29/09/2015

EDUARDO DÂMASO

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O tabu de sempre

Desde o governo do Bloco Central, entre 1983 e 1985, que vivemos ciclos políticos contaminados por casos de corrupção. Desde aí que o combate à corrupção tem sido encarado pelos partidos de poder como um instrumento meramente retórico. O Bloco Central criou a Alta Autoridade Contra a Corrupção, que foi um nado-morto, com poderes limitados de auditoria e inexistentes de sanção. Não serviu para nada e, pelo contrário, agravou a doença do já de si muito debilitado sistema judicial à época, com um Ministério Público e uma PJ sem meios nem sensibilidade para enfrentar o crime económico.

O cavaquismo defendeu-se dos escândalos reforçando com prudência a PJ mas secundarizando o Ministério Público. Apregoava o reforço de meios da PJ mas deixava o MP do então procurador-geral Cunha Rodrigues a pão e água, sem meios técnicos e humanos. Mais: criou leis inaplicáveis, como o tráfico de influências, e com isso, o pântano de dinheiro negro, clientelismo e luvas em que vivemos há duas décadas.

Chegaram os socialistas com António Guterres e pouco ou nada mudou. O PS deu a Cunha Rodrigues uma parte do que ele pedia – lei orgânica e o estatuto do MP – mas logo a lua-de-mel se desfez com as investigações abertas a autarquias. Sócrates foi um tempo de guerra aberta às magistraturas e de desvalorização total da corrupção. O tabu que ia e vinha perpetuou-se e funciona como um adesivo na boca de todos. Já nem o PCP ou o BE falam do assunto. Hoje, com a ausência completa do tema da corrupção na campanha eleitoral, parece que vivemos num oásis de exemplaridade. Ilusão perigosa que, mais tarde ou mais cedo, vamos todos pagar caro.

IN "SÁBADO"
24/09/15

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