21/02/2014

VIRGÍNIA TRIGO

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O que esperar num
casamento chinês

Com o crescente investimento chinês no nosso país – já representa cerca de 50% das recentes privatizações – é bem provável que os relacionamentos se estreitem e o leitor venha a ser convidado para um casamento chinês. O que esperar então?

O novo ano do calendário chinês que agora se inicia, o Ano do Cavalo, não é particularmente propício a casamentos, mas ainda assim, com o sentido pragmático que todos lhes reconhecemos, os chineses são capazes de encontrar um sem número de circunstâncias atenuantes, geradoras de consonâncias cognitivas, para justificar os casamentos que irão ocorrer este ano. Os preparativos já começaram há pelo menos doze meses e as datas mais favoráveis foram já identificadas. Os chineses podem assim escolher entre um razoável número de 126 dias auspiciosos, espalhados ao longo do ano, que depois terão de conjugar com diversos outros requisitos como, por exemplo, a compatibilidade entre os anos em que os noivos nasceram. Maio e Julho são os meses com mais dias auspiciosos, mas de entre todos, o 31 de Janeiro, 14 de Fevereiro, 8 de Setembro e 24 de Dezembro são os mais favoráveis a casamentos em 2014.

Com o crescente investimento chinês no nosso país – já representa cerca de 50% das recentes privatizações – é bem provável que os relacionamentos se estreitem e o leitor venha a ser convidado para um casamento chinês. O que esperar então? Terá de se preparar para um grande acontecimento onde nenhuma despesa será poupada para assegurar a felicidade e a prosperidade do futuro casal. Tudo é preparado ao mais ínfimo pormenor pelos mais velhos da família desde a comida até ao cumprimento de todas as regras ditadas pela estranha junção da superstição e do pragmatismo. E sabia o leitor que a presença de um "laowai" (estrangeiro) é também portadora de boa sorte?

Pelo menos essa é a razão invocada sempre que me convidam para casamentos onde não conheço ninguém excepto a pessoa que me convidou. Isso não significa porém que seremos relegados para um canto e os papéis que nos destinam são inúmeros. Numa dessas cerimónias onde, mais uma vez, inocentemente assumi que apenas seria necessária a minha presença sorridente, foi-me pedido que entregasse no palco os presentes de sucessivas rifas. Esta actividade durou 90 minutos. Noutra ocasião fui literalmente arrastada para o palco onde tive de cantar uma canção portuguesa para uma assembleia de mais de 300 pessoas. Como só me lembrava de apenas umas estrofes, tive de me prolongar por três canções até que o público se desse por satisfeito.

Num casamento chinês espera-se que apenas os noivos estejam vestidos a rigor e não é requerido aos convidados nenhuma indumentária especial. Na mesa ficaremos sentados num grupo de 8 ou 10 pessoas onde os outros convivas irão admirar a nossa capacidade em comer com pauzinhos, pronunciar cinco palavras em mandarim e aplaudir sempre que dissermos como a China é grandiosa e bonita. Quanto às prendas, a única aceitável é dinheiro. As notas são cuidadosamente colocadas dentro de envelopes vermelhos já existentes para o efeito, e a quantia depende do nosso relacionamento com os noivos.

O banquete é um dos pontos centrais do casamento e a comida é servida em diversidade e abundância variando entre 30 e 3.000 pratos. Mais abundante ainda é a bebida: rodada após rodada de intensos "shots" onde não pode faltar o perigoso "baiju", o conhecido vinho chinês com um teor alcoólico superior a 50 graus. Ser-lhe-á pedido que faça "ganbei", isto é, que beba de um só trago toda a quantidade de um copo de "baiju", felizmente não muito grande, com toda a gente que o aborde. Pior de tudo é se for o padrinho. Nesse caso terá de substituir-se ao noivo bebendo com todos os convidados quando ele já não o puder fazer. A boa parte de um casamento chinês é que, tal como acontece noutros tipos de banquetes, chegada uma determinada hora, normalmente entre as 9 e as 10 da noite, todas as celebrações acabam e podemos retirar-nos para o descanso.

Historicamente, o Ano do Cavalo tem sido marcado por acontecimentos turbulentos e por vezes negativos. Há 120 anos – 10 ciclos de 12 anos, o tempo necessário para se completar um calendário do zodíaco – foi o início da guerra com o Japão; há 48 anos, 4 ciclos, foi o início da Revolução Cultural; há 24 anos, 2 ciclos, foi a primeira vez que visitei Xangai. Por entre conversas do que poderá acontecer este ano tenho de reconhecer que este foi um acontecimento muito positivo.

Professora da ISCTE Business School e do INDEG-IUL ISCTE Executive Education

IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
17/02/14

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