HOJE NO
"OBSERVADOR"
Faltam tampões na Argentina.
E ninguém se entende sobre a razão
Está a ser impossível para as mulheres argentinas comprar tampões. A presidente Kirchner já foi questionada acerca do problema. O que está a acontecer? O governo e as importadoras trocam acusações.
Mais um grande embaraço para Cristina Kirchner, a presidente da
Argentina: as dificuldades económicas e as barreiras alfandegárias
impostas pelo governo estão a causar uma forte escassez de alguns bens, que já está a chegar aos produtos essenciais. Uma reportagem do The Wall Street Journal conta
que as retalhistas e as distribuidoras de produtos de higiene estão a
fazer o possível para resolver este problema, especialmente a falta de tampões que está a afetar o país e sobre a qual Cristina Kirchner já foi questionada.
“Oh,
que bom! Têm alguns”, disse, empolgada, Lucia Bravo ao repórter do
jornal norte-americano. “Tentei comprar tampões há um mês e não
encontrei em lado algum”, explicou Lucia, que vive na zona de Palermo e
que encontrou, num hipermercado da região, uma caixa de tampões da marca
Kotex. Até esse momento, a mulher argentina, na casa dos 30 anos, ouviu
da boca dos funcionários de todas as lojas que visitou o mesmo que
ouviu o repórter do The Wall Street Journal (WSJ) quando entrou numa
farmácia de Buenos Aires. “Não temos tampões para vender. E
não só tampões, estamos a ter dificuldade em obter fraldas para
adultos, elixires orais e alguns medicamentos”, respondeu uma
funcionária.
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Em pleno verão, a inexistência de tampões está a gerar muita
angústia entre as mulheres argentinas, diz o WSJ. Segundo uma plataforma
de monitorização de redes sociais, a t-bee.tv, o problema foi referido
mais de 25 mil vezes em quatro dias nas redes sociais Facebook e
Twitter. Uma utilizadora do Twitter, Paula Galay, escreveu “Estou nos
EUA e as minhas amigas estão a pedir-me para lhes trazer tampões quando
regressar. Tenta lá fazer melhor que isto, Pai Natal”.
O que está a causar a escassez?
Ironias à parte, este é um problema que, para os economistas, ilustra
os problemas da economia argentina e o excesso de controlo estatal. O
Ministério da Economia da Argentina rejeita responsabilidades, apesar
das dificuldades conhecidas do Estado em pagar a dívida externa e
importar bens como combustíveis.
Na base do problema poderá estar a
falta de dólares no sistema financeiro que, como explicam economistas,
leva a que algumas empresas fiquem “descalças” no momento em que o banco
central distribui os dólares disponíveis. O banco central garante,
contudo, que fornece dólares às empresas importadoras.
Para o
Governo, o que está a causar a escassez de tampões são “problemas
logísticos” de empresas como a Johnson & Johnson e a Kimberly Clark.
Esta última admite “problemas de distribuição” relacionadas com o
aumento da procura neste início de época balnear. Mas Miguel Ponce,
diretor de um think tank ligado ao mundo empresarial, diz que o
banco central deve às importadoras mais de cinco mil milhões de
dólares, por produtos que já foram trazidos para o país. E acrescenta
que o governo está desde o ano passado a colocar entraves à importação.
“Se
o ministro da Economia fosse uma mulher, não haveria uma escassez de
tampões”, afirma Miguel Braun, um economista que trabalha com
Mauricio Macri, presidente da Câmara de Buenos Aires e candidato
presidencial opositor de Cristina Kirchner. “Se o ministro da
Economia entendesse alguma coisa de Economia também não teríamos este
problema”, atira.
Em resposta, o Ministério da Economia diz que as
políticas alfandegárias têm como objetivo apoiar os produtores locais e
dizem que “é importante sublinhar que não há falta de quaisquer
produtos sensíveis”. Produtos sensíveis? “As nossas prioridades são
produtos médicos e bens de primeira necessidade”, explica o governo.
* Tamponex, rima com simplex. O espalhafato da governação Argentina pendurado num tampão higiénico.
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