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"PÚBLICO"
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Secretário de Estado plagiou textos sobre a “dimensão moral” da profissão docente
João Grancho copiou, sem citar, dois textos académicos numa comunicação que apresentou num seminário espanhol quando era presidente da Associação Nacional de Professores. O actual governante recusa a acusação de plágio.
Foi num seminário académico espanhol, em 2007, que João Grancho
apresentou a sua comunicação. O agora secretário de Estado do Ensino
Básico e Secundário participou, como presidente da Associação Nacional
de Professores, ANP, numas Jornadas Europeias, em Múrcia, numa
conferência sob o tema "A dimensão moral da profissão docente"
Sete anos depois, as dez páginas da sua participação – que está publicada no site das Jornadas– levantam uma questão sensível. Em algumas partes, o agora governante copia documentos anteriores, da autoria de outros académicos, sem fazer qualquer referência aos autores originais.
O COPISTA |
Da
parte do secretário de Estado refuta-se a acusação de plágio:
"Pretender associar um mero documento de trabalho, não académico nem de
autor, nas circunstâncias descritas, a um plágio, é totalmente
inapropriado e sem qualquer sentido.”
Em causa estão, antes
de mais, sete parágrafos no capítulo sobre “Profissionalidade e
Deontologia Docente”. Em mais de uma página, o texto de Grancho reproduz
partes de uma comunicação, assinada pelo professor do Instituto de
Educação da Universidade de Lisboa, Agostinho Reis Monteiro. Um trabalho
que este apresentou em Outubro de 2001, em Lisboa, no seminário Modelos
e Práticas de Formação Inicial de Professores. O tema da comunicação de
Reis Monteiro era “Para uma deontologia pedagógica”.
João Grancho
reproduziu, quase na totalidade, a introdução de Reis Monteiro, além de
um parágrafo de outra parte desse trabalho sobre a “questão
deontológica”.
Os excertos reproduzidos versam o tema da
deontologia na profissão de docente, abordando o carácter “crucial” da
deontologia para o “maior prestígio social” da “profissão do professor” e
ainda a necessidade da criação de uma comissão deontológica.
Mas o
plágio não se limita a este autor. No capítulo final da sua
comunicação, Grancho reproduz outros três parágrafos (mais de uma
página) de um documento de trabalho da comissão ad hoc do CRUP
(Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas) para a formação de
professores, cujo título é “Por uma formação inicial de qualidade". Mais
de metade desse capítulo – representando mais de uma página – é
retirado desse documento datado de Abril de 2000, assinado, entre
outros, por João Pedro da Ponte (que na altura liderava o Departamento
de Educação da Universidade de Lisboa) e Isabel Cruz (então vice-reitora
da Universidade do Algarve).
Os excertos incidiam sobre o Estatuto do Docente Europeu. Aí se pode ler – tanto no paper
de Grancho como no de Ponte – sobre a defesa da escola enquanto “missão
intelectual e social no seio da sociedade” no sentido da “garantia dos
valores universais e do património cultural”.
Grancho
não apresenta os excertos em causa como citações, nem faz qualquer
referência aos autores originais. Isto, apesar de a comunicação do
secretário de Estado incluir uma bibliografia em que são citados cinco
autores, sem que nenhum deles sejam Reis Monteiro ou João Pedro da
Ponte.
A comunicação do
actual governante foi apresentada nas Jornadas Europeias sobre
Convivência Escolar, uma acção de formação contínua organizada pela
Dirección General de Ordenación Académica, em colaboração com a
Dirección General de Formación Professional e Innovación Educativa. A
primeira entidade referida regula os títulos académicos na Comunidade de
Múrcia (Espanha). O seminário era dirigido a pessoal docente, e não só,
e dava direito a um certificado "equivalente a três créditos de
formação", emitido pelo Centro de Professores e Recursos daquela
comunidade.
O PÚBLICO contactou as pessoas envolvidas. De
acordo com a resposta enviada pelo gabinete de imprensa do Ministério da
Educação, a comunicação feita na ocasião pelo actual secretário de
Estado era um “mero documento elaborado pela ANP”, servindo apenas de
“suporte prévio a uma intervenção oral do seu presidente” e que “mais
não representa que o alinhamento mais ou menos organizado de um conjunto
de ideias de vários pensadores”. A resposta acrescenta ainda que
“intervenções com referência aos escritos do professor Reis Monteiro
eram recorrentes, em várias circunstâncias e com o conhecimento do
próprio”. Para “contextualizar”, é ainda destacada a “afinidade entre o
pensamento da ANP e o pensamento do professor”.
