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HOJE NO
"JORNAL DE NOTÍCIAS"
Chumbado direito de tendência
dentro da CGTP
A maioria dos 730 congressistas da CGTP chumbou, esta sexta-feira, alterações aos estatutos da central sindical, que permitiriam o direito de reconhecimento, representação e participação das tendências socialista, bloquista e independente.
Contra as alterações propostas por
sindicatos afetos a essas correntes votaram 674 congressistas. A favor
houve 44 votos e 11 de abstenção.
Já a proposta apresentada pelo
Conselho Nacional, que passa pela manutenção do atual cenário, foi
aprovada por maioria com apenas 11 abstenções.
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A votação seguiu-se
a um aceso debate sobre as reivindicações dos sindicalistas
socialistas, bloquistas e independentes, que exigem ter mais peso nos
órgãos internos CGTP. Essa discussão está a marcar o arranque do 13.º
congresso da Intersindical, em Almada, com grande parte dos
congressistas a aplaudirem entusiasticamente quem critica as correntes
minoritárias.
A maioria, de tendência comunista, acusa esses
grupos de querer reformatar a central sindical, quando estes exigem a
possibilidade de várias listas candidatas ao Conselho Nacional em vez de
uma só.
Estatutos cumprem direito de tendência
O
conselheiro nacional da CGTP Joaquim Dionísio alertou os 730
congressistas que essas intenções aumentam o risco da Intersindical se
transformar numa organização "partidarizada e pulverizada em
tendências", notando que há muito que tais correntes têm o reconhecido
peso interno.
"O direito de tendência tem consagração
constitucional desde 1982 e os estatutos da CGTP-IN cumprem este
requisito, sem que se tenha levantado qualquer objeção quanto ao modo
como a matéria estava e está a ser regulada", começou por dizer o
dirigente, chamando depois à atenção que, "só quase 30 anos depois da
constitucionalização do direito de tendência, foi iniciado um ataque
baseado numa mudança de interpretação que só pode ser entendida como
assentando em motivações políticas destinadas a fragilizar o movimento
sindical".
"As organizações patronais não estão obrigadas a consagrar o direito de tendência. Porque será?", questionou Joaquim Dionísio.
Em
causa está, já há alguns anos, a intenção dessas correntes poderem
constituírem-se em listas autónomas, que pudessem colocar membros no
Conselho Nacional de acordo com os resultados eleitorais no congresso. E
não continuar a existir uma lista única, onde cada uma dessas
tendências minoritárias tem direito a um número específico de
representantes.
Na quinta-feira, estes grupos emitiram um
manifesto, onde apelavam que "não se perdesse a oportunidade" desde
congresso permitir uma maior democracia interna.
O histórico líder
da Fenprof, Mário Nogueira, assumiu-se esta tarde contra esse objetivo.
"Uma coisa são as posições dos dirigentes 'per si', outra coisa coisa é
a posição de cada direção sindical e outra, bem diferente, seria a que
decorreria de tendências internamente organizadas e que usariam os
recursos da central para poderem funcionar", disse o dirigente sindical
dos professores.
"Não ponho em causa a diversidade de opiniões.
Temo-la dentro da nossa federação e damo-nos bem com isso, ainda que
mutas vezes não facilite a decisão", explicou, defendendo que "as
correntes de opinião são legítimas mas representam outra coisa:
representam os cidadãos noutro dos seus mais democráticos direitos".
"Nunca
os trabalhadores, como se disse aqui, que são os donos da CGTP, nos
perdoariam se saíssemos deste congresso com o 'T' de trabalhadores da
nossa CGTP travestido de outra coisa que se chamasse 'tendência'",
apontou.
"Receio infundado"
Na defesa das
propostas que visavam a alteração dos estatutos, João Carlos Tomás, da
Comissão Executiva da CGTP e presidente do Sindicato dos Têxteis da
Beira Alta, referiu que o uso do "Método de Hondt" na eleição para o
Conselho Nacional seria "mais responsável, mais representativo e a sua
aplicação traria mais exigência de trabalho, unidade e democratização
dos órgãos".
"Já existem na CGTP organizações que aplicam este
método, que não têm quaisquer problemas e tem sido um fator de coesão
fundamental", advogou, tal como Joaquim Piló, do Sindicato Livre dos
Pescadores e Profissões Afins. "Poderá surgir o receio que possa criar
fraturas e colisão entre correntes político-ideológicos. É um receio
infundado reconhecerem-se correntes pelos estatutos", referiu este
segundo sindicalista, frisando que "esse método é mais responsável e
mais representativo".
Deste 13.º congresso da CGTP, na margem sul,
sairá a eleição do novo Conselho Nacional, com 147 membros, que, ao
tomar posse, na próxima semana, elegerá a Comissão Executiva. Deste
órgão, de 29 elementos, sairá o Secretariado Nacional - com seis
pessoas. Por fim, sairá desse grupo mais restrito a escolha do
secretário-geral, que continuará a ser, ao que tudo indica, Arménio
Carlos.
* A unicidade sindical continua a ser a "virtude" da central sindical.
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