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Senso d'hoje
Senso d'hoje
OLGA RORIZ
COREÓGRAFA
COREÓGRAFA
DIRECTORA DE COMPANHIA
SOBRE 40 ANOS DE CARREIRA
Já tive muitos altos e baixos. Fiz a estreia d'A Sagração da
Primavera [2013] à base de muitas injeções, foi muito duro. Não é que
viva em sofrimento todo o tempo, mas o meu corpo não sabe o que é um dia
em que não tenha uma dor. Sempre tive um corpo disciplinado de uma
maneira mais ou menos natural, com mais ou menos esforço. E já não vou
para nova...
Coisas que sejam violentas não voltarei a dançar. Mas não é tanto
isso que me preocupa. Como criadora, já fiz peças em que quase não me
levantei. Para criar, estou atrás de uma mesa a escrever. Vou
eventualmente encontrar outro sítio, outras coisas... Não é algo que me
cause depressão. Tenho uma grande capacidade de tornar o negativo em
positivo. Apesar de também ser um bocadinho negra. Mas há uma coisa que
me faz sempre feliz: recriar-me diariamente numa ideia, numa frase, numa
coisa que escrevo, numa coisa que penso, em algo que projeto.
Quando perguntei à minha mãe quem é que fazia as danças para os
bailarinos e ela me respondeu "são os coreógrafos", respondi "quero ser
isso", sem sequer conseguir pronunciar a palavra. Devia ter uns três ou
quatro anos.
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