HOJE NO
"DIÁRIO ECONÓMICO"
PS exige escrutínio dos contratos milionários de
clubes de futebol com MEO e NOS
Deputado socialista, Ascenso Simões, alega interesse público para intervenção de Ministério de Educação, ERC, ANACOM e AdC. PS quer informações como compatibilização dos negócios e autorizações administrativas e cumprimento de regras de não cartel.
Os três contratos milionários entre os principais clubes de futebol e
as empresas MEO e NOS que foram anunciados nos últimos dias estão na
mira do Partido Socialista. Num requerimento assinado pelo deputado do
PS, Ascenso Simões, que deu entrada no Parlamento a 30 de Dezembro
passado, é solicitada a intervenção do secretário de Estado da Juventude
e Desporto (SEJD) junto de várias entidades “a quem cumpre o
acompanhamento da situação”. Em causa está, segundo o PS, os princípios
da transparência que os clubes de futebol, enquanto entidades de
interesse público, devem observar e as regras de mercado que estes
“fizeram eclipsar nestas negociações preferenciais”.
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O objectivo do requerimento do deputado do PS é claro: solicitar,
através do gabinete de João Wengorovius Meneses, informação própria ao
Ministério da Educação (a quem cabe a verificação das regras que devem
ser observadas na relação entre clubes que integram a competição), bem
como à Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC), à Autoridade
Nacional de Comunicações (ANACOM), à Autoridade da Concorrência (AdC).
Em causa está a negociação de direitos televisivos dos clubes de
futebol, num conjunto de três contratos que envolvem mais de mil milhões
de euros, situados entre os 400 e os 500 milhões de euros cada um, que
incluem os direitos de transmissão, a exclusividade na publicidade, a
gestão de canais de cabo, o patrocínio de imagem nos equipamentos e,
ainda, alguns universos de relação preferencial.
“Nada haveria a dizer se não estivesse em causa ao interesse
público”, justifica Ascenso Simões no requerimento enviado ao SEJD.
Segundo o deputado socialista, os clubes de futebol integram competições
autorizadas pelo Estado, competições essas que integram ainda outros
clubes e, por isso, realça que “os clubes de futebol, enquanto entidade
de interesse público devem observar os princípios da transparência e as
regras gerais de contratação”.
Salienta que “as empresas referidas são detentoras de autorizações
administrativas pelas quais respondem, não se considerando completamente
autónomas nas regras de mercado que, nitidamente, fizeram eclipsar
nestas negociações preferenciais”. E, por último, acrescenta o deputado
do PS que “os clubes de futebol devem segregar as actividades que cabem
às SAD e aos detentores originais de imagem e devem garantir o respeito
pelo mercado”.
Lê-se ainda no requerimento que “os mais de mil milhões de euros
envolvidos, numa situação em que o país exige total transparência dos
agentes públicos, não podem deixar de seguir um escrutínio pelas
entidades a quem cumpre o acompanhamento da situação”.
Compatibilização de negócios e autorizações administrativas
Ascenso Simões pede, em primeiro lugar, ao Ministério da Educação, através da SEJD, informação sobre a compatibilização dos negócios de direitos televisivos do Benfica, FC Porto e Sporting e as autorizações administrativas concedidas para a realização de competições. E também “a verificação dos direitos dos restantes clubes que são parte nos jogos das SAD’s beneficiadas”.
Na lista de entidades a quem é solicitado que o SEJD solicite informação consta ainda a ERC, a quem cumpre uma avaliação global da relação contratual entre clubes e empresas de comunicação, quer na perspectiva de garantia de mercado, quer na óptica da autorização de gestão, por parte da MEO e da NOS, dos canais cabo que são bandeira dos clubes.
O PS pretende que a ERC faculte informação quanto “a verificação das regras contratuais que garantam o cumprimento dos deveres dos canais de cabo que são bandeira dos clubes”. E ainda a “a garantia da total transparência relativamente ao acesso de terceiros aos direitos agora consagrados”. É também solicitada à ERC “a verificação das autorizações necessárias, pelas empresas, para a realização de tais contratos e em que medida essas autorizações são suficientes”.
Exigida verificação de contratos à ANACOM e de regras de não cartel à AdC
O deputado do PS, Ascenso Simões, quer também que a ANACOM avalie as
regras de mercado e a não implicação destes negócios em actividades
sujeitas a regulação. Em causa está, explica, “a verificação dos
contratos assinados numa perspectiva de garantia de não implicação com
todos os universos regulados e a segregação de responsabilidades entre
as actividades dos grupos que integram a NOS e a MEO”.
O escrutínio destes contratos deve ainda, segundo este responsável,
passar pela Comissão de Mercados de Valores Imobiliários (CMVM), a quem
compete, realça, avaliar “se estes negócios se inserem, em absoluto, no
universo das SAD”. E, por fim, pela AdC para verificação dos contratos
garantindo que o espaço negocial foi cumpridor das regras de não cartel.
Ascenso Simões quer ainda informação da AdC que as empresas tiveram as
mesmas condições e garantias e que o mercado “não fica dependente de
dois gigantes nacionais que implicarão, por dependência, em todos os
operadores a jusante”.
No requerimento, o deputado socialista dá conta que “todos os
universos referidos carecem de esclarecimento público e, em especial,
uma verificação processual e legal que não aprofunde o estatuto lateral
do futebol português.
Os contratos milionários
No âmbito destes contratos, o Benfica vai receber 400 milhões de
euros nos próximos 10 anos, 300 milhões relativos à cedência dos
direitos de TV à Nos e 100 milhões pela distribuição da BTV. A MEO
volta também este ano às camisolas dos jogadores do FC Porto. O estatuto
de patrocinador principal do clube custará à Altice, empresa que
actualmente controla a Portugal Telecom, 457,5 milhões de euros, num
negócio que abrange ainda a transmissão dos jogos do Porto em casa e os
espaços comerciais no Estádio do Dragão, por um período de dez anos.
O contrato com a NOS renderá ao Sporting 446 milhões de euros, que
compreende direitos televisivos da equipa de futebol dos leões e
exploração de publicidade por 10 anos, bem como a distribuição e
exploração da Sporting TV (12 anos) e patrocínio (12 épocas e meia).
* Uma boa atitude do deputado Ascenso Simões.
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