HOJE NO
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
Juízes demoram três anos
a decidir guarda de crianças
Inquérito feito a 13 mil advogados, com mais de dez anos de profissão, revela que magistrados não cumprem prazos nos tribunais
Em
2012, o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem criticou a demora dos
tribunais portugueses no caso Esmeralda: quatro anos e cinco meses para
fazer cumprir a decisão de entregar a custódia da criança de Torres
Vedras ao pai custou ao Estado português 15 mil euros.
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A instância europeia, sediada em Estrasburgo, considerou que as autoridades portuguesas tiveram uma "evidente falta de diligência com vista à aplicação do direito de respeito pela família" da menor, na altura com dez anos (agora com 13). Em Julho de 2004, o tribunal de Família e Menores conferiu ao pai a custódia da menor, que havia sido entregue pela mãe, Aidida Porto, com três meses, ao casal Luís Gomes e Adelina Lagarto, num momento em que o progenitor não havia ainda reconhecido a paternidade.
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A instância europeia, sediada em Estrasburgo, considerou que as autoridades portuguesas tiveram uma "evidente falta de diligência com vista à aplicação do direito de respeito pela família" da menor, na altura com dez anos (agora com 13). Em Julho de 2004, o tribunal de Família e Menores conferiu ao pai a custódia da menor, que havia sido entregue pela mãe, Aidida Porto, com três meses, ao casal Luís Gomes e Adelina Lagarto, num momento em que o progenitor não havia ainda reconhecido a paternidade.
O caso Esmeralda ilustra
uma realidade agora comprovada pela Ordem dos Advogados (OA): os juízes
de família e menores não cumprem os prazos definidos por lei e chegam a
demorar três anos a decidir os casos da guarda das crianças ou os casos
em que os pais não pagam a pensão de alimentos. Processos que deveriam
ter caráter de urgência exatamente porque envolvem menores.
Estas
e outras conclusões constam de um inquérito realizado pelo Conselho
Regional de Lisboa (CRL) da OA - feito a 13 mil advogados que frequentam
diariamente os vários Tribunais de Família de Menores do distrito
judicial de Lisboa (em Lisboa, Almada, Barreiro, Seixal, Loures, Torres
Vedras, Vila Franca de Xira, Sintra, Amadora, Cascais, Leiria e Caldas
da Rainha). Os advogados apontam a falta de formação dos funcionários e
juízes, a marcação de diligências muitas vezes para a mesma hora - em
casos em que os intervenientes são os mesmos - a falta de cumprimento de
horários por parte dos magistrados ou ainda a intervenção de outras
entidades (como a Segurança Social) que atrasam todo o processo.
Apontam
ainda uma "pendência processual superior a um ano, por vezes até três
anos", segundo consta do relatório, a que o DN teve acesso. "Os
inquiridos consideraram o número de funcionários judiciais e juízes
manifestamente insuficiente para a pendência existente, que vai de um a
três anos em processos de alimentos e de regulação do poder paternal",
explica António Jaime Martins, advogado e presidente do CDR da Ordem. "O
que nesta área, particularmente sensível, tem um efeito devastador
sobre o menor e sobre as famílias, sendo frequentemente motivo de
carência económica do menor e de alienação parental relativamente a um
dos progenitores. O Estado de Direito está neste aspeto a fazer um
péssimo trabalho, descurando quem mais dele necessita - as crianças",
concluiu.
A Associação Portuguesa para a
Igualdade Parental e Direitos dos Filhos (APIPDF) defende que não são
mais juízes que vão resolver estes atrasos. "Não entendemos que mais
juízes possam resolver o problema, pois da análise estatística podemos
observar que seções de família e menores com menos juízes têm mais
produtividade que outras", explica o presidente, Ricardo Simões. "Muitas
depende exatamente da cultura, formação e empenho dos magistrados e
técnicos que dão apoio aos tribunais. O caminho será a mudança de
práticas profissionais de psicólogos e assistentes sociais que dão apoio
aos tribunais, maior coordenação entre estes, e de todos os operadores
da justiça, maior humanização e mais proximidade e contatos com as
famílias em conflito, apostando na mediação familiar e simplificação dos
processos (usando os relatórios sociais e perícias médico-legais como
último recurso)", explica o técnico.
Contactado
pelo DN, fonte oficial do Conselho Superior da Magistratura - que
fiscaliza os magistrados - não nega estes atrasos mas justifica-os: "a
insuficiência do número de funcionários colocados é uma das causas dos
atrasos que se verificam". Acrescentando que "a intervenção de várias
entidades diversas dos tribunais, essenciais na realização de perícias,
implica também alongamento dos prazos em razão da dificuldade de
resposta por essas entidades".
* E entretanto há jovens violados ou assassinados...
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