Black Thursday
Na passada quinta-feira, dia 15, aconteceu algo de extraordinário e,
para alguns, desastroso. O franco suíço valorizou como nunca se tinha
visto nos últimos tempos. O franco suíço foi sempre apreciado pelos
investidores por ser a moeda de um país política e economicamente
estável.
O facto de a suíça ser um país pequeno faz com que o seu mercado
interno seja reduzido e acaba por obrigar a maioria das empresas a ter
que exportar parte dos seus produtos e serviços. Em 2013 a suíça
exportava bens e serviços equivalentes a 72% do PIB (dados do banco
mundial).
Assim sendo, um franco suíço caro prejudica gravemente a economia da
suíça, uma vez que os importadores dos bens suíços têm que pagar numa
moeda que vale menos que o franco, logo encarece o preço da importação.
O franco suíço teve sempre a tendência para valorizar ao longo do
tempo, em relação às principais moedas como o euro e o dólar. Com a
crise da dívida soberana na Europa e os receios à volta das políticas do
Banco Central Europeu (BCE) para a sua resolução e, sendo o franco
suíço um ativo de refúgio de referência, este valorizou bastante nos
últimos anos e o Banco Nacional da Suíça foi obrigado a tomar medidas.
Em 2011, o Banco Nacional Suíço (SNB) revelou preocupações em relação
à valorização do franco, principalmente face ao euro. Perante isto,
decidiu estabelecer um limite para a valorização do franco, sendo esse
limite 1,20 euros. Para defender este nível, o Banco Nacional da Suíça
aumentou bastante o seu balanço e usou o seu poder para criar francos
iniciando a compra de milhões e milhões de moeda estrangeira.
Entretanto o BCE vendo a inflação e o crescimento extremamente baixos
na União Europeia, partilhou com o mercado o facto de poder vir a
implementar políticas monetárias mais expansionistas. Nas últimas
semanas criou-se a expetativa de essas políticas virem a ser desvendadas
na reunião do BCE, dia 22 de janeiro, o que fez o Banco Nacional Suíço
perceber que já não tinha capacidade para continuar a gastar milhões e a
defender aquele nível com que se tinha comprometido. Então, na
quinta-feira dia 15, de manhã, sem aviso prévio e, numa reunião de
emergência, o banco decide que a economia se tinha adaptado ao nível de
cotação do franco e que não ia continuar a defender aquele nível em
relação ao euro. Além disso, desceu o valor médio da Libor a 3 meses,
uma taxa de juro de referência, de menos 0,25% para menos 0,75%.
Este
comunicado apanhou o mercado desprevenido e provocou uma explosão no
preço do franco, o que afetou todos os pares cambiais e fez com que
alguns deles tivessem variações que não eram vistas desde 1971, assim
como o principal índice bolsista da Suíça que neste mesmo dia caiu mais
de 10%.
Este movimento, extremamente violento dos pares cambiais, provocou
uma falta de liquidez, principalmente junto das corretoras online que
não foram capazes, em alguns casos, de exercer as ordens dos clientes ao
preço pretendido, levando a grandes perdas por parte destes e das
próprias corretoras. A forte alavancagem da generalidade dos clientes
foi outro fator que contribuiu para que houvesse perdas avultadas e,
devido á falta de liquidez, as corretoras não conseguiram fechar as
posições dos clientes em tempo útil, a fim de evitar um descalabro. Tudo
isto levou a uma situação extremamente precária de uma famosa corretora
online – Alpari – que chegou a publicar oficialmente no seu site que
tinha entrado em insolvência, retirando essa informação no dia seguinte,
encontra-se neste momento em conversações para a sua venda.
Levou
também, a que a FXCM, uma das maiores corretoras do mundo, tivesse que
ser comprada, por cerca de 300 milhões de dólares, para ser salva.
A quinta-feira negra, dia 15 de Janeiro de 2015 será falada por
muitos anos e marcará para sempre a memória de todos os que negoceiam no
mercado cambial.
Estudante na Universidade Europeia
IN "OJE"
20/01/15
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