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Inspectores das Condições do Trabalho obrigados a limpar as instalações
Autoridade para as Condições do Trabalho foi obrigada a suspender os contratos com as empresas de limpeza no final de Março
Os inspectores do Trabalho estão a ser obrigados a pegar em esfregonas e
a fazer a limpeza diária das instalações de trabalho porque os serviços
de limpeza contratados foram dispensados. Além disso, desde Novembro
que em algumas das 32 delegações da Autoridade para as Condições do
Trabalho (ACT) os funcionários têm de levar de casa para o trabalho
material de higiene como papel higiénico, papel para limpar as mãos ou
sabonete.
A direcção da ACT informou a 28 de Março todos os inspectores de que
“os contratos de prestação de serviços celebrados pela ACT com as
empresas de limpeza” iriam cessar no final do mês e não tinham
autorização para os renovar. No comunicado, a direcção informava ainda
estar consciente dos “riscos para a segurança e saúde dos funcionários e
utentes da ACT”, razão pela qual tinha pedido “uma autorização
extraordinária para a renovação dos contratos” ao secretário de Estado
do Emprego e um “pedido de excepção à ESPAP (que carece ainda de
autorização da Secretaria de Estado do Tesouro)”.
Acontece que até agora a direcção da ACT ainda não foi autorizada a
renovar os contratos com as empresas de limpeza. E, ao que o i
averiguou, delegações como as de Almada, Leiria e Torres Novas já não
têm serviços de limpeza desde o início do mês, e a de Lisboa teve ontem
pela última vez.
“Nalguns sítios os funcionários estão a ser pressionados para limpar as
casas de banho e os serviços de atendimento ao público. Noutros estão a
juntar dinheiro para contratar alguém”, conta ao i Carla
Monteiro, membro da direcção do Sindicato dos Inspectores do Trabalho
(SIT). “Há já algum tempo que temos problemas com os carros.
Já passámos
pela fase de não ter papel ou fotocopiadora. A partir de Novembro
deixámos de ter papel higiénico sem qualquer justificação. Mas isso não
nos impede de fazer o nosso trabalho. Já as limpezas sim, comprometem a
nossa actividade”, acrescenta a sindicalista.
Num ofício datado de 4 de Abril, a que o i teve acesso, o
sindicato afirma estar perante “uma decisão política” e ameaça que “sem
condições de trabalho” os inspectores “vão deixar de trabalhar”.
Socorrendo-se da lei aplicável à administração pública que determina que
“as instalações higiénicas devem ser limpas diariamente”, o SIT acusa o
Estado de querer “impor aos inspectores do Trabalho que substituam as
suas ferramentas de trabalho e se desviem da sua missão para pegar em
esfregonas e se tornarem funcionários de limpeza”. E acrescenta ainda
outro problema: os funcionários não fazem exames médicos porque a ACT
não tem medicina do trabalho.
No final, resume o lado irónico do
problema num ditado: “Em casa de ferreiro, espeto de pau.” “É missão dos
inspectores inspeccionar as condições de trabalho das empresas mas
exigimos aos outros aquilo que nós próprios não cumprimos.”
O i pediu esclarecimentos ao inspector-geral do Trabalho, mas não obteve resposta.
* Uma tristeza esta pelintrice do Estado. Se não fosse vergonhosa a situação dos inspectores até pareceria anedota.
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