25/11/2013

UMA GRAÇA PARA O FIM DO DIA

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 BOA NOTÍCIA

O Juvenal estava desempregado há meses.

Com a resistência que só os portugueses têm, o Juvenal foi tentar mais um emprego em mais uma das muitas entrevistas.
Ao chegar ao escritório, o entrevistador observou que o candidato tinha exactamente o perfil desejado, as virtudes ideais e perguntou-lhe:
- Qual foi o seu último salário?
- Salário mínimo, respondeu o Juvenal.
- Pois se o Senhor for contratado, ganhará 10 mil euros por mês!
- A sério?
- Que carro o Senhor tem?
- Na verdade, agora só tenho um carrinho pra vender pipocas na rua e um carrinho de mão!
- Pois se o senhor trabalhar connosco ganhará um Audi para si e um BMW para a sua esposa! Tudo zero Km!
- A sério?
- O senhor costuma viajar?
- O mais longe que fui foi até Badajoz, comprar caramelos...
- Pois se o senhor trabalhar aqui viajará pelo menos 10 vezes por ano, para Londres, Paris, Roma, Mónaco, Nova Iorque, etc.
- A sério?
- E digo-lhe mais... o emprego é quase seu. Só não lhe confirmo agora porque tenho que falar com meu gerente. Mas é praticamente garantido. Se até amanhã (6ª feira) à meia-noite o senhor NÃO receber um telegrama nosso a cancelar, pode vir trabalhar na segunda-feira com todas estas regalias que eu citei. Então já sabe: se NÃO receber o telegrama a cancelar até à meia-noite de amanhã, o emprego é seu!


O Juvenal saiu do escritório radiante.
Agora era só esperar até à meia-noite da 6ª feira e rezar para que não aparecesse nenhum maldito telegrama.
Sexta-feira mais feliz não poderia haver.
E o Juvenal reuniu a família e contou as boas novas.
Convocou o bairro todo para uma churrascada comemorativa à base de muita música.


Sexta à tarde já tinha comprado um barril de cerveja enorme.
Às 9 horas da noite a festa fervia.
A banda tocava, o povo dançava, a bebida rolava por todos.
Dez horas, e a mulher do Juvenal aflita, achava tudo um exagero...
A vizinha boazona, interesseira, já se atirava à descarada ao Juvenal.
E a banda tocava!
E a cerveja gelada passava!
O povo dançava!
Onze horas, o Juvenal já era o rei do bairro.
A gastar horrores para o bairro encher a pança.
Tudo por conta do primeiro salário.
E a mulher resignada, meio aflita, meio alegre, meio aparvalhada, meio assustada.


Às onze horas e cinquenta e cinco minutos... Vira na esquina a buzinar feito um louco, um tipo numa vespa...
Era do Correio!
A festa parou!
A banda calou-se!
A mulher engasgou-se!
Um bêbado arrotou!
Uma velha peidou-se!
Um cão uivou!
Meu Deus, e agora? Quem pagaria a conta da festa?
- Coitado do Juvenal!

Era a frase mais ouvida.
- Joguem água na churrasqueira!
A mulher do Juvenal desmaiou!
A motociclista parou!
O tipo desceu da vespa e dirigiu-se ao Juvenal:
- Senhor Juvenal Batista Romanos Carvalho?
- Si, si, sim, so, so, sou eu...
A multidão não resistiu...
OOOOOHHHHHHHHHHH!!!!!!!!!!!


E o tipo da vespa:
- Telegrama para o senhor...
O Juvenal não acreditava...
Agarrou o telegrama, com os olhos cheios de água, ergueu a cabeça e olhou para todos.
Silêncio total.
Não se ouvia sequer uma mosca!
O Juvenal respirou fundo e abriu o envelope do telegrama a tremer, enquanto uma lágrima caia.
Olhou de novo para o povo e a consternação era total.
Tirou o telegrama do envelope, abriu e começou a ler.


O povo em silêncio aguardava a notícia e perguntava-se:
- E agora? Quem vai pagar esta festa toda?
O Juvenal recomeçou a ler, levantou os olhos e olhou mais uma vez para o povo que o encarava...
Então, o Juvenal abriu um largo sorriso de alívio, virou-se para o povo e gritou:

? Foi a minha mãe que morreuuuuuuuu! Podem continuar a festa...


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