Agora não chega
fazer-se de morto
Um coro de críticas inflamadas fez-se
ouvir durante bastante tempo contra a estratégia do então líder da
oposição Durão Barroso de se fazer de morto em resposta à governação de
António Guterres. Não avançava com uma ideia, não apresentava uma
alternativa, era frouxo no confronto político, diziam. E ainda assim,
Barroso ia a jogo no Parlamento. Levou até monumentais sovas de
Guterres, tribuno de excelência, que o cilindra debate após debate.
Contra todas as expectativas, Durão acabou por ganhar as eleições
autárquicas e logo de seguida as legislativas antecipadas de 2002. Mais
por desistência do primeiro-ministro socialista, que atirou a toalha ao
chão e deu o seu governo minoritário demasiado frágil para prosseguir.
Em
2005, José Sócrates também tirou proveito da tragédia do governo de
Santana Lopes - depois de Barroso se ter deixado encantar por Bruxelas -
e ganhou com maioria absoluta as legislativas. A estratégia passou por
apresentar-se como o protagonista da esquerda moderna. Segue-se Passos
Coelho, que até se esforçou para apresentar uma alternativa ao segundo
governo minoritário de Sócrates, mas que na verdade ganhou as eleições
de 2011 porque o país quase colapsou financeiramente e o eleitorado foi
implacável com o PS.
Marcelo Rebelo de
Sousa lembrou há dias que a política é a arte do possível. Mas é ainda a
arte de aproveitar as circunstâncias e transformá-las em sucessos
eleitorais. As de 2002, 2005 e 2011 provam que na maioria das vezes os
governos caem por dentro, por desgaste, por erros, por desagregação e
até por abandono. Não foram os projetos alternativos de poder o fator
determinante para as mudanças de ciclo político. As figuras da altura
aproveitaram o momento, e ponto final.
Chegados
aqui, Passos Coelho, relegado à oposição, tem evitado o confronto com
António Costa no Parlamento, sobretudo no Orçamento do Estado para 2016.
A dois dias do congresso que o relegitima como líder do PSD, entrou no
debate sobre o Plano Nacional de Reformas para dizer a Costa "a sua
estratégia está errada". Levou a resposta óbvia: a sua de "cortar
salários e pensões" é que estava.
No
emaranhado de circunstâncias, a do presidente do PSD é muito particular.
Enquanto nos anteriores ciclos os líderes da oposição não tinham
governado, Passos ainda há pouquíssimos meses era o maestro de um
governo de coligação e o primeiro-ministro a quem muitos portugueses
colaram o rótulo da austeridade. Não lhe basta, por isso, fazer-se de
morto. Nem aguardar apenas que o atual executivo caia de maduro ou
tropece numa má execução do Orçamento. Em Espinho, vão estar todos à
espera que aponte uma nova "estratégia certa" e alternativa à de Costa.
Senão quem se desgasta pelo caminho é o PSD.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
31/03/16
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