Edgar António de Mesquita Cardoso nasceu no Porto em 11 de Maio de 1913 e formou-se em Engenharia Civil na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto em 1937.
Professor Catedrático do Instituto Superior Técnico - Universidade Técnica de Lisboa.
Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Foi Engenheiro na Junta Autónoma das Estradas até 1951.
É como projectista de Pontes que mais se notabiliza.
Biografia
Era filho de Francisco Vítor Cardoso, Oficial de Infantaria com o Curso
do Estado-maior e Engenheiro Civil de Minas, e de Amélia Teixeira de
Mesquita Cardoso, proprietária em Belém, no Pará, Brasil.
Casou em 1941 (7 de Junho) com Margarida Congeol, de quem não teve filhos.
Casou em 1941 (7 de Junho) com Margarida Congeol, de quem não teve filhos.
Edgar Cardoso passou os primeiros anos da sua infância no Porto, mas
ainda muito novo foi viver com a família para a Beira Alta, em resultado
da transferência do pai, que era Alferes de Infantaria. Daí seguiriam
depois para Lisboa, onde Edgar frequentou a escola primária.
Salazar vendo a maquete da ponte Sta Clara em Coimbra |
Quando tinha cerca de 11 anos de idade, a família voltou ao Porto. Passado pouco tempo, o seu pai, Capitão prestes a ser promovido a Major, passou à Reserva para se tornar director de Estradas da JAE, no distrito de Bragança e, depois, no de Vila Real.
Nessa época, os sete
filhos do casal viviam só com a mãe durante a semana e as férias grandes
eram passadas na Quinta de Resende, de que Edgar tanto gostava.
Em 1924, matriculou-se na 1ª classe do ensino secundário, no Liceu
Alexandre Herculano, no Porto.
Terminou o curso em Junho de 1931 (na 7ª
classe de Ciências), com quinze valores. Matriculou-se, seguidamente, na
Faculdade de Ciências nos preparatórios de Engenharia e, depois destes
estarem concluídos, nos Cursos de Engenharia Electrotécnica e Civil, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
No último ano de licenciatura, foi obrigado a optar por um dos cursos,
escolhendo, por influência paterna, o de Engenharia Civil, que concluiu
em Julho de 1937, com a média de dezassete valores.
Ponte da Arrábida, Porto |
Em Janeiro de 1938 ingressou na JAE como Engenheiro Civil de 3ª classe, trabalhando na Direcção de Pontes. Durante cerca de três anos manteve a colaboração com a Comissão, em horário pós-laboral.
Na JAE, foi nomeado Engenheiro de 2ª classe, em 1944, e de 1ª, em 1951. Nesta fase da sua vida estudou, projectou e construiu essencialmente pontes, mas também se dedicou a trabalhos de investigação, sendo o introdutor em Portugal da investigação experimental em Engenharia Civil, na área de Estruturas, tendo recebido uma bolsa de estudo do Instituto para a Alta Cultura.
Em 1947 (Agosto) foi nomeado Presidente da Comissão de Estudo da Reorganização da Cerâmica de Construção, do Ministério da Economia, e participou em trabalhos do Conselho Superior de Obras Públicas. Foi igualmente vogal da Comissão de Revisão e Instituição de Regulamentos Técnicos, entre 1951 e 1983, e vogal agregado desse Conselho, entre 1956 e 1965, e 1969 e 1983.
Como reconhecimento da contribuição que lhe fora
prestada desde 1951, o Conselho propôs em 1987 que lhe fosse atribuído
um Louvor, concedido pelo Ministro das Obras Públicas, Eng.º João de
Oliveira Martins.
Morre a 5 de Julho de 2000
Episódios dos Primeiros Anos
Em 5 de Agosto de 1935 Edgar Cardoso recebe guia para realizar o seu
primeiro estágio no Porto de Leixões, para o estudo do assoreamento do
Porto sob a orientação do Engº Gervásio Leite, Director Técnico da APDL.
O relatório que deu entrada na Faculdade em 23 de Outubro, foi apreciado e classificado com 16 valores pelos Prof.s Teotónio Rodrigues e Antão de Almeida Garrett.
A introdução é deliciosa!
Palavras Prévias
Segundo instruções da nossa Faculdade de Engenharia a que pertenço como modesto aluno e vós Meus Mestres, como Professores altamente categorisados, recebi com agrado no dia 5 de Agosto a guia de apresentação para na Administração dos portos do Douro e Leixões efectuar o meu primeiro estágio. Sem a experiência e o saber tão precisos ao Engenheiro, iniciei nesse mesmo dia o meu primeiro trabalho que apesar da atenção e da boa vontade, sempre aplicada para a sua perfeita execução, terá fatalmente que ser defeituoso.
Peço portanto aos meus Exmos. Professores que me relevem os êrros cometidos, na certeza, porém, que a sua existência não é resultante da falta de assiduidade, nem da minha menos curiosidade de saber, mas antes da inexperiência e limitados conhecimentos do assunto que me foi dado estudar.
