25/11/2013

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HOJE NO
"JORNAL DE NEGÓCIOS"

Afaste-se do brilho dourado

Não existe uma galinha dos ovos de ouro: investir no metal amarelo não fornece rendimentos nem garante lucros
São poucas as aplicações que alguma vez se puderam gabar de retornos anuais de 14% em períodos de uma década ou mais. Há pouco mais de um ano, no início de outubro de 2012, o ouro foi uma delas: o retorno anual alcançado pelo metal amarelo desde a viragem do século até então registava esta marca.


Muitos investidores acreditavam na continuidade da escalada, porque a procura a nível mundial ultrapassava largamente a extração mineira. Quando isto acontece, a lei da procura e da oferta exige que o preço suba. Porém, o mercado aurífero não é tão linear. É preciso contabilizar as existências de ouro à superfície, as operações dos bancos centrais no mercado e o nascimento de novos veículos que agora controlam uma importante fatia das reservas do metal.

Os investidores que insistiram em deixar o dinheiro indexado ao ouro, ao contrário da nossa recomendação, registaram pesadas perdas neste último ano. Desde o máximo histórico de 44,35 euros por grama, o preço do ouro deslizou para os mais recentes 31,80 euros, de acordo a informação compilada pelo Banco de Portugal, o que representa uma perda de 28,3 por cento.

Falso refúgio
Longa é a tradição de investir no ouro em situações de crise. Se receiam a falência do Estado português, o abandono do euro ou o colapso da banca, muitos aforradores aplicam o dinheiro em ouro. Todavia, para maximizarem a imunidade às crises, têm de comprar ouro físico tornando-se independentes do sistema financeiro.

Barras (cujos pesos mais comuns no retalho começam em 1 grama e vão até ao quilograma), moedas (entre as quais as libras esterlinas e os Krugerrands sul-africanos são as mais populares) ou peças de ourivesaria (essencialmente medalhas e joias) são as opções. Neste leque, as barras tendem a representar as melhores escolhas, porque não há qualquer avaliação subjetiva. Nas moedas e nas peças de ourivesaria, o valor depende da raridade, da qualidade e da condição do objeto, enquanto o preço de uma barra de ouro depende diretamente da cotação internacional do metal amarelo. Aliás, a cotação do ouro é definida para uma barra com características bem definidas (10,9 a 13,4 quilogramas, pureza mínima de 99,5%, entre outras), que, posteriormente, podem ser extrapoladas para outras barras com características diferentes.

Embora exista uma cotação mundial de referência, os preços a pagar e a receber pelos pequenos investidores podem ser bastante díspares. Como mostra a nossa investigação detalhada nas páginas seguintes, a perda efetiva e imediata na operação de compra é, em média, de 15%, o que torna contraproducente a operação de proteção contra crises através do ouro. Se vender num dos muitos retalhistas especializados na compra de ouro, as perdas tendem a ser de mais 25 por cento. O prejuízo do investidor resulta da margem de lucro do intermediário, bem como dos seus custos de manuseamento, armazenagem e, eventualmente, transformação do ouro.

Ligação direta ao mercado
Desde 2003 que os investidores que não têm interesse em guardar ouro físico em casa podem aplicar o seu dinheiro indiretamente em barras de ouro através de exchange- traded funds (ETF). O SPDR Gold Shares, listado nas bolsas de Hong Kong, México, Nova Iorque, Singapura e Tóquio, é o maior fundo cotado deste tipo: no início de outubro tinha 906 toneladas de ouro guardadas nos cofres do banco HSBC em Londres. Se fosse uma nação, este ETF seria o oitavo país com as maiores reservas auríferas, à frente de países como o Reino Unido e o Japão e de instituições como o Banco Central Europeu.

Investir neste tipo de ETF processa-se como se fossem ações: compram-se e vendem- se unidades na bolsa. Cada unidade tende a valer o mesmo que uma onça de ouro e a evolução é semelhante ao preço da barra de ouro em Londres, diminuído da comissão de gestão (que, no caso do SPDR Gold Shares, é de 0,4% por ano).

Proteção contra inflação
É verdade que o ouro é, entre os principais ativos, o único que tende a não sofrer com a inflação. Aliás, em média, há uma relação positiva entre a variação do preço do metal e a variação dos preços dos bens e dos serviços.

Apesar da sua relativa imunidade à inflação, como investimento, o grande problema do ouro é não gerar rendimento. Mesmo que não valorizem, a maioria das ações e das obrigações pagam dividendos ou cupões aos seus proprietários. Os depósitos a prazo premeiam os aforradores com juros. O ouro apenas pode dar mais-valias aos investidores através da subida do preço. Nas análises mais longas ao desempenho do metal, a alta que o ouro registou nos 12 primeiros anos do século é uma exceção. Aliás, no longo prazo, os rendimentos reais (acima da inflação) do ouro são muito baixos. Como não há qualquer garantia de rendimento futuro, continuamos a desaconselhar o investimento aurífero.

* A Polícia Judiciária já detectou vários traficantes, não vá em aparências, não venda jóias nem compre ouro em barras.

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