António Alves Redol (Vila Franca de Xira, 29 de Dezembro de 1911 – Lisboa, 29 de Novembro de 1969), foi um escritor, considerado como um dos expoentes máximos do neo-realismo português.
BIOGRAFIA
Em 29 de dezembro de 1911, nascia, em Vila Franca de Xira, António Alves Redol. No que tange à sua biografia, inúmeros fatores provêm dos relatos de autores que conviveram com esse autor em sua época de atuação, em diversos contextos. Além disso, há aspectos oriundos de publicações desse autor, tais como prefácios de obras, entrevista, artigos de jornais, revistas etc. (FIGUEIREDO, 2005). Redol tem sua origem nos espaços rurais (infância marcada pela pobreza, já que seu pai era um comerciante de pequeno porte). Em função disso, começou desde cedo a trabalhar. Presencia, desde essa altura, as péssimas condições de vida do homem rural, o que, mais tarde, vai se refletir, preponderantemente, em sua escrita.
Inicialmente, almejava ser médico, mas, em decorrência da influência do seu avô, bem como do contato e da admiração pelos jornalistas e escritores, passa a aspirar ao ingresso no âmbito da escrita. Inicia-se nessa esfera aos 12 anos. Quando completa 14 anos, inicia sua colaboração na redação de textos para semanários e jornais. Trabalha, inicialmente, como vendedor de mercearias. Quando completa 16 anos, em 1928, vai para África (Angola e Luanda), onde exerce, primeiramente, a função de operário e, após isso, trabalha em uma fazenda, objetivando conseguir novas/melhores perspectivas de progresso futuro. Contudo, depara, nessa região, com uma intensa situação de miséria e pobreza. Quando regressa a Portugal, passa a trabalhar como vendedor de caminhões, carros, pneus e óleos. Também lecionou Língua Portuguesa. Adere aos ideais do Partido Comunista e do Movimento de Unidade Democrática (MUD), contrapondo-se, veemente, à conjuntura política da época, trazendo à tona diversas questões “esquecidas”.
Em virtude de sua convivência com as péssimas condições de vida das camadas rurais e de vivenciar duplamente essas condições (na infância e na juventude), volta seu olhar para a dimensão social, mais especificamente, para as questões de reivindicação de mudança social. A essa altura, reafirma a sua vocação para a escrita. Cria a Seção “De sol a sol”, no jornal O Diabo, em que passa a publicar textos voltados para as tensões sociais, contrapondo-se, assim, aos ideais de exploração dos regimes totalitários. Fillus (2002) sinaliza o fato de a crise econômica da década de 1920 ocasionar uma serie de problemáticas sociais, tais como: desemprego, fome, miséria e, sobretudo, a crise do capitalismo. Diante dessa quadro, eclodem os Regimes Totalitários (nos solo português, o Salazarismo], iniciando uma intensa repressão, censura e exploração das classes minoritárias.
Tendo como pano de fundo esse contexto, surge o Neorrealismo, uma literatura de cunho político, que se opõe, veemente, à opressão dos regimes totalitários. Eclode, assim, um novo conceito de arte em uma perspectiva de conscientização, acompanhada de novo papel social para o artista enquanto defensor da sociedade que busca melhorias a partir da ampliação da visão de mundo (FIGUEIRDEO, 2005). Isso entra em sintonia com Fillus (2002, p. 127), que diz que o “movimento neorrealista corresponde a uma nova tomada de consciência da sociedade portuguesa”. Dentre os autores que defendem uma criação literária de denuncias das condições de exploração do povo (em sua grande diversidade), está Alves Redol.
Figueiredo (2005) sinaliza o fato de a obra de Redol estar diretamente ligada às questões econômicas, políticas, sociais e culturais respeitantes ao mundo do autor. Ou seja, seus escritos se voltam para uma perspectiva de cunho social, primando, sobretudo, pela crítica ao Regime de Salazar (Estado Novo), transformando suas obras em instrumento de intervenção social. Um aspecto que ilustra esse viés é o fato de esse autor não se restringir ao uso de histórias de ficção, mas, acima de tudo, lançar mão de histórias que focam na realidade social circundante. Algumas dessas temáticas que até então eram ignoradas.
