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O QUE NÓS
"CALCULAMOS"!
(para saber o que acontece, siga para último cenário – o número 8).
FONTE: OBSERVADOR
AUTOR: DAVID DINIS
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O QUE NÓS
"CALCULAMOS"!
Eleições.
Oito cenários para o dia seguinte
(alguns são o caos)
Eis um guia para se preparar para a noite eleitoral. São oito
cenários, com várias subdivisões. E algumas saídas surpreendentes pelo
meio. Em cada um tem o grau de risco e de probabilidade.
É o cenário central das sondagens e aquele sobre o qual mais pistas têm sido dadas. Vamos a hipóteses:
Para formar Governo conjunto ou de apoio na AR para os
principais diplomas (o que é chamado na política de “Acordo de
incidência parlamentar”). Conseguindo esse acordo, tudo resolvido –
haverá estabilidade mínima e só a prazo poderá voltar um cenário de
eleições antecipadas.
Este
programa tem de ser discutido na Assembleia 10 dias depois da posse do
Governo – e qualquer partido pode propor a sua rejeição. Neste cenário
(vitória curta da coligação), há mais deputados à esquerda (somados os
lugares de cada partido) do que à direita, mas os votos do PS são
decisivos para o programa passar e o Governo entrar em funções, sem
qualquer limitação.
Neste cenário, porém, Costa já avisou: vai votar contra o
próximo Orçamento do Estado, que virá dois/três meses depois. O que
significa que, se Costa se mantiver à frente do PS, a crise política só é
adiada. Nota extra: para que este cenário se concretize, é preciso que
Cavaco Silva aceite dar posse a um Governo de minoria (tal como no ponto
seguinte).
Seria
um recuo de António Costa face ao que disse na campanha, mas o cenário
menos mau para a coligação, mas o que mais vezes aconteceu: “O partido
que ganha, governa”, lembrou António Vitorino na SIC-Notícias. O Governo
Passos-Portas, mesmo sem maioria absoluta na Assembleia, tinha pelo
menos um ano para governar – embora forçado a negociar legislação com o
PS. Mesmo assim, em outubro do próximo ano, com o Orçamento para 2017 a
chegar à AR, continuaria nas mãos do PS – único partido que pode, em
tese, viabilizar a sua continuidade (nota: a aprovação de uma moção de
censura é, à partida, a maneira mais fácil de a oposição fazer cair o
Governo, a não-aprovação do Orçamento cria um impasse).
Há
muitos anos que não acontece por cá, mas já tem precedente. Em agosto
de 1978, quando o Governo PS-CDS de Mário Soares e Freitas do Amaral
caiu, o então Presidente da República (Ramalho Eanes) deu posse a um
governo de iniciativa presidencial, presidido por alguém que não era
líder de nenhum dos partidos – Alfredo Nobre da Costa.
Mas esse Governo foi chumbado pelos partidos logo na votação do
programa de Governo, levando à convocação de eleições (com uma diferença
– o de Nobre da Costa tinha sido nomeado e não eleito). Se se repetisse
o cenário, porém, Cavaco Silva não poderia fazer o mesmo – nos últimos
seis meses do seu mandato, o PR está impedido de convocar eleições.
Dito
de outra forma: se agora PS, PCP e BE se juntarem para chumbar o
Programa da coligação, o Governo cai e Cavaco entra em modo de gestão de
uma crise política, sem poder haver eleições a não ser lá para maio de
2016, depois da posse do novo Presidente.
Neste caso, de um chumbo do programa da direita, o que é que ainda podia acontecer?
– tendo garantido apoio do PCP ou do Bloco (se este chegar para
fazer 116 deputados com o PS). Com isto garante que o Programa de
Governo e o 1º Orçamento do PS passem na Assembleia.
(para saber o que acontece, siga para último cenário – o número 8).
Tendo
em conta a impossibilidade de um Governo estável e a sua fraca
legitimidade eleitoral. Uma vez mais, há um precedente neste caso:
quando em 1987 a oposição derrubou o Governo minoritário do PSD (Cavaco
Silva), o PS de Vítor Constâncio foi ao Presidente Soares dizer que
podia formar um governo com apoio do PRD e CDU. Mas Soares recusou e
convocou eleições, que resultaram na primeira maioria absoluta de
Cavaco (para saber o que acontece aqui, siga para último cenário – o
número 8).
Com
Costa demissionário, e o PS sem líder, os socialistas deixam passar o
Programa do Governo e o primeiro Orçamento. Só mais tarde, consoante o
líder eleito e a sua estratégia, se perceberá até que ponto a coligação
vai ter ‘paz’ nos primeiros tempos ou se o cenário de instabilidade
política volta no outono de 2016, com o Orçamento seguinte. Foi, de
resto, o que aconteceu em 2009, mas com papéis trocados: Ferreira Leite
tinha perdido para Sócrates, estava de saída do PSD mas
viabilizou o orçamento sem negociar.
