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IN "CORREIO DA MANHÃ"
28/01/15
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Há mais caminhos
Aconteça o que acontecer, o Syriza já pregou um grande susto à Europa das bem-pensâncias, e demonstrou que "não há machado que corte a raiz ao pensamento".
A lógica infecto-contagiosa, defendida pela execrável Merkel, de que não há alternativa àquela sob a qual vivemos foi pulverizada pela enorme vitória do partido grego.
Já não se suporta o ‘rotativismo’ europeu, a alternância sem alternativa, que arrastou os países para a miséria, com excepção da Alemanha. Dois partidos têm servido os seus amos: o ‘socialista’ e o conservador sob diversos nomes. A Europa da solidariedade e da entreajuda foi subvertida pela decepção permanente. Os temas éticos, que constituíam o edifício da moral e mantinham a experiência democrática, deixaram de existir. Com passividade indignificante, os políticos entregaram a própria razão de ser à Alemanha.
O reverente cortejo de chefes de Estado a Merkel lembra os veneradores do Império a obsequiar a pró-consulesa. Nunca a Europa ‘democrática’ desceu tão baixo. E as severas advertências feitas pela senhora alemã ao povo grego, logo que a vitória do Syriza começou a configurar-se, assumiram o registo de ameaça. O mesmo tom, aliás, foi utilizado por Juncker e, vejam só!, pelo balofo Durão Barroso, um dos casos mais desacrediantes de serventuário do poder.
O Syriza provou que há outros caminhos, que não aquele, único, pretendidamente imposto, logo-assim se criou a UE e se estabeleceu a hegemonia alemã, beatificamente aceita como salvífica. Está por saber, com rigor, quem beneficiou amplamente desta ‘união’, e quem, se deixou esbulhar, quando a euforia do "vamos ser todos iguais" se desvaneceu em drama.
O edifício foi bem estruturado, e os povos mais frágeis, os periféricos, estão a pagar uma factura dolorosa. Portugal e a Grécia são os exemplos mais trágicos. E não venham alguns ignorantes repetir a infâmia de que os gregos viviam como lordes. Viviam com aquilo a que tinham direito. Refiro-me aos trabalhadores. A expressiva vitória do Syriza veio esclarecer que não há servidões voluntárias e que a injunção do terror de Estado, sob a capa democrática, compromete todos aqueles que abdicaram de se revoltar. A violência reclama, sempre, outra violência, e, insistindo no que se deseja ocultar, não há conquista sem luta, nem luta sem sofrimento. E por aqui?
IN "CORREIO DA MANHÃ"
28/01/15
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