Em vista disso, Redol sofre repressão da ditadura militar (perseguição política), chegando até a ser preso e torturado. Ao lançar mão dessa postura de preocupação social, ele toma como base alguns ideais do marxismo e do socialismo, empregando-os em sua escrita os pressupostos de autores revolucionários clássicos tais como: Marx, Engels, Lenine, Lefebvre, Bukiharini e Friedman (FIGUEIREDO, 2005). E, à luz desses escritores adeptos do Marxismo e do Socialismo, Redol passa a abordar as condições de vida dos trabalhadores que viviam à margem da sociedade por conta de uma exploração desumana. Para tanto, ele retrata os diversos profissionais rurais e urbanos (destacando seus inúmeros grupos), suas práticas corriqueiras do dia a dia e, sobretudo, suas péssimas condições de vida em decorrência do capitalismo.
Figueiredo (2005) ressalta o fato de inúmeros aspectos expostos na obra de Redol refletirem suas vivências particulares. Partindo desse pressuposto, ele não só apresentava as mazelas a que era submetido esse povo, mas, sobretudo, evidenciava sua natureza (FIGUEIREDO, 2005). Com isso, as personagens do romancista, em geral, são apresentadas, de forma que suas individualidades sejam expostas. Contudo, refletem um todo na mesma condição. Isso, de certa forma, evidencia uma dicotomia (individual X coletivo). Em alguns casos, ele até estabelece comparações entre o animal e o homem, em vista das péssimas condições de vida deste último. Porém, ao apresentar essa faceta, lança mão de uma crítica e de um discurso velado, em função da repressão política. Isto é, pelo fato de a literatura estar silenciada por conta da opressão, ele adéqua sua linguagem, escrevendo de forma não explícita. Em outras palavras, ele revela sua preocupação social, suas ideologias subjacentes e seu não-ditos, por intermédio de uma linguagem nem sempre objetiva e direta. Destaca-se, ainda, o fato de tal autor trabalhar em constante renovação do seu estilo de escrita.
Para finalizar, recorre-se ao dizer de Figueiredo (2005), que diz que a obra de Redol é amparada por uma perspectiva social, primando pela abordagem de aspectos sócio-políticos e econômicos, focalizando, em especial, personagens que refletem a diversidade dos grupos da sociedade portuguesa (rural e urbana). Apesar de suas obras serem pautadas de uma perspectiva de junção de fatores, elegendo como objeto de estudo o romance, a dramaturgia, obras voltadas para crianças e jovens, destaca-se, sobretudo, a temática da preocupação social, evidenciando a desigualdade intensa na distribuição da rendas. Daí provém sua importância enquanto escrito neorrealista. Não só por “iniciar uma nova estética literária no século XX” (FILLUS, 2002, p.126), mas, sobretudo, por voltar seu olhar para o sofrimento do povo [a questão da exploração a que eram submetidos as pessoas das classes baixas, condições de vida, miséria, fome, prostituição etc..]. Em 1969, falece, em Lisboa, Alves Redol, pondo fim à continuidade de suas obras, mas não ao seu legado cultural que permanece imortalizado até os dias atuais (100 anos após seu nascimento).
2. FORTUNA CRÍTICA
2.1 OPINIÕES TEÓRICAS SOBRE O AUTOR:
Muitos críticos literários e autores expressaram suas opiniões sobre o autor, entre eles, Mário Dionísio que prefaciou a obra Barranco de Cegos com os seguintes dizeres: "...Romance do Ribatejo, sim, e o mais completo livro que se escreveu sobre uma região que já entusiasmara Garrett e interessara Ramalho. Romance duma família poderosa e dum mundo que em torno dela e sob ela gravita, de campinos, varinos, valadores. Mas romance também duma época e dum país. Fundamentalmente, de cegos que conduzem cegos para o barranco, na imagem de S. Mateus, e do esforço mais ou menos cego, denodado e violento, para evitar -lo em vão.Quem são os cegos? Os políticos dum governo que cede perante a desordens dos tempos (indústria, caminhos-de-ferro, liberalismo) em vez de reagir-lhes com dureza, como pensa Diogo Relvas."