Para que este cenário se concretize, é preciso que Cavaco Silva aceite dar posse a um Governo de minoria.
O
desejo do Presidente de só dar posse a um Governo com apoio maioritário
na Assembleia pode empurrar Passos para um stand-by, na expetativa que a
nova liderança socialista se disponha a dialogar (e a fazer um acordo
de Governo ou na AR). O cenário tem um problema: atiraria o orçamento de
2016 para mais tarde, deixando o país em duodécimos – leia-se, em
dificuldades orçamentais. O atual Governo continuaria, assim, a governar
em gestão.
Ficando
longe da coligação, António Costa não tem a opção de tentar manter-se à
frente do seu partido. E com uma crise interna aberta (que se adivinha
profunda) o PS acabará por dar espaço ao Governo, mesmo estando em
minoria. Pelo menos no primeiro ano. O resto dependerá sempre do novo
líder e da sua estratégia (sempre sabendo que a da confrontação falhou
nas urnas).
Tal
como vimos no Cenário 1, Passos pode tentar formar uma coligação/acordo
com o próximo líder do PS. Mas no cenário de uma vitória confortável
pode até fazer o convite já com o Governo formado. Um acordo de
incidência parlamentar (ou seja, sem o PS ir para o Governo) seria o
cenário com maior probabilidade de sucesso.
Mas
recusa acordo (de governo ou de apoio parlamentar). O que Passos disse
na campanha permitem antever que Passos estaria disponível para se
sentar com António Costa e negociar diplomas e reformas mais sensíveis,
do Orçamento do Estado à reforma da Segurança Social. A questão seria
sempre até onde cada um dos líderes estaria disposto a ceder, com
questões sensíveis como a redução da TSU (proposta pelo PS) em cima da
mesa.
O
cenário já aberto, esta terça-feira, por António Vitorino: Costa fazer
como fez Guterres em 1995, negociando com Manuel Monteiro o primeiro
Orçamento. Muito dependeria, claro, da situação dos centristas – se
Portas seria ainda líder ou não. Uma nota mais: a única vez que o CDS
esteve no Governo com os socialistas foi em 1978, quando os centristas
procuravam credibilização e um lugar no eixo da governabilidade. As
vezes seguintes em que ajudaram o PS a aprovar orçamentos foram de
difícil digestão interna, para um partido com eleitorado conservador
(caso dos Orçamentos aprovados por Daniel Campelo, o deputado
‘limiano’).
É o cenário alemão – ou seja, o que acabou por juntar até hoje a CDU de Merkel e o SPD de Sigmar Gabriel, numa “grande coligação”.
Demorou três meses a negociar, mas permanece estável até hoje. É, dizem
alguns, o cenário preferido do Presidente se não houver uma maioria
absoluta, que gostaria de sair de Belém com um Governo estável. As
diferenças programáticas entre os dois partidos não são insuperáveis,
mas o que se disse na campanha (Passos nunca excluiu totalmente, mas
avisou sempre que os partidos são inconciliáveis) e a falta de hábito
negocial em Portugal não o colocam como um cenário provável.
É
o inverso do descrito no cenário 1: António Costa faz um compasso de
espera, pressionado pela vontade do Presidente de se conseguir um
Governo com apoio no Parlamento. A melhor hipótese que teria era a
chegada ao PSD de um líder com o perfil de Rui Rio, com quem tem boas
relações. Mas o histórico da democracia portuguesa não é farto em
líderes que chegam com disponibilidade para apoiar um Governo – embora
Marcelo Rebelo de Sousa tenha usado a adesão ao euro, de 1996 a 1999,
para aprovar três orçamentos de Guterres. Problema prático: a espera
pode demorar três meses e adiar, com isso, a entrada em funções do
Governo e o primeiro orçamento.
Repete-se
o ponto descrito acima: o CDS é uma opção possível, porque deve ter
deputados suficientes para fazer uma maioria com o PS. Mas é um parceiro
incerto (e até com anticorpos no PS).
Em
mais de 40 anos de democracia, só por uma vez o PS tentou esta
hipótese, como se disse acima: quando Vítor Constâncio (então líder
socialista) levou a proposta de Governo PS/CDU/PRD a Mário Soares e este
rejeitou. O tom da campanha eleitoral e as enormes diferenças
programáticas que separam PS, CDU e Bloco (sobretudo os dois primeiros)
tornam este cenário muito difícil – sobretudo pelas políticas europeias,
orçamentais e sociais – que são, hoje em dia, quase tudo. Mas havendo
acordo, o Presidente não o podia recusar.
