Sei o que fizeste
este Verão
Chega! São 00:58 minutos de quinta-feira, 4 de
Julho, e já vou na sétima versão do texto para o Negócios. Vou desligar a
televisão e avançar para esta que é a última versão final da crónica.
Chega! São 00:58 minutos de
quinta-feira, 4 de Julho, e já vou na sétima versão do texto para o
Negócios. Vou desligar a televisão e avançar para esta que é a última
versão final da crónica. A cadência de acontecimentos é tal que ia jurar
que aquela coisa da carta do Gaspar aconteceu há um ano e picos. A
situação do país é difícil de explicar, mas penso que consegui chegar a
uma fórmula: Passos + Cavaco + Portas = Pussy Riot.
Vamos lá pôr ordem nisto. Este sudoku da política portuguesa é
tramado. Comecemos pelo início. Gaspar demite-se. Espanto! Descobrimos
que estava demissionário há oito meses. O nosso mundo começa a ruir:
Gaspar viveu oito meses acima das suas possibilidades! Demitiu-se há
oito meses, o que se podia ter poupado em cartazes. Gaspar, que dizia
estar nesta missão para agradecer o que Portugal investiu na sua
educação, pira-se! - parece que foi formado na Academia do meu Sporting.
Gaspar sai e deixa uma carta devastadora (para a altura, agora já é
peanuts). Não se compreende. Podia sair e dizer que estava doente, com
aquelas olheiras, quem é que não acreditava... Podia sair com uma
mensagem curta: "O ministro das Finanças anuncia que abandona o Governo
por razões de saúde. O Doutor Gaspar tem um problema na hormona do
crescimento."
Sai Gaspar, entra a Miss Vanilla para o seu lugar. O país aceita a
nomeação de Maria Luís Albuquerque: "É a única com incompetência
suficiente para substituir Gaspar", afirma um indivíduo muito parecido
comigo. A tempestade parece amainar quando, do nada, Portas apresenta a
sua demissão! Os argumentistas da série "24" exclamam: "Isto já é
demais, não é possível acontecer tanta coisa em 24 horas!"
Tudo parece indicar que o Governo vai cair. Maria Luís Albuquerque
tem um arrepio na espinha. A ministra das Finanças corre o risco de
experimentar na pele que a requalificação rapidamente acaba em
despedimento. No meio do caos, penso: tem calma Quadros, não vás já
gastar 50 euros em serpentinas. Portas apresentou hoje a demissão, quer
dizer que… mais oito… ora… Portas sai em Fevereiro de 2014.
Ponto de situação. Portas abandonou o barco de forma
"irrevogável". Há reboliço e alvoroço, e outras palavras usadas na
antiga comédia portuguesa. Corre o boato de que "O Independente" volta
às bancas na sexta. Cavaco não sabe de nada e está lá nas coisas dele.
Passos parece definitivamente esmagado - "Vendem-se pins de Portugal".
Tudo indica que é um bom dia para os portugueses irem todos ver o Paulo
de Carvalho ao vivo.
Mas eis que surge a declaração do PM. Passos Coelho não aceita a
demissão de Portas. Passos quer obrigar Portas a ficar e casar com a
Maria Luís. Passos não abandona o lugar. Vai em frente, nem que tenha de
encher o Governo de funcionários municipais com cursos de funções em
aeródromos.
Nesta altura, o tradutor de português/alemão da Merkel está à
beira do esgotamento. O presidente do Eurogrupo, Jeroe Djobsgbak
XZBOHXIQHSn49e6378xmaMNX.nzn,mNZXMAnxmx, diz estar preocupado com a
situação portuguesa. Pedro Mota Soares deambula pelo parque de
estacionamento do ministério murmurando: "E agora, lembro-me lá onde é
que meti a merd* da moto?". Eu tenho um momento de lucidez e penso:
"Espera... Isto quer dizer que vão ter de fazer um novo anúncio da
Caixa, com a malta a repor a casa de pernas para o ar?!"
O país está em suspenso. O PP anuncia que Paulo Portas já não vai
falar hoje. Em substituição, o CDS vai apresentar um bailado que
exprime os sentimentos do líder.
A noite passa, acordamos com a notícia "Crise tira 2,3 mil
milhões à bolsa" - Governo de Portugal, a desfazer excêntricos todas as
semanas.
Subitamente, Portas vai falar com os poucos amigos que ainda tem
no PP e... tudo parece possível outra vez. Os abutres piam, os morcegos
acasalam de felicidade, ainda é possível haver magia. Fazendo fé no
comunicado do Largo das Caldas, eles vão-se encontrar. Resumindo a
declaração do CDS: a posição irrevogável foi revogada pela transposição
das fronteiras intransponíveis.
Eu torço o nariz a finais felizes. Acho que só a Joana
Vasconcelos consegue fazer um governo com os restos deste. Não sei o que
vai acontecer no encontro. No lugar do Portas, exigia reunir com o
ministro Crato para assegurar que todas as minhas exigências seriam
satisfeitas. Como tudo isto parece uma birra de namorados, Portas vai
pedir à Lua para ficar no Governo. Mas, se tivesse de apostar, punha as
minhas fichas em como o casal vai aparecer de mão dada. Vão fingir que
não aconteceu nada. Lomba vai aparecer de olhos esbugalhados a dizer que
o Governo está mais coeso que nunca e que o que se passou nas últimas
36 horas foi uma simulação, como fazem nos hotéis, para ver se está tudo
a funcionar: saídas de emergência, etc. Já estou a ver a capa do "Sol"
de sexta: "Governo simulou saída do euro - a encenação foi de La Féria".
FIM.
05/07/13
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