HOJE NO
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Médicos alarmados com número de
. jovens que não têm medo de vir a ter sida
Médicos estão preocupados com a “banalização” da doença, ao ponto de se pensar que ser infectado permite mais liberdade
Noites
em discotecas que terminam com as pessoas todas sem roupa, embriagadas e
sem se lembrarem sequer se usaram ou não preservativo nas relações com
desconhecidos. Encontros e festas combinados através de aplicações como o
Grindr ou o Scruff, mais utilizadas por homossexuais, onde por vezes é
assumido que vão estar seropositivos e a protecção não é regra. Estes
são alguns relatos que começam a preocupar os médicos que acompanham
casos de VIH no país. Se as situações extremas surpreendem, a grande
preocupação contudo é que os jovens, homossexuais e heterossexuais,
parecem estar cada vez mais descuidados no sexo e a desvalorizar o
impacto da doença.
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“Os relatos mais desviantes de que ouvimos falar acabam por ser
reflexo de uma banalização transversal da doença entre os jovens”, diz
Paulo Rodrigues, director do serviço de infecciologia do Hospital de
Loures. Sendo fenómenos que ocorrem em Portugal como no estrangeiro, o
médico insiste contudo que orgias e festas sexuais não são as situações
mais comuns. “Sempre houve promiscuidade, a questão de fundo é que as
pessoas e em particular os jovens parecem estar a proteger-se menos. As
festas estarão por trás de 1% dos casos, quando a grande maioria resulta
não de comportamentos desviantes mas de descuidos.”
Da experiência deste médico, a maioria dos novos casos em jovens
resulta de relações fortuitas em saídas em bares, festas com colegas da
faculdade ou do trabalho em que existe menor preocupação com o uso do
preservativo.
Um infecciologista de um grande hospital do Norte, que
prefere não se identificar, concorda. “Um caso genérico habitual é de um
jovem que vai sair, bebe, tem relação desprotegida com alguém que
conhece e nunca mais vê. Até fica preocupado, faz o teste passadas duas
semanas mas dá negativo porque é demasiado cedo. E só mais tarde, ou
porque em alguns casos há sintomas, é que percebe que se infectou”, diz o
médico, testemunhando haver uma crescente desvalorização da doença
mensurável em pequenas coisas, por agora subjectivas. “Nunca tive nenhum
doente que me dissesse que ter VIH ou não lhe fosse indiferente, mas
quando dizemos que vamos testar para o VIH e é como se disséssemos que
vamos testar diabetes ou a pessoa chega com o diagnóstico e diz que é só
tomar um comprimido nota-se uma mudança”, explica. “Nos novos
diagnósticos em idades jovens as pessoas não parecem ficar
surpreendidas, aceitam-nos melhor e é quase como estivessem à espera.”
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Outra infecciologista do Centro Hospitalar Lisboa Central diz que por
vezes a desvalorização da doença chega a ser assustadora, sobretudo
quando já não se trata de falta de informação. Se entre os jovens
heterossexuais, o receio da gravidez ainda obriga muitas vezes a
utilização do preservativo, entre os rapazes homossexuais a médica
admite que a situação é preocupante e que têm surgido nas consultas
jovens com 18 e 19 anos. “A maioria não usa preservativo. Como são
jovens a relacionar-se com jovens da mesma idade pensam que o risco é
baixo e às vezes até parece que existe a ideia de que, como já é tão
incidente, é possível ter uma vida normal, trabalhar, tomar a medicação
sem os efeitos secundários do passado, e ser infectado permite mais
liberdade.”
A médica admite que existem relatos de festas sexuais mas
acha pouco provável que em Portugal haja situações em que é partilhada
medicação anti-retroviral entre parceiros ocasionais em festas, como
sucede na prática do bareback descrita nos EUA e no Brasil. “Em Portugal
a dispensa de anti--retrovirais é muito controlada nos hospitais”, diz.
Para Paulo Rodrigues, mais que estigmatizar grupos, importa reflectir
sobre como se chegou a esta encruzilhada. E essa será uma história
agridoce. Por um lado, resultará da melhoria nos tratamentos, da
sobrevivência e da diminuição das doenças oportunistas desde os anos 90.
Por outro, do esforço que houve para a não discriminação dos
seropositivos. Mas com isto suavizou-se a doença. “Apesar de grandes
melhorias, o normal é não estar infectado”, diz o médico, defendendo ser
necessária menos “cerimónia” na informação aos jovens. “O preservativo
diminui a sensação de prazer, mas não a elimina.
E se uma pessoa for infectada terá de usar preservativo para sempre
mesmo em relações duradouras.” Também o infecciologista do Norte defende
que as campanhas deixem de passar a informação “a metade”, pois as
sequelas do VIH existem. E apesar de a maioria das pessoas, com a nova
medicação, lidarem bem com a infecção, por ano há mais de 200 mortes,
também entre jovens.
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Neste esforço, Paulo Rodrigues defende ser importante não voltar a
cometer o “erro” de centralizar a análise da despreocupação em grupos
como os homossexuais ou populações migrantes e interiorizar que por
detrás das infecções estão comportamentos e não grupos. E mais de 60%dos
casos no país surgem em contexto heterossexual.
A preocupação é que no futuro os casos de infecção VIH/sida tornem a
subir, receio que vem de por exemplo a nível europeu estarem a aumentar
outras infecções sexuais, como sífilis ou gonorreia. Os últimos dados
nacionais apontam apenas um ligeiro aumento do peso das infecções em
homossexuais jovens. Mas como muitos diagnósticos ainda são tardios, o
comportamento que hoje preocupa os médicos poderá só se reflectir mais
tarde nas estatísticas. Em relação à protecção houve um alerta recente. O
último estudo Marktest sobre a atitude da população face à infecção, de
2013, revelou um retrocesso no uso de preservativo.
* O verdadeiro problema começa na demissão parental, pais e educadores compensam com dinheiro o afastamento que preferem manter dos filhos. Um ditado muito antigo diz, "Parir é dor, criar é amor". Só pais responsáveis geram filhos responsáveis, as excepções são mínimas.
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