HOJE NO
"DIÁRIO ECONÓMICO"
"DIÁRIO ECONÓMICO"
PS quer pôr ex-alunos
a financiar universidades
Ex-alunos que entrem no mercado de
trabalho vão consignar parte do seu IRS à instituição onde estudaram.
Medida não implica aumento de impostos.
O PS quer pôr os ex-alunos a contribuir para o
financiamento das universidades e politécnicos públicos que
frequentaram. A medida, que faz parte do documento ‘Uma Década para
Portugal' apresentado na semana passada pelos grupo de 12 economistas,
tem como objectivo aumentar o financiamento do ensino superior.
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A
proposta dos socialistas passa por consignar parte do IRS pago pelos
ex-alunos de cada universidade ao seu financiamento. Ou seja, à medida
que os alunos terminem a sua licenciatura as universidades e
politécnicos vão comunicar ao Fisco quem são os seus antigos estudantes.
Quando os diplomados entrarem no mercado de trabalho uma parte do seu
IRS passa a ser consignado às instituições de ensino superior que
frequentaram. Isto "sem que exista um aumento da carga fiscal para os
ex-alunos", explicou, ao Económico, Manuel Caldeira Cabral, um dos
economistas envolvidos no documento económico que servirá de base ao
programa de governo do PS. Ao mesmo tempo, esta via de financiamento não
implica "uma redução na transferência das verbas do Orçamento do
Estado" para o ensino superior, garante Caldeira Cabral.
Além de
permitir um aumento do financiamento para as instituições, este é "um
incentivo" para que as universidades "melhorem o seu contributo para a
sociedade e estreitem a sua ligação ao mercado de trabalho", explica o
economista, até porque, quanto mais estudantes conseguirem "encontrar um
trabalho estável e onde possam progredir, maior será o retorno para as
universidades". Ou seja, "o retorno para as universidades será
proporcional ao valor que criam para o mercado de trabalho", reforça.
Esta
pode ser ainda uma ferramenta "visível" para as universidades
"reformularem os cursos com problemas de empregabilidade", defende
Caldeira Cabral.
O valor da percentagem da consignação do IRS -
que será igual para cada instituição - ainda não está definido, mas
deverá rondar os 0,5%, a mesma percentagem que hoje pode ser atribuída,
de forma voluntária, às confissões religiosas ou instituições
particulares de solidariedade social (ver caixa). Desta forma, prevê
Caldeira Cabral, dentro de "três ou quatro anos esta seria já uma via
importante" de financiamento para as universidades "e, em dez anos, o
orçamento das instituições pode subir entre 10% a 20%".
Está
ainda por definir o limite temporal da medida: se será aplicada durante
os primeiros dez anos da carreira fiscal dos ex-alunos ou estendida no
tempo.
Esta é uma das soluções do pacote de medidas que estão
a ser desenhadas pelas socialistas para aumentar o financiamento do
ensino superior, que segundo Caldeira Cabral vão ser aplicadas de forma
faseada ao longo da próxima década.
Medida é simultaneamente um "benefício" e um "desafio"
Tanto
os reitores como os presidentes dos politécnicos aplaudem a medida. O
presidente do Conselho Coordenador dos Politécnicos (CCISP), Joaquim
Mourato, sublinha que para as instituições a consignação pode ser em
simultâneo "um benefício" e "um novo desafio". Isto porque, explica,
"quanto melhor for a colocação do estudante maior será o retorno".
No
entanto, o representante dos politécnicos diz ter "receio" que, no
futuro, exista "aproveitamento deste mecanismo de financiamento para
reduzir ainda mais a dotação do Orçamento do Estado" para o ensino
superior.
Os especialistas ouvidos pelo Económico também
reconhecem o mérito da medida. "O que há é uma alteração à forma de
financiar as universidades através de mais um critério: além do número
de alunos, por exemplo, introduz-se a empregabilidade e isso é
perfeitamente admissível do ponto de vista constitucional", considera o
constitucionalista Tiago Duarte. O fiscalista Nuno Oliveira Garcia
partilha da mesma opinião: "Percebe-se que as questões fiscais podem
ajudar a definir outras políticas como as culturais ou as de educação". A
medida vai ao encontro daquilo que é praticado noutros países, mas
através de donativos. "É muito comum, nos Estados Unidos, os ex-alunos
fazerem donativos para apoiar as instituições que os formaram",
considera Oliveira Garcia, "mas a consignação é uma forma mais prática
do que fazer um donativo".
Para Tiago Duarte, o que pode ser
discutível, mas do ponto de vista político, é a possibilidade de se
aumentar mais o financiamento de cursos com custos mais baixos. Como os
descontos no IRS são feitos proporcionalmente aos rendimentos, um
advogado por exemplo vai descontar mais para um curso que envolveu
menores custos do que outro em que são utilizados mais meios e materiais
mas cujos profissionais podem vir a ter rendimentos mais baixos.
* Achamos a medida excelente no entanto o último parágrafo da notícia suscita dúvidas que podem ser corrigidas.
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