HOJE NO
"JORNAL DE NEGÓCIOS"
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Cartões de débito:
Cerco montado à carteira
As anuidades dos cartões de débito subiram a ponto
de, muitas vezes, se revelarem mais caras do que as cobradas pelos de
crédito.
O Multibanco é a última fronteira, um
oásis para a realização de operações bancárias sem custos, protegido que
está por uma lei que impede as instituições de cobrarem pela
utilização. Transferências, pagamentos, levantamentos, entre outros,
estão livres de encargos se realizados com o cartão de débito, numa das
caixas que nos habituámos a ver em cada esquina do País.
Mas, se o
Multibanco facilita a vida dos portugueses, o raciocínio também se
aplica aos bancos, que têm acumulado lucros consideráveis pelo menor
recurso aos balcões. Apesar disso, sempre tentaram pressionar para que
também as operações no Multibanco fossem cobradas, ensejos que têm
ciclicamente esbarrado na parede da lei.
Nada disto deteve as
instituições. Se não podem aplicar custos às operações, descobriram mais
uma forma de contornar a legislação e passaram a onerar o próprio
cartão. Talvez ainda não tenha dado conta, mas o seu "cartão Multibanco"
está muito mais caro. Analisámos a evolução dos custos desde 2009 e
concluímos que pesam cada vez mais na carteira dos portugueses. Em
média, o aumento é de 10% ao ano, o que implica que as anuidades tenham
praticamente duplicado nos últimos seis anos. O incremento é de tal
ordem que, por vezes, esta anuidade chega a ser mais elevada do que a
aplicada aos cartões de crédito, um produto que não é indispensável.
E
assim vamos nós, perante a passividade inaceitável do Banco de
Portugal, que assiste sem pestanejar a mais uma situação lesiva dos
interesses dos consumidores.
Custos a ritmo descontrolado
Em
finais de 1985, foram introduzidas as primeiras máquinas Multibanco no
País e emitidos os primeiros cartões de débito. De início, eram
gratuitos para incentivar a utilização. Mas rapidamente os bancos
começaram a cobrar uma comissão, alegando custos de produção. Este
encargo era aplicado na emissão e renovação, a última acontecendo a cada
dois ou três anos. Mais tarde, os bancos deixaram de relacionar os
custos imputados ao cliente com a emissão ou a renovação e passaram a
cobrar uma anuidade, que foi crescendo exponencialmente ao longo dos
anos, com especial incidência a partir de 2011.
Com o nosso estudo, concluímos que, para movimentar a conta bancária por
esta via, há que pagar, em média, quase 1 euro por mês, mais
concretamente, 11,62 euros por ano. Das 18 instituições que analisámos,
apenas o ActivoBank continua a disponibilizar o cartão de forma
gratuita. Os restantes cobram anuidades que chegam aos 15,60 euros no
caso do Banco BPI,
da Caixa Geral de Depósitos e do Millennium bcp. Apenas cinco
instituições não vão além da barreira dos 10 euros: BiG, Caja Duero,
Crédito Agrícola, Montepio e Abanca.
Como podemos ver no gráfico
ao lado, em 2009, um cartão de débito custava, em média, 6,83 euros
anuais. Dois anos mais tarde, o valor chegava aos 7,50 euros. Desde
então, o custo disparou verdadeiramente. Só entre 2014 e 2015, subiu em
média 9,8%, ou seja, 1,04 euros. Se pensarmos nos últimos quatro anos, o
acréscimo foi de quase 55 por cento. A manter-se esta evolução, dentro
de uns 15 anos, pagaremos bem mais do que 50 euros a título de anuidade.
No intervalo de 2009 a 2015, cinco instituições de crédito mais do que duplicaram o valor aplicado: o Banco BIC, o Banco BPI, o Banif, o Millennium bcp e o Santander
Totta. Nos dois primeiros, a variação chegou aos 150%, passando de 5,20
para 13 euros e de 6,24 para 15,60 euros, respetivamente. Aliás, estes
cinco bancos cobram uma média muito superior (15,27 contra 11,62 euros) e
têm feito subir os custos de forma mais acentuada do que a
concorrência.
Outras três instituições evidenciaram aumentos
superiores a 90% no mesmo período: o Best Bank, o Novo Banco e a Caixa
Geral de Depósitos. Apenas o BiG e a Caja Duero mantiveram os valores
cobrados e o Montepio registou um incremento a rondar os 10 por cento.
Débito mais caro do que crédito
Um
cartão de débito é hoje uma ferramenta quase obrigatória para
movimentar a conta bancária. O mesmo não se pode dizer de um cartão de
crédito. Apesar de útil, pois disponibiliza um financiamento para
qualquer eventualidade, não é indispensável. Além disso, os elevados
custos, sobretudo ao nível dos juros, impõem cautelas na utilização.