Sobre o segundo
documento o gabinete garantiu que o texto de Grancho "não foi produzido
para difusão pública, tão-pouco como obra original do então presidente
ou da própria ANP. A passagem em causa, como outras que eventualmente
possa conter de outros autores, não se pretendia assumir como documento
de reflexão própria ou de produção original".
Por
sua vez Reis Monteiro, depois de consultar os trabalhos em causa, optou
por não se alongar. Admitiu a “reprodução”, mas escusou-se a fazer um
juízo de valor sobre o sucedido. Já João Pedro da Ponte, director do
Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, foi mais assertivo.
“Isto é uma cópia integral, nem sequer houve trabalho de disfarçar”,
disse ao PÚBLICO. “É um tipo de prática que deve ser condenado na nossa
sociedade e é de assinalar que tenha sido feito por uma pessoa com
responsabilidades na Educação”, afirma.
Sobre a gravidade
do sucedido o professor universitário acrescenta: “Nós no Instituto da
Educação consideramos que – e explicamos isso aos nossos alunos – é
intelectualmente desonesto copiar um texto como se fosse feito por nós,
seja um texto científico ou qualquer outro texto.”
Casos na Europa
Nos últimos anos, surgiram diversos casos polémicos na Europa envolvendo governantes e os seus percursos académicos.A ministra da Educação da Alemanha, Annette Schavan, de 59 anos, demitiu-se em Fevereiro de 2013,
depois de ter perdido o título de doutora pela Universidade Heinrich
Heine, de Düsseldorf, sob a acusação de ter plagiado a sua tese final.
Não foi o único caso. Em 2011, o ministro alemão da Defesa, Karl-Theodor zu Guttenberg, anunciou a demissão na sequência do escândalo de plágio da sua tese. A saída de Guttenberg
foi forçada pela divulgação de passagens da tese de doutoramento que
tinham sido copiadas de várias fontes sem serem citadas, o que valeu ao
ministro o epíteto de "barão do copy-paste".
Em Abril de
2013, foi a vez de Pál Schmidt. O Presidente da Hungria renunciou ao
cargo depois de meses de polémica relacionada com a tese de
doutoramento. A Universidade Semmelweis, de Budapeste, retirou o título
académico ao político após ter considerado provado que Schmitt fizera
plágio na tese que defendera há 20 anos naquela instituição e que
versava sobre a história dos jogos olímpicos. Para a maioria dos membros
do senado, esse trabalho académico "não respeitava nem os métodos
científicos nem éticos" exigíveis.
Partes dos excertos plagiados
"A Deontologia é cada vez mais crucial para a distinção profissional dos professores,
por duas razões: porque é um atributo maior do prestígio social de uma
profissão e porque a função docente não tem tradição deontológica."
Pág. 7 de Dimensión Moral de la Profession Docente, de João Grancho
"A Deontologia é cada vez mais crucial para a distinção profissional dos professores, por duas razões: porque é um atributo maior do prestígio social de uma profissão e porque a função docente não tem tradição deontológica."
Pág. 1 de Para Uma Deontologia Pedagógica, de A. Reis Monteiro
"Para além disso, a escola tem de afirmar a sua missão intelectual e social no seio da sociedade, contribuindo para a garantia dos valores universais e do património cultural."
Pág. 9 de Dimensión Moral de la Profession Docente, de João Grancho
"Para
além disso, a escola tem de afirmar a sua missão intelectual e social
no seio da sociedade, contribuindo para a garantia dos valores
universais e do património cultural."
Pág. 5 de Por Uma Formação Inicial de Professores de Qualidade, coordenado por João Pedro da Ponte.
* Em Portugal ninguém se demite por uma patacuada destas, excepção a deste membro do governo, faça-se-lhe justiça. Neste governo há de tudo, começou com licenciados por equivalência, afundou no estado de "citius", não se sabe onde irá parar, não à cