9.453, no valor de 485,9 milhões de
euros, uma subida de 292% face a 2014. Nos reembolsos recusados houve
também um aumento muito expressivo: uma subida de 79%, para 4.687 e de
420% no valor de 9,6 milhões de euros para 49,8 milhões de euros, de
acordo com os dados do Ministério das Finanças facultados ao Diário
Económico.
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Enquanto o Fisco decide se o Estado vai ou não ter de
devolver o valor dos reembolsos, a suspensão pode representar, no
imediato, problemas de tesouraria importantes para as empresas. A
responsabilidade destes resultados é das regras de concessão dos
reembolsos que são consideradas demasiado apertadas e que criam
injustiças acabando por prejudicar empresas que não estão em situação de
incumprimento, como alertam os especialistas ouvidos pelo Diário
Económico. Os dados sugerem ainda que, em muitos casos de reembolsos
suspensos, acaba por ser dada razão ao contribuinte, sendo a maior parte
do montante retido devolvido.
As Finanças explicam que o
aumento nos reembolsos suspensos tem a ver com situações de
incumprimento que foram detectadas no âmbito de um despacho aprovado em
2010. Segundo esta norma, para que os reembolsos sejam concedidos, as
empresas não podem ter divergências declarativas e as declarações dos
vários impostos têm de estar em dia. Além disso, têm de ter uma conta
bancária e não podem relações com contribuintes com um número de
identificação fiscal inexistente, sejam eles clientes ou fornecedores.
Mas
no final de 2014, estas regras foram alteradas pelo então secretário de
Estado dos Assuntos Fiscais, Paulo Núncio. O novo despacho passou a
incluir mais critérios para que os reembolsos fossem concedidos, como a
obrigação de não se verificarem divergências entre os valores
comunicados e os valores declarados.
A norma criou algumas
injustiças. O alerta não é novo e os especialistas continuam a
referi-lo: há discrepâncias que são encontradas que nada têm a ver com a
empresa em questão, mas com os seus fornecedores que não comunicaram as
facturas devidas, como indica o bastonário da Ordem dos Contabilistas
Certificados (OCC), Domingues Azevedo. Assim, ao comparar o pedido de
reembolso com as declarações periódicas da empresa e dos seus
fornecedores encontra divergências e suspende o reembolso.
Para o
fiscalista João Espanha, a situação “é preocupante”, e pode colocar
problemas de tesouraria às empresas. “As mais expostas são as
exportadoras, que suportam o montante de IVA a montante e depois têm
direito ao reembolso”. Para João Espanha, o despacho devia ser ou
“alterado ou a Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) devia ser mais
eficaz na resolução das situações”.
Por sua vez, o presidente da
Confederação de Comércio de Portugal (CCP), Vieira Lopes afirma que,
apesar de não haver estatísticas oficiais, “há mais empresas a
queixarem-se de dificuldades de tesouraria por causa do IVA”. O
responsável afirma que o “Fisco tem uma preocupação cada vez maior com
as empresas que não cumprem as suas obrigações”, o que admite, “está
correcto”, mas “acaba por prejudicar também quem cumpre”. “Na prática é
preciso perceber a importância da discrepância encontrada, porque há
casos em que, por pequenas divergências, o reembolso foi logo
bloqueado”.
No total, foram pagos 4,6 mil milhões de euros em
reembolsos, menos 3% do que em 2014. O número de contribuintes que teve
direito a reembolsos também caiu, em 3,2%, para 95.640.
A
questão dos reembolsos foi particularmente discutida em época de
eleições por causa da sobretaxa de IRS. Alguns especialistas afirmavam
que a devolução da sobretaxa de IRS - que depende de um crescimento das
receitas de IVA e de IRS superior a 3,7% - podia estar em risco
precisamente por causa dos reembolsos de IVA.
Ao serem suspensos, havia
um efeito de empolamento das receitas, que ao terem de ser pagos pelo
Estado, colocariam em causa a promessa do Governo de Passos Coelho de
devolver a sobretaxa. A Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) que
presta apoio técnico aos deputados da Assembleia da República chegou a
admitir “que os reembolsos do IVA poderão acelerar nos próximos meses,
aproximando-se dos valores verificados em anos anteriores”.
* Reter dinheiro do contribuinte deveria ser crime.
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