Leixões, Outubro de 1935
Edgar Cardoso realizou ainda pelo menos um outro estágio em Bragança na JAE, já em 1937, ano da formatura em Engª Civil. Não dispomos do correspondente relatório, mas há um outro notável documento académico: o relatório de um trabalho prático da disciplina de "Cimento Armado" que consistiu no cálculo completo de uma piscina. Mais uma vez se revela um aluno aplicado, com excelente sentido de projecto e novamente desenhos muito bons.
Uma lista não exaustiva:
Em Portugal:
-Ponte da Arrábida
-Ponte de S. João
-Ponte da Foz do Sousa
-Ponte de Santa Clara
-Ponte de Mosteirô
-Ponte da Figueira da Foz
-Pontes da albufeira da Caniçada
-Ponte de Barca d'Alva
-Ponte de S. Fins
-Viaduto de Entrecampos
-Ponte de Abragão
-Ponte da Marateca
-Pontes da albufeira do Maranhão
-Reconversão do tabuleiro da Ponte Luís I
-Reforço da Ponte D. Luís (Santarém)
-Ampliação do Aeroporto do Funchal
Em Angola:
-Ponte sobre o Quanza
Pontes do C.F. de Moçâmedes
-Pontes sobre o Cunene, Dande, Quanza, Longa e Quéve
Em Moçambique:
-Reparação da Ponte de Boane
-Ponte de Xai Xai
-Ponte do Pungué
-Ponte do Save
-Ponte sobre o Zambeze
.
-Ponte Macau-Taipa
Em Goa:
-Ponte de Sauguém
Na Guiné
-Pontes do Corubal e Cacheu
Alem das duas grandes pontes que projectou, Edgar Cardoso deixa ainda para a história das Pontes do Porto mais algumas intervenções. Uma reformulação do tabuleiro superior da Ponte Luís I e dois projectos não concretizados: o alargamento da mesma ponte e uma ponte ferroviária usando o cimbre da ponte da Arrábida que se destinava a substituir a Ponte Maria Pia.
Experimentação
Dotado de um extraordinário engenho e habilidade manual, construia modelos das suas estruturas e nelas media, muitas vezes com métodos ou aparelhos inventados por si, os parâmetros necessários à avaliação do comportamento estrutural.
Esta era uma das suas facetas mais características. Para ele as estruturas projectavam-se usando as mãos, experimentando, ensaindo diversas formas em modelo. E desdenhava dos grandes rivais, os computadores, e da análise matricial: "Dizem que há para aí quem use umas meretrizes…"
O dimensionamento experimental veio mesmo a ser aprovado oficialmente como uma das vias possíveis para a justificação de um projecto, depois de um projecto seu ter recebido um parecer positivo do Conselho Superior de Obras Públicas, de que foi relator o Professor Francisco Correia de Araújo.
Feitio
O professor Edgar Cardoso, verdadeiramente genial como engenheiro, tinha um feitio difícil que lhe grangeou muitas inimizades, sobretudo entre colegas cujas opiniões nem sempre aceitava bem.
Naturalmente ciente da sua indiscutível categoria, não gostava de ser batido. Talvez por isso orgulhava-se de não participar em concursos, preferindo os trabalhos "por convite".
Com frequência se envolvia em polémicas em que a defesa veemente do seu ponto de vista ultrapassava os limites do razoável.
Contaram-me esta que revela um pouco do seu carácter:
numa reunião de obra durante a construção da Ponte da Figueira da Foz, algum jovem engenheiro terá sugerido qualquer alteração a uma indicação do "Professor".
Logo se irritou:
"Ó meu amigo! Em Portugal só há uma pessoa de quem aceito sugestões: o Prof. Joaquim Sarmento da Faculdade de Engenharia do Porto."
História
Uma vez, depois de uma visita às obras da Ponte de S. João (ou seria da Ponte da Figueira?) tive a sorte e o gosto de almoçar ao seu lado.
Às tantas perguntou-me:
- Como é que você media as deformações que uma ponte vai sofrendo sem sair de cima dela?
- Hum…, bem…, hum…
Ao mesmo tempo que esquematizava no guardanapo de papel:
- Você deita uma pedra ao rio com um fio de ínvar amarrado; mantém o fio esticado com uma mola que pode estar presa à própria ponte e mede agora o deslocamento relativo entre a extremidade do fio e uma marca na ponte.
(Ínvar é uma liga com coeficiente de dilatação linear quase nulo. As medidas fazem-se portanto sem influência da variação de temperatura)
- E por falar em ínvar, você sabe como eu faço ínvar?
- Não…
- Pois com dois fios de coeficiente de dilatação linear diferente amarrados a uma pequena travessa. É assim possível determinar um ponto no prolongamento da travessa que não sofre qualquer movimento em presença da variação de temperatura.
Melhor que o ínvar!
IN
- http://paginas.fe.up.pt/~azr/pontes/edgar.htm
(por Manuel de Azeredo)
- http://sigarra.up.pt/up/web
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