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"PÚBLICO"
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“Está o caos!” Lisboetas e turistas
. desesperam para apanhar transportes
. desesperam para apanhar transportes
As filas vêem-se ao longe. Os portugueses queixam-se do tempo que têm de esperar pelos autocarros. Os turistas nem conseguem comprar os bilhetes nas máquinas automáticas em direcção a Cascais.
“Péssimo, está a ser um dia péssimo!” João Póvoa precisa de estar o
mais rápido possível na Avenida Infante Santo, onde tem um serviço da
empresa para fazer, mas encontra-se a meio de uma fila com mais de 70
pessoas. ”Aqui no Cais do Sodré é terrível!” Indignado, o estafeta diz
que tem sido “uma dor de cabeça” apanhar autocarro
em Lisboa nos últimos tempos. “Já tenho perdido duas horas da Avenida
da República até aqui e isso altera muito o meu trabalho”. Com a cidade
cheia de turistas, a oferta de transportes começou a rebentar pelas
costuras.
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Entretanto já passaram dois autocarros sem que
tenha conseguido entrar e João Póvoa começa a desesperar. Uma das razões
que aponta para o caos são as obras e a falta de coordenação entre a
Carris e a Câmara de Lisboa: “Têm de observar a situação e colocar algum
ordenamento mais informativo, porque numa hora temos de apanhar numa
paragem, noutra hora passam o autocarro para outra paragem. As pessoas
têm de compreender, mas assim é inexplicável.“
Quem também não
entende é Jorge Gomes. Hoje tirou o dia para ir ter com um amigo e o
destino é a Avenida Infante Santo. Se a sua intenção era apanhar
autocarro no Terreiro do Paço, mudou de ideias quando se apercebeu da
situação. Andou alguns metros e não compensou: “Hoje está mesmo o caos!”
Já está no início da fila, mas esperou quase meia hora. “Deviam avisar a
população. Não sabia que ia ser assim. Fui mesmo apanhado de surpresa”,
suspira.
De acordo com a Carris, “a dinâmica turística na cidade
nesta época do ano, com as excursões e a chegada de grandes paquetes,
geram picos de procura atípicos, que dificultam momentaneamente a
utilização destes meios.” Questionada sobre o reforço da oferta face ao
aumento da procura, a empresa assegura que apesar de existir “um claro
aumento do turismo na época de Verão”, o número médio geral de
passageiros nessa época é “acentuadamente inferior” pois existe “uma
redução significativa dos passageiros habituais”.
Mas o problema
não se restringe ao Verão. Gonçalo Morais precisa de levar o filho à
escola. Costuma apanhar frequentemente o transporte nas paragens do Cais
do Sodré mas é a partir de Maio que nota a sobrecarga nos autocarros
com a chegada do calor e dos turistas. “Tem sido um entrave.” Na paragem
há 20 minutos, já saiu da fila porque não consegue segurar o filho,
cada vez mais impaciente.
Começou a notar esta diferença nos transportes
há um ou dois anos. “Com isto, o que eles ganham é que muita gente
acaba por não pagar bilhete”, revela. Como solução só vê o aumento do
número de autocarros e eléctricos, assim como a sua frequência.
Já
reformados, Raúl Pereira e Angelino Anastácio querem aproveitar o dia e
vão em direcção à Infante Santo. Na fila há meia hora, vão trocando
palavras entre si sobre a longa espera. “Nem quero imaginar no domingo
quando for para ir ver as marchas”, afirma preocupado Angelino.
Impaciente, sugere que se crie uma outra via para os autocarros, para
serem mais rápidos. O seu amigo Raúl responde-lhe: “Não vês que isso
implica meter pessoal?”
