Uma tatuagem
pode tirar-lhe o emprego
Discriminação? Sim, afinal a competência não é afectada pela
quantidade de tinta que existe debaixo da sua pele. Mas confiava a vida
do seu filho nas mãos do homem na fotografia?
Os fãs
fervorosos de tatuagens vão responder sem pensar: "sim, absolutamente";
os mais conservadores chegarão a virar a cara de horror. Mas a maioria
provavelmente teria reservas
em aceitar pacificamente aquele homem como pediatra dos seus filhos. Ou
como assistente de bordo numa companhia aérea. Ou como interlocutor
numa reunião de negócios.
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É claro que a capacidade de trabalho, a competência e as
qualificações não têm ligação directa com a imagem, mas se aparecer para
uma entrevista de trabalho
de fato de banho e chinelos provavelmente não vai conseguir o emprego -
a menos que seja para nadador-salvador. E é esta a questão essencial:
ainda há um leque muito grande de posições profissionais que não
prescindem de uma apresentação clássica.
A verdade é que a aparência conta muito no momento de contratar alguém. Há empresas
que põem barreiras logo à partida - a maioria das companhias aéreas,
por exemplo, impõe como condição de candidatura uma pele limpa de
tatuagens e furos artificiais. Mas mesmo as que não o fazem
explicitamente acabam por travar candidatos cuja imagem não é adequada
às funções para as quais concorrem. Tatuagens visíveis e outras
modificações corporais são ainda uma barreira importante à contratação e
todos os argumentos anti-discriminação do mundo não são suficientes
para impedi-lo.
Num mercado de trabalho
ultracompetitivo, a normalidade é muitas vezes uma vantagem. Ainda que
não veja nada de errado na borboleta colorida que desenhou no tornozelo
ou na caveira impressa no antebraço, outros poderão sentir-se
desconfortáveis com eles. E o recrutador vai pensar nisso quano estiver a
analisar todos os candidatos. E acredite: a borboleta e a caveira estão
definitivamente no mesmo patamar - não se trata de quão aceitável é o
boneco mas de as tatuagens ainda serem olhadas de lado, serem um
impedimento à criação de uma ligação de confiança.
Num mundo em
que um treinador de futebol não tem apenas de saber treinar a equipa mas
se lhe exige que seja uma espécie de relações públicas do clube - e
muitas vezes que fale ou pelo menos arranhe uma ou duas línguas
estrangeiras -, será assim tão descabido que uma empresa seja
intransigente relativamente à boa imagem dos funcionários que lidam
directamente com os clientes?
Há aqui um caminho a percorrer, sim.
Rejeitar um emprego a alguém que tem tatuagens visíveis ou preteri-lo
numa promoção apenas pelo seu aspecto são formas inequivocas de
discriminação. Mas ainda não chegámos ao ponto em que a maioria
considera uma modificação corporal definitiva tão normal quanto usar
maquilhagem. E enquanto não chegarmos a esse momento temos de
adaptar-nos.
Da mesma forma como não iria para uma entrevista de
trabalho como quem vai para a praia, se está realmente determinado em
fazer uma tatuagem, é bom que pense bem como colocá-la de forma a que se
mantenha invisível sempre que precisar que o seja.
Pode parecer
incrível, mas mesmo o homem da fotografia teve esse cuidado. Sempre que
veste a bata de médico, a sua profissão há mais de 25 anos, em Nova
Iorque, não há tatuagens à vista.
IN "DINHEIRO VIVO"
15/07/15
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