Sem
outras hipóteses, Costa levará um governo de minoria a Belém,
garantindo a Cavaco que está em boa posição para dialogar com partidos à
direita e à esquerda (o que tem dito na campanha). O primeiro obstáculo
pode estar em Cavaco, que tentará puxar por um acordo mais estável (à
direita). O segundo obstáculo é fazer passar o 1º Orçamento. Mas aqui a
vida é mais fácil para Costa do que seria para Passos, visto que a
direita se tem mostrado aberta a negociar tudo o que for essencial para a
estabilidade.
Com
um bom resultado (que seria, nesta fase, surpreendente), Costa ganharia
espaço para propor a Cavaco um Governo de minoria. Garantias de
estabilidade: a capacidade de diálogo à esquerda e direita, a saída
certa de Passos (que levaria o PSD a uma difícil procura de novo líder) e
a disponibilidade à direita – dita durante a campanha – para negociar o
que fosse importante. Tudo poderia funcionar pelo menos no primeiro
ano, dependendo o resto da legislatura dos novos líderes do PSD e CDS.
Tal
como vimos no Cenário 1, Costa pode tentar formar uma coligação/ acordo
com um dos próximos líderes à direita – provavelmente só depois de
estes serem eleitos.
Neste
cenário, Cavaco deve dar prioridade a quem tem mais deputados,
convidando a coligação a formar Governo. Mas a disponibilidade do PS
para entrar em negociações será muito reduzida, ancorando-se na
legitimidade de ter mais votos (e de a esquerda ser maioritária na AR). O
perigo de uma crise política seria iminente – logo no primeiro
orçamento da direita minoritária, que Costa já ameaçou chumbar.
Se
Costa sair do PS, pelo próprio pé ou afastado, a coligação ganha tempo –
mas não a paz. O líder que se seguisse nos socialistas sabia que podia
escolher o timing de uma crise política, derrubando o Governo num Orçamento (a partir de 2016) ou através de uma moção de censura.
E
faz com que o ónus da instabilidade política fique com os partidos à
esquerda, avaliando depois se Costa tem uma proposta de Governo com
mínimos de estabilidade – o que implicava um acordo com o Bloco de
Esquerda (mais provável do que com o PCP, apesar das enormes diferenças
entre os partidos e a natural indisposição do Bloco para entrar num
Governo). Caso falhasse, teríamos que passar para o último cenário deste
trabalho.
(Se
tiver garantias à esquerda de que Programa do Governo passa e 1º OE
também). A direita ficaria a clamar contra o golpe da esquerda e, com
isso, menos predisposta a cumprir o desígnio da campanha de viabilizar o
primeiro orçamento. Mas PSD e CDS não teriam, juntos, deputados
suficientes para derrubar o Governo, nem orçamentos.
Os
resultados de domingo colocariam Coligação e PS separados por três ou
menos deputados – forçando os líderes e o Presidente a esperar que sejam
enviados para Portugal os votos dos emigrantes espalhados pelo mundo.
Como esses resultados podem chegar apenas até dia 14 de outubro, isto
deixaria os partidos em ebulição – e sem certezas quanto a quem será
convidado a governar. O cenário central, aqui, favorece a coligação: diz
o histórico que é costume ganhar por 3-1 (mas em 1999 foi o PS a vencer
por esse resultado).
O
primeiro-ministro eleito com maioria consegue formar Governo e preparar
as medidas necessárias. O líder do maior partido da oposição (e até dos
pequenos) vai para casa. Uma crise política só aconteceria por motivos
extraordinários e imprevisíveis.
Há
meses que o Presidente alerta para a necessidade de se garantir
estabilidade. Mas a opção de deixar Passos e Portas em gestão até depois
das presidenciais (altura em que podem ser convocadas novas
legislativas), é muito arriscada: sem poderes por exemplo para aprovar
um Orçamento, sem a legitimidade de um Governo saído das urnas, poderia
arrastar o país para um problema complicado, face à desconfiança dos
investidores.
O
Governo de transição serviria para que, com plenos poderes, pudesse
conduzir a governação até depois das presidenciais, quando se puderem
marcar eleições outra vez. Será o cenário mais estranho, mas não há nada
na Constituição que o impeça formalmente. Em Portugal, de resto, isto
já aconteceu uma vez: em julho de 1979, Maria de Lurdes Pintassilgo foi
encarregue de chefiar um Governo de curta duração até às eleições que
levaram a AD de Sá Carneiro ao poder. Mesmo assim, esse governo
precisava de ter a bênção da maioria dos deputados na AR – leia-se, dos
maiores partidos.
Já agora, mais dois problemas neste cenário: há
constitucionalistas que contestam a possibilidade de o Presidente tomar
tal iniciativa; e Cavaco Silva tem sempre recusado qualquer opção que
não venha dos partidos (nem na crise política de 2013 o fez).
FONTE: OBSERVADOR
AUTOR: DAVID DINIS
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