ONTEM
"PÚBLICO"
Testes de intolerância alimentar:
Um diagnóstico útil ou
uma mentira bem contada?
A resposta é só uma e muito directa: por mais na moda que estejam, os testes múltiplos de intolerância alimentar são inúteis.
UMA INUTILIDADE |
De facto, o essencial acerca desta nova moda dos testes múltiplos de
intolerância alimentar poderia ser resumido pelas curtas palavras acima
referidas. Citando um dos pontos do comunicado
de quem realmente percebe do assunto (entenda-se Sociedade Portuguesa
de Alergologia e Imunologia Clínica), podemos ler o seguinte: “Neste
contexto os testes supracitados não têm qualquer fundamentação
científica, não têm utilidade diagnóstica e a sua realização e
interpretação no âmbito clínico podem configurar elementos de má
prática, não devendo igualmente receber qualquer tipo de comparticipação
pelos sistemas de saúde”.
Mas então porque é que sendo inúteis, estes testes são um sucesso,
chegando inclusive a aparecer já em populares sites de descontos?
Numa época em que as abordagens mais convencionais relativamente à
nutrição e perda de peso estão longe de cativar a maioria das pessoas,
tudo o que se percepcione como algo diferenciador, ou até como um avanço
no diagnóstico, reúne muitas condições para ter sucesso. Se a este
facto adicionarmos uma certa desresponsabilização conferida por este
tipo de testes - “afinal a culpa de não estar a conseguir emagrecer não
era directamente minha, mas sim de certos alimentos que não são os mais
indicados para mim” -, temos uma receita vencedora.
No fundo, pode até parecer interessante a ideia de efectuar um teste
que em alguns minutos nos indique quais os alimentos que “pior
toleramos” de uma lista com 200 a 500 itens. Porventura no momento de
pagar o teste ele deixa de ter assim tanto interesse, até porque muito
frequentemente nos indica que os alimentos que mais gostamos e mais
estamos habituados a comer são justamente aqueles que nos aparecem como
mais susceptíveis a desencadear alguma intolerância. Tal tende a
acontecer, uma vez que os anticorpos medidos por estes testes
(imunoglobulinas G4), são produzidos normalmente pelo
nosso sistema imunitário como forma de reconhecimento às proteínas dos
alimentos que ingerimos. Ou seja, a nossa exposição repetida a alguns
alimentos – aqueles que comemos com mais frequência – faz aumentar estas
imunoglobulinas e potencialmente classificar como impróprios os
alimentos que mais gostamos.
Ainda assim e tal como falamos anteriormente na questão dos hidratos de carbono à noite,
estes testes como diagnóstico complementar à abordagem para perda de
peso podem ser um importante condicionante do comportamento alimentar se
fizerem as pessoas acreditar que de facto não podem comer determinados
alimentos, algo que eventualmente não resultaria se fosse feito através
de uma abordagem mais convencional. Claro está que o facto de a pessoa
estar a pagar para ser enganada não será de todo o procedimento mais
ético do mundo, mas este vocábulo parece definitivamente não fazer parte
do dicionário de todos os falsos profetas ligados à área da saúde.
Em suma, no que diz respeito a estes testes, poderá uma mentira ter tanto sucesso? Sim, se for bem contada…
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