Ao
PÚBLICO, a Carris afirma que continua a manter “os níveis de oferta em
todas as carreiras que mantêm níveis de procura elevados, procurando
sempre que possível e dentro das suas limitações, compensar picos
pontuais de procura.” Nesta época do ano, a maior procura assinala-se
nos eixos turísticos que, segundo a empresa, se acentua entre a Praça do
Comércio e Belém, nos acessos ao Castelo de São Jorge, nas carreiras de
eléctricos (com destaque para o 28 e o 15) e nos ascensores e no
elevador de Santa Justa.
A empresa afirma ainda que “procura
sempre ir adequando a sua oferta de forma a minimizar estes impactos,
mas face à limitação em termos de dimensão da frota e tripulantes
afectos diariamente, e à imprevisibilidade de muitos destes
constrangimentos, nem sempre é possível colmatar todas as situações.”
De
máquina fotográfica ao pescoço, Joane veio de França para descobrir a
capital portuguesa. Vai para Belém com um grupo de amigos e diz que os
15 minutos de espera não são de mais para quem está de férias. “Comprei o
VivaCard no aeroporto, agora é só utilizar”.
Filas intermináveis nos comboios
Mas
se os turistas não se preocupam muito com a espera dos autocarros, já
na estação do Cais do Sodré a atitude é diferente. A australiana Lauren
Porter quer ir para Cascais. “O sistema das máquinas é fácil. Estive
noutras cidades e eram como estas, mas aqui não consegui comprar
bilhete”, conta já desesperada. Depois de ter estado numa fila com mais
de 20 pessoas, dirige-se para a bilheteira, onde tem mais de 40 pessoas à
frente. “No início coloquei uma nota de dez euros e depois a máquina
bloqueou”, lamenta. Shiena Howhodi estava antes de Lauren e o seu
problema foi a máquina não aceitar o cartão de crédito.
Entre os
turistas, está Paula Madeira que precisa de ir para Algés, onde
trabalha. Foi a uma reunião no Terreiro do Paço e agora só queria
apanhar rapidamente o comboio. “Os turistas não percebem as indicações
das máquinas, porque não são friendly”. Apanha comboio
ocasionalmente no Cais do Sodré mas nota que é a partir de Maio que as
filas crescem. “Deviam existir mais postos de atendimento personalizados
para ser mais fácil tirar o bilhete para o destino. Há uma série de
informações que são escusadas no ecrã”, sugere.
Ana Raquel Reis, que trabalha na
Pastelaria Batalha, mesmo em frente às máquinas automáticas, conta que,
entre as 9h00 e as 12h00, o rodopio na troca de notas por moedas
intensifica-se. “O facto de muitas máquinas não aceitarem notas faz com
que os turistas acabem sempre a trocar dinheiro”.
Há filas que
chegam a circundar a banca. “Podiam abrir mais bilheteiras em vez de
máquinas. O facto de os estrangeiros não conseguirem mexer com as
máquinas e não terem seguranças ou alguém para os ensinar, faz aumentar
as filas”. Acresce outro porblema: As máquinas não têm opções em francês
e Jean Claude vai ter de ir para a bilheteira porque não conseguiu
comprar o bilhete correctamente.
Contactada pelo PÚBLICO, a
Comboios de Portugal (CP) reconhece que “nos períodos de maior volume de
deslocações às zonas de praia, como é o caso da Linha de Cascais, a
afluência de clientes regista picos de procura muito superiores ao
habitual, tornando mais difícil evitar filas de espera para aquisição
dos títulos de transporte”. Contudo, salienta que são tomadas “medidas
de reforço”, nomeadamente nos postos de venda. Quanto às máquinas de
bilhetes, “nem sempre é possível garantir a completa operacionalidade”.
Os motivos apontados são o seu mau uso, grande parte devido a actos de
vandalismo. Para evitar as longas filas, a CP recomenda “a aquisição
antecipada de títulos pré comprados”.
Kaky Woon veio do Colorado,
EUA, e está encostada numa parede em frente à bilheteira, observando o
cenário em volta das máquinas automáticas: “Isto é de loucos.”
* O paradoxo de as autoridades locais gostarem de ter turistas e de os receberem de modo incompetente.
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