HOJE NO
"DIÁRIO ECONÓMICO"
"DIÁRIO ECONÓMICO"
Crédito ao consumo é responsável
por nove em cada dez
situações de incumprimento
Concessão de crédito ao consumo em Portugal regressa a níveis pré-troika.
A concessão de crédito ao consumo está novamente a disparar em Portugal.
Só em Julho, os bancos emprestaram 276 milhões de euros para efeitos de
consumo, o valor mais alto desde Março de 2011, em níveis pré-troika.
Somando a concessão de crédito feita pelas financeiras e também os
montantes disponibilizados através de cartões, descobertos autorizados e
linhas de crédito, então este valor sobe para os 436 milhões de euros
em Julho, ou 2,8 mil milhões de euros nos primeiros sete meses do ano,
mais 22% face ao homólogo.
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Uma tendência que está a ser
alimentada por bancos e consumidores apesar do rácio de crédito em
incumprimento neste segmento permanecer perto de máximos históricos. E
ainda que existam hoje menos devedores em incumprimento, ao longo de
três anos o recuo foi apenas marginal. No auge da crise, em Junho de
2012, existiam 649.449 famílias portuguesas incapazes de cumprir com as
prestações mensais do seu crédito ao consumo. Hoje são 591.360. Ou visto
por outra escala, o crédito ao consumo é responsável por nove em cada
dez famílias em incumprimento. E isto apesar da implementação do Plano
Extrajudicial de Regularização de Situações de Incumprimento, pelo Banco
de Portugal, no início de 2013, ter culminado com a regularização de
dívidas em 425.591 processos até ao final de 2014.
"Gostaria
muito de dizer que todos aprendemos alguma coisa com o que se passou mas
na verdade acho que estão a ser cometidos os mesmos erros do passado",
diz Natália Nunes, responsável pelo Gabinete de Apoio aos
Sobreendividado da Deco, onde todos os dias continuam a chegar os casos
mais extremos de incumprimento, num ritmo que continua a ser idêntico ao
registado no último ano. "Voltamos a ver os bancos com uma forte aposta
na publicidade a este tipo de crédito, voltamos a ver técnicas de venda
agressivas como as bancas nos centros comerciais que tentam vender
cartões de crédito", elenca a responsável da Deco. Adianta que: "Noto
algum ‘entusiasmo' por parte dos consumidores, alimentado um pouco pela
ideia de que o pior já passou, de que a crise acabou. E tenho muito medo
que os consumidores se deixem novamente a seduzir por esta oferta".
Uma
visita pelos sites dos principais bancos nacionais permite perceber a
aposta neste tipo de oferta. O crédito ao consumo, nomeadamente o
crédito pessoal e os cartões de crédito, aparece actualmente destacado
na publicidade de cinco das seis maiores instituições de crédito. Uma
aposta legítima dos bancos, principalmente numa altura em que a
recuperação da margem financeira continua a ser uma prioridades do
sector. Apesar disso, Natália Nunes lembra que também os bancos foram
afectados pelo incumprimento bancário, e que portanto a concessão de
crédito responsável deverá ser igualmente do seu interesse. Ainda que:
"Os consumidores têm de perceber que, em última análise, são eles os
principais prejudicados".
Mas comprar um automóvel, mobilar a
casa, fazer obras, estudar no estrangeiro ou até ter umas férias
paradisíacas, podem ser necessidades ou sonhos legitimamente
concretizáveis através do recurso ao crédito, para benefício das
instituições de crédito mas também dos consumidores. Não se devem tratar
no entanto de decisões tomadas de forma impulsiva ou leviana. Por isso
mesmo a especialista da Deco alerta para os cuidados a ter na altura de
contratar um crédito ao consumo (ver texto ao lado), entre os quais,
fazer uma prospecção de mercado e negociar. Isto porque, apesar das
taxas de juro se encontrarem hoje em níveis historicamente baixos, os
custos continuam a ser consideráveis.
Num crédito pessoal no valor de
6.000 euros (o valor médio em Portugal), a pagar em 36 meses, pagaria
mais quase 1.000 euros no final do contrato, considerando a oferta mais
em conta do mercado que é, segundo o simulador da Deco, o ActivoBank,
com uma TAEG de 10,1%. Já se considerar a taxa de juro mais cara
actualmente possível para estes contratos, fixada pelo Banco de Portugal
em 15,4% para o terceiro trimestre, então chegará ao final dos três
anos com uma factura total em torno dos 7.650 euros. Custos que serão
tanto maiores quanto os montantes e prazos solicitados. Num empréstimo
de 15.000 euros a 60 meses, com uma TAEG de 15,4%, os custos totais
imputados ao consumidor ultrapassam os 22.000 euros.
* O disparo do crédito ao consumo é uma manobra eleitoralista do governo gizada em conjunto com a banca que o apoia. Bancos sem políticos não sobrevivem e vice versa.
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