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Governo francês acusado
de propor nacionalização
“escandalosa” de fábrica de aço
François Hollande mantém braço-de-ferro com grupo ArcelorMittal sobre futuro da unidade de produção na região da Lorena, onde estão em risco 650 empregos.
O futuro da unidade de uma produção de aço do grupo indiano
ArcelorMittal em França joga-se dentro de dois dias. O Governo tem do
seu lado os sindicatos na ideia de nacionalizar a fábrica de Florange,
na região da Lorena, mas trava com a empresa um prolongado
braço-de-ferro e passou a ter, esta quinta-feira, mais um declarado
opositor a esta intenção.
O grupo siderúrgico quer encerrar os altos-fornos e a
fileira de produção de aço bruto, mantendo apenas a transformação de
aço em produtos industriais elaborados. O Governo quer evitar este
desfecho, que coloca em risco cerca de 650 postos de trabalho, e defende
a venda de toda a unidade de produção, para a qual diz haver
interessados.
Até sábado, o grupo liderado pelo milionário indiano
Lakshmi Mittal tem de encontrar uma solução: se a ArcelorMittal não
ceder, o Governo avançará com uma nacionalização temporária da fábrica
siderúrgica, o que significa que mais cedo ou mais tarde a empresa
voltará para as mãos de privados.
Foi contra esta ameaça que a
confederação patronal Medef se insurgiu esta quinta-feira. A horas de os
sindicatos se reunirem com o Ministério da Indústria, a presidente da
Medef, Laurence Parisot, não poupou nas críticas à abordagem do Governo.
Patrões estão contra
No
quadro de uma negociação, a proposta é “pura e simplesmente
escandalosa”, contestou à rádio RTL, acusando o ministro da Indústria,
Arnaud Montebourg, de fazer chantagem sobre o grupo indiano, presente em
França em dezenas de unidades de produção e onde emprega 20
trabalhadores. “Toda a sociedade assenta num princípio essencial, que é o
direito de propriedade e desrespeitá-lo é muito grave”.
O Governo
mobilizou-se em torno da nacionalização, com a ministra do Ambiente e
Energia, Delphine Batho, a sair em defesa do Presidente e do ministro da
Indústria – os dois alvos directos das críticas do patronato.
Hollande
recebeu no início da semana Lakshmi Mittal no Palácio do Eliseu, num
movimento destinado a convencer o grupo a aceitar os planos do Governo.
Mas o encontro já estava manchado por declarações anteriores do ministro
da Indústria.
Arnaud Montebourg abriu as hostilidades ao afirmar
que a Mittal não cumpriu a sua parte do contrato quando, em 2006, lançou
uma oferta pública de aquisição (OPA) sobre a Arcelor, garantindo nessa
altura manter em funcionamento os altos-fornos na Florange, que estão
desactivados há mais de um ano. “Não queremos mais a Mittal em França,
porque não respeitaram a França”, disse Montebourg.
Contrariando
as críticas da oposição, o Governo diz que há meios financeiros
disponíveis para o Estado suportar uma intervenção pública na fábrica
siderúrgica. O ministro do Interior, Manuel Valls, deu força à ideia. E
na mesma linha de defesa esteve o ministro do Orçamento, Jérôme Cahuzac:
“Se o Presidente da República me pede para eu encontrar uma forma de
nacionalizar [a fábrica], encontrá-la-emos”.
Símbolo da
industrialização francesa na Lorena, a Florange parece estar agora, com
este caso, a passar de arma na última campanha presidencial a marco
político económico do Governo, sublinhava há dias o jornal Libération.
O direito de propriedade
Juristas
ouvidos pela AFP consideram que avançar com uma nacionalização é legal,
se a empresa for indemnizada de forma justa e desde que respeitadas as
regras da concorrência. Ferdinand Melin-Soucramanien, especialista em
Direito Constitucional na Universidade de Bordéus IV, interpretou o que
está no direito francês: “O quadro constitucional existe, a
possibilidade de nacionalizar existe, com um limite: o respeito pelo
direito de propriedade”. Para que a Declaração dos Direitos do Homem e
do Cidadão de 1789 (onde aquele direito está consagrado) seja
respeitado, “os poderes públicos têm de pagar uma indemnização prévia e
justa”. Loïc Grard, docente na mesma universidade, sublinhou à mesma
agência que o processo de nacionalização temporária terá de respeitar as
regras de concorrência europeia, nomeadamente em relação à revenda da
unidade “a preços de mercado”.
Do mesmo lado do Governo está a
Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT). Uma “intervenção
transitória” é a única solução que o seu secretário-geral, Laurent
Berger, vê como viável para a empresa.
Os sindicatos já foram
recebidos no Ministério da Economia nesta semana crucial para o futuro
da ArcelorMittal em França, chegando a anunciar que o executivo poderia
propor a um potencial comprador da Fábrica vender 1% dos 36% que o
Estado francês tem na empresa GDF Suez, obrigando o ministério a emitir
um comunicado a negar que a hipótese esteja em estudo.
* Holande até pode ganhar esta batalha com mais ou menos jogo de cintura mas perde a guerra, o patronato francês vê na face de Mittal as suas costas.
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