A autora de contos e poesias para o público adulto e infantil Matilde Rosa Araújo diz: “Julgo que toda obra de Alves Redol vive na rais de um profundo respeito de amor pelos direitos do Homem. E, necessariamente, pelos direitos da Criança.”
Arquimedes da Silva Santos expressa sua opinião sobre Redol: “... a qualidade de uma outra sua arte, hoje tão raramente cultivada – a da Amizade. Sentimo-la, companheiros de Vila Franca, quando promovia reuniões de leitura e reflexão em sua casa, emprestando-nos livros, levando-os a colaborar em jornais e revistas, ou organizando sessões culturais, passeios às lezírias e visitas a museus, aproximando pessoas de diferentes estratos socioeconómicos, de rurais e citadinos, de embarcadiços ribatejanos a universitários lisboetas, num convívio de comunhão, ousados nesses tempos de suspeição.”
2.2PALAVRAS DO AUTOR
Alves Redol recebeu duras críticas pelo fato de sua obra abordar personagens, temas e situações que não eram explorados pela literatura e de utilizar uma linguagem simples que incorporava a fala das personagens de acordo com o ambiente em que viviam. Por isso, na epígrafe de Gaibéus, ele dá o seguinte aviso: “Este romance não pretende ficar na literatura como obra de arte. Quer ser, antes de tudo, um documentário humano fixado no Ribatejo. Depois disso, será o que os outros entenderem".
Redol expressa seu orgulho e prazer de exercer sua profissão na declaração a seguir: “Se algum dia alguém me perguntasse que aprendizagem deveria um jovem fazer para chegar a romancista, se o ofício se ensinasse, eu diria que enquanto a vida lhe não desse todas as voltas e reviravoltas, amores, sofrimentos, repúdios, sonhos, frustrações, equívocos, etc., etc., (...) seria avisado que o mandasse ensinar a sapateiro, não para saber deitar tombas e meias solas, porque nem para tanto ele usufruirá, às vezes, com a escrita, mas para que ganhasse o hábito de padecer bem, amarrado ao assunto durante largos anos, antes que provasse o paladar gostoso de algumas horas de pleno prazer.”
3. OBRAS
Gaibéus (1939)
Marés (1941)
Avieiros (1942)
Fanga (1943)
Anúncio (1945)
Porto Manso (1946)
Horizonte Cerrado (1949)
Os Homens e as Sombras (1951)
Vindima de Sangue (1953)
Olhos de Água (1954)
A Barca dos Sete Lemes (1958)
Uma Fenda na Muralha (1959)
Cavalo Espantado (1960)
Barranco de Cegos (1961)
O Muro Branco (1966)
Os Reinegros (1972)
3.2 TEATRO
Maria Emília (1945)
Forja (1948)
O Destino Morreu de Repente (1967)
Fronteira Fechada (1972)
3.3 CONTOS
Nasci Com Passaporte de Turista (1940)
Espólio (1943)
Comboio das Seis (1946)
Noite Esquecida (1959)
Constantino, Guardador de Vacas e de Sonhos (1962)
Histórias Afluentes (1963)
Três Contos de Dentes (1968)
3.4 LITERATURA INFANTIL
Vida Mágica da Sementinha (1956)
A Flor Vai Ver o Mar (1968)
A Flor Vai Pescar Num Bote (1968)
Uma Flor Chamada Maria (1969)
Maria Flor Abre o Livro das Surpresas (1970)
3.5 ESTUDOS
Glória - Uma Aldeia do Ribatejo (1938)
A França - Da Resistência à Renascença (1949)
Cancioneiro do Ribatejo (1950)
Ribatejo (Em Portugal Maravilhoso) (1952)
Romanceiro Geral do Povo Português (1964)
3.6 CONFERÊNCIA
Le Roman de Tage ( Edição da Union Française Universitaire - Paris ) (1946)
IN WIKIPÉDIA
.
Sem comentários:
Enviar um comentário