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HOJE NO
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Conheça o saco azul do GES que está a deixar muitos poderosos em pânico
A E. S. Enterprise terá servido para fazer pagamentos no GES que não ficavam registados. Já há pelo menos uma confissão: presidente da Escom disse ter recebido bónus por aquela via
Uma
empresa misteriosa, com sede num paraíso fiscal, está a ser investigada
por suspeitas de ser uma espécie de saco azul do Grupo Espírito Santo
(GES). Chama-se Espírito Santo Enterprise, não consta do organograma em
forma de cascata das empresas do GES, mas nos corredores diz--se que a
descoberta da sua existência foi suficiente para pôr muitos poderosos –
de administradores de empresas do GES a responsáveis políticos – a
tremer.
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A sociedade está a ser investigada pelo Ministério Público num dos
processos do universo BES/GES, por suspeitas de ser o veículo usado
pelos Espírito Santo para pagar bónus ou comissões a colaboradores do
grupo, ou a nomes da esfera política, sem deixar vestígio.
Fonte próxima da família Espírito Santo explica ao i que a empresa
era desconhecida de alguns membros que pertenciam ao núcleo duro do GES.
Mesmo nas actas e gravações das reuniões do Conselho Superior do
grupo, onde quase tudo era discutido entre os cinco principais ramos do
clã, não há registo de qualquer alusão a esta empresa ou a um saco azul.
Uma das hipóteses a serem exploradas pelos investigadores é que a
Espírito Santo Enterprise tenha sido usada como plataforma oculta para
alimentar contas na Suíça no negócio da venda da Escom. Como o i já
adiantou, a equipa que investiga o caso Monte Branco suspeita que o
construtor civil José Guilherme possa ter sido um intermediário de
dinheiro entre Angola e Ricardo Salgado e não descarta a hipótese de os
14 milhões pagos pelo empreiteiro ao então presidente do BES terem
origem no sinal pago pelos angolanos no negócio da Escom. Os 52 milhões
de euros pagos de sinal ao GES, após a assinatura do contrato-promessa
em 2010, não terão dado entrada nas contas da Escom (empresa detida a
67% pelo GES) e o seu destino permanece uma incógnita. A hipótese de o
dinheiro ter passado pela Espírito Santo Enterprise está a ser
analisada.
Mas o negócio da Escom poderá ser só uma ínfima parte do que está em
causa As verbas transaccionadas através desta sociedade poderão chegar
perto dos 300 milhões de euros, de acordo com o “Público”.
Para já, quase tudo o que sobra da análise à Espírito Santo
Enterprise é um enigma. Mesmo na Comissão Parlamentar de Inquérito –
onde até à data já foram ouvidas mais de 30 pessoas –, apenas José
Castella, business controller e tesoureiro do GES, Francisco Machado da
Cruz, o famoso contabilista que Salgado responsabilizou pela ocultação
do buraco de 1300 milhões de euros nas contas da Espírito Santo
International (ESI), e Hélder Bataglia, presidente da Escom, falaram da
empresa.
Os dois primeiros limitaram-se a assumir ser administradores – no
papel – da Espírito Santo Enterprise, mas negaram ter mais informações
sobre a empresa. Já Bataglia admitiu ter recebido pagamentos do Grupo
Espírito Santo através daquela sociedade, a título de bónus, pelos seus
contributos no desenvolvimento de actividades do GES ao longo de duas
décadas. Terá sido o caso, confessou, de negócios em Angola e no sector
da energia. O presidente da Escom contou aos deputados que esses
pagamentos estavam nas mãos de Ricardo Salgado e eram feitos fora de
Portugal. Contou ainda que terá chegado a assinar um contrato que previa
a entrega daqueles “fees” caso fossem alcançadas as metas.
Nos bastidores, há quem esteja a ligar a opacidade e o secretismo em
torno do veículo-mistério às cartas recentemente enviadas pelo
ex-presidente do BES à Comissão Parlamentar de Inquérito, detalhando os
encontros que teve com responsáveis políticos em 2014 para discutir os
problemas financeiros do GES e do BES. Salgado encontrou-se com Cavaco
Silva, Pedro Passos Coelho, Paulo Portas, Durão Barroso, Carlos Moedas e
Maria Luís Albuquerque.
As missivas foram o suficiente para fazer regressar o alarido: quem
estaria Salgado a tentar encostar à parede? A verdade é que muitos as
leram como um aviso de que muitos segredos ainda estão por revelar.
* Ainda a procissão do escândalo vai no adro.
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