HOJE NO
"JORNAL DE NEGÓCIOS"
Afaste-se do brilho dourado
Não existe uma galinha dos ovos de ouro: investir no metal amarelo não fornece rendimentos nem garante lucros
São poucas as aplicações que alguma vez
se puderam gabar de retornos anuais de 14% em períodos de uma década ou
mais. Há pouco mais de um ano, no início de outubro de 2012, o ouro foi
uma delas: o retorno anual alcançado pelo metal amarelo desde a viragem
do século até então registava esta marca.
Muitos investidores acreditavam na continuidade da escalada,
porque a procura a nível mundial ultrapassava largamente a extração
mineira. Quando isto acontece, a lei da procura e da oferta exige que o
preço suba. Porém, o mercado aurífero não é tão linear. É preciso
contabilizar as existências de ouro à superfície, as operações dos
bancos centrais no mercado e o nascimento de novos veículos que agora
controlam uma importante fatia das reservas do metal.
Os investidores que insistiram em deixar o dinheiro indexado ao
ouro, ao contrário da nossa recomendação, registaram pesadas perdas
neste último ano. Desde o máximo histórico de 44,35 euros por grama, o
preço do ouro deslizou para os mais recentes 31,80 euros, de acordo a
informação compilada pelo Banco de Portugal, o que representa uma perda
de 28,3 por cento.
Falso refúgio
Longa é a tradição de investir
no ouro em situações de crise. Se receiam a falência do Estado
português, o abandono do euro ou o colapso da banca, muitos aforradores
aplicam o dinheiro em ouro. Todavia, para maximizarem a imunidade às
crises, têm de comprar ouro físico tornando-se independentes do sistema
financeiro.
Barras (cujos pesos mais comuns no retalho começam em 1 grama e
vão até ao quilograma), moedas (entre as quais as libras esterlinas e os
Krugerrands sul-africanos são as mais populares) ou peças de
ourivesaria (essencialmente medalhas e joias) são as opções. Neste
leque, as barras tendem a representar as melhores escolhas, porque não
há qualquer avaliação subjetiva. Nas moedas e nas peças de ourivesaria, o
valor depende da raridade, da qualidade e da condição do objeto,
enquanto o preço de uma barra de ouro depende diretamente da cotação
internacional do metal amarelo. Aliás, a cotação do ouro é definida para
uma barra com características bem definidas (10,9 a 13,4 quilogramas,
pureza mínima de 99,5%, entre outras), que, posteriormente, podem ser
extrapoladas para outras barras com características diferentes.
Embora exista uma cotação mundial de referência, os preços a
pagar e a receber pelos pequenos investidores podem ser bastante
díspares. Como mostra a nossa investigação detalhada nas páginas
seguintes, a perda efetiva e imediata na operação de compra é, em média,
de 15%, o que torna contraproducente a operação de proteção contra
crises através do ouro. Se vender num dos muitos retalhistas
especializados na compra de ouro, as perdas tendem a ser de mais 25 por
cento. O prejuízo do investidor resulta da margem de lucro do
intermediário, bem como dos seus custos de manuseamento, armazenagem e,
eventualmente, transformação do ouro.
Ligação direta ao mercado
Desde 2003 que os
investidores que não têm interesse em guardar ouro físico em casa podem
aplicar o seu dinheiro indiretamente em barras de ouro através de
exchange- traded funds (ETF). O SPDR Gold Shares, listado nas bolsas de
Hong Kong, México, Nova Iorque, Singapura e Tóquio, é o maior fundo
cotado deste tipo: no início de outubro tinha 906 toneladas de ouro
guardadas nos cofres do banco HSBC em Londres. Se fosse uma nação, este
ETF seria o oitavo país com as maiores reservas auríferas, à frente de
países como o Reino Unido e o Japão e de instituições como o Banco
Central Europeu.
Investir neste tipo de ETF processa-se como se fossem ações:
compram-se e vendem- se unidades na bolsa. Cada unidade tende a valer o
mesmo que uma onça de ouro e a evolução é semelhante ao preço da barra
de ouro em Londres, diminuído da comissão de gestão (que, no caso do
SPDR Gold Shares, é de 0,4% por ano).
Proteção contra inflação
É verdade que o ouro
é, entre os principais ativos, o único que tende a não sofrer com a
inflação. Aliás, em média, há uma relação positiva entre a variação do
preço do metal e a variação dos preços dos bens e dos serviços.
Apesar da sua relativa imunidade à inflação, como investimento, o
grande problema do ouro é não gerar rendimento. Mesmo que não
valorizem, a maioria das ações e das obrigações pagam dividendos ou
cupões aos seus proprietários. Os depósitos a prazo premeiam os
aforradores com juros. O ouro apenas pode dar mais-valias aos
investidores através da subida do preço. Nas análises mais longas ao
desempenho do metal, a alta que o ouro registou nos 12 primeiros anos do
século é uma exceção. Aliás, no longo prazo, os rendimentos reais
(acima da inflação) do ouro são muito baixos. Como não há qualquer
garantia de rendimento futuro, continuamos a desaconselhar o
investimento aurífero.
* A Polícia Judiciária já detectou vários traficantes, não vá em aparências, não venda jóias nem compre ouro em barras.
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