Se
compararmos apenas as anuidades de ambos os tipos de cartões,
verificamos que já não existem grandes diferenças e que, em muitos
bancos, o de crédito sai até mais barato. É o caso do Abanca, do BiG, do
Novo Banco e do Barclays, que possuem um cartão de crédito sem custos,
mas cobram pelos de débito. No Millennium bcp e na Caixa Geral de
Depósitos, o cartão de débito também é mais caro do que o de crédito
"classic".
Assim, se o seu cartão de crédito tiver também função
de débito e permitir aceder à rede Multibanco, como acontece com alguns
do Novo Banco, do Millennium bcp e da Caixa Geral de Depósitos, pode
abdicar do cartão de débito e poupar até 14,56 euros por ano. Isto se
pagar sempre as despesas a 100 por cento.
Rodeado de comissões por todos os lados
Após
terem empurrado os clientes para fora das agências, os bancos não
aumentaram apenas os custos dos cartões de débito. Como verificámos
através do nosso último estudo a contas à ordem, publicado na edição de
maio, são cada vez mais as instituições que cobram por outros meios de
movimentação, como o homebanking. Ainda que as operações tenham custos
bastante mais reduzidos via internet do que ao balcão, no início, eram
gratuitas. Há inclusive bancos, como o Barclays, a Caja Duero e o
Crédito Agrícola, que não concedem descontos aos clientes por optarem pela Net.
E
as contas à ordem são penalizadas por outras vias: é o caso das
comissões de manutenção - contra as quais nos posicionamos e que
constituem um fardo sobretudo para os clientes com rendimentos mais
reduzidos - e dos chamados custos de processamento das prestações dos
créditos.
Resumindo, conscientes de que os cidadãos dificilmente
vivem sem conta à ordem, e confrontados com a impossibilidade de cobrar
no Multibanco, os bancos montaram o cerco para aplicar comissões a tudo o
que mexe, sem que o Banco de Portugal se digne mover o mindinho para
impor limites a estas estratégias.
- Desde 2009 que as anuidades dos cartões de débito têm vindo a aumentar, em média, mais de 10% ao ano, valor muito superior ao da inflação neste período. No mesmo banco, chegam a existir cartões de débito mais caros do que versões que concedem crédito. Trata-se de uma subida injustificada, pois os bancos já obtêm lucros avultados com a menor utilização dos balcões. É caso para dizer que a atividade principal das instituições está a deixar de ser a realização de operações financeiras para passar a ser a aplicação de comissões.
- Tal como em tantas outras áreas, o Banco de Portugal optou por uma atitude passiva, não protegendo os interesses dos consumidores. Será necessário que as anuidades dos cartões de débito atinjam valores exorbitantes para o regulador intervir, como aconteceu, por exemplo, no crédito? Face à inércia do Banco de Portugal, daremos conta dos resultados do nosso estudo à Assembleia da República e ao Ministério das Finanças. E, em breve, publicaremos os resultados.
* Uma importantíssima informação da "Associação para a Defesa do Consumidor"
** PORREIRO PÁ, continuem a votar nos partidos do "COVIL DA GOVERNAÇÃO"
Limites para a subida da anuidade
- Movimentar uma conta está cada vez mais caro.
Após incentivarem os consumidores a evitar os balcões para realizarem as
suas operações, os bancos passaram a cobrar a quem utiliza esses mesmos
meios de movimentação à distância, como o homebanking e os cartões de
débito. - Desde 2009 que as anuidades dos cartões de débito têm vindo a aumentar, em média, mais de 10% ao ano, valor muito superior ao da inflação neste período. No mesmo banco, chegam a existir cartões de débito mais caros do que versões que concedem crédito. Trata-se de uma subida injustificada, pois os bancos já obtêm lucros avultados com a menor utilização dos balcões. É caso para dizer que a atividade principal das instituições está a deixar de ser a realização de operações financeiras para passar a ser a aplicação de comissões.
- Tal como em tantas outras áreas, o Banco de Portugal optou por uma atitude passiva, não protegendo os interesses dos consumidores. Será necessário que as anuidades dos cartões de débito atinjam valores exorbitantes para o regulador intervir, como aconteceu, por exemplo, no crédito? Face à inércia do Banco de Portugal, daremos conta dos resultados do nosso estudo à Assembleia da República e ao Ministério das Finanças. E, em breve, publicaremos os resultados.
* Uma importantíssima informação da "Associação para a Defesa do Consumidor"
** PORREIRO PÁ, continuem a votar nos partidos do "COVIL DA GOVERNAÇÃO"
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