HOJE NO
"i"
"i"
Vício
Instituto de Apoio ao Jogador recebe
10 pedidos de ajuda por semana
Coordenador Pedro Hubert diz que maioria dos pedidos resultam de problemas com jogos online. Em 20% dos casos, sem dinheiro envolvido.
São quase sempre os familiares que pedem ajuda. As dívidas tornam-se
evidentes, acentua-se o isolamento e surgem problemas no trabalho ou na
escola. Pedro Hubert, psicólogo e coordenador do Instituto de Apoio ao
Jogador, revelou ao i que estão a aumentar os pedidos de ajuda de
pessoas com dependência do jogo. Desde 2009, ano em que foi criada a
linha de ajuda do IAC, passaram de um a dois casos por semana para mais
de dez.
.
Têm estado a aumentar sobretudo os pedidos relacionados com jogos
online, que já são a maioria. Dominam os problemas com póquer e apostas
desportivas, mas 20% das situações não dizem respeito a apostas a
dinheiro. São sobretudo os videojogos que absorvem adolescentes mas
também jogadores mais velhos durante dias e noites, como o League of
Legends.
Além de prestar apoio clínico aos chamados jogadores patológicos e
famílias, Hubert tem vindo a estudar este fenómeno da dependência do
jogo. Na semana passada, o seu estudo inédito sobre diferenças e
semelhanças entre os jogadores das salas de jogos reais e os do mundo
virtual esteve em destaque na 1.a Conferência Europeia sobre
Comportamentos Aditivos e Dependências, que trouxe a Lisboa mais de 600
peritos. Uma das conclusões pode ser a explicação para o aumento dos
pedidos de ajuda: há cada vez mais oferta de jogos online e estes
jogadores entram em situações de dependência dez anos mais cedo do que
aqueles que frequentam casinos e outras salas de jogo, apurou Hubert no
âmbito da sua tese de doutoramento concluída em 2014. Neste trabalho,
que envolveu inquéritos a 1599 jogadores portugueses, o psicólogo
concluí que o jogador patológico online tem em média 30 anos quando o
offline tem 40 anos. E os dados sugerem também que, sendo ambas as
realidades potencialmente viciantes, no universo online passa-se mais
rapidamente de uma situação de jogo recreativo para utilização abusiva e
problemática, explica o psicólogo.
Sinalizar
Além da actividade no IAC, Pedro Hubert trabalha há dois
anos com as administrações regionais de Saúde em formações de
profissionais para uma melhor detecção e prevenção destas situações.
Além de entender que deve haver um reforço para esta ideia de que os
problemas surgem mais cedo e que a situação se pode mais facilmente
descontrolar, o especialista admite que o facto de os jogadores online
terem tendencialmente maior nível de instrução causa alguma surpresa
entre os especialistas – 80% tem o 12.o ou licenciatura. O facto de
muitas vezes uma dependência do jogo vir acompanhada de outros
distúrbios psicológicos como ansiedade, stresse ou mesmo ideação suicida
é algo que Pedro Hubert considera que deve ser tido em conta. Assim
como o risco de alguém com um problema de dependência de substâncias
poder cessar este vício substituindo-o pelo do jogo. Estima-se que o
jogo problemático afecte 0,3% da população portuguesa, ou seja 30 mil
pessoas. Mas outras tantas estarão em risco.
Jogo responsável
Segundo o especialista, Portugal
ainda está a dar os primeiros passos em matéria de jogo responsável.
Embora a Lei do Jogo preveja que os jogadores problemáticos de casinos
possam pedir a interdição das salas de jogo, Hubert tem dúvidas de que
isso tenha efeito prático. “Existem cerca de 400 pedidos por ano e a
foto da pessoa é divulgada por todas as salas, mas não havendo controlo
de idade à entrada dificilmente serão barrados em todas as ocasiões.”
Além disso, diz faltar na maioria dos espaços informação sobre linhas de
ajuda. Para o especialista, a lei das apostas online, que entrou em
vigor este Verão – obrigando os sites a estarem licenciados, a proibirem
menores e disporem de informação sobre linhas de ajuda psicológica –
tem melhores bases para uma política de prevenção, desde que seja
cumprida.
* À dependência do jogo junta-se o álcool, a droga e o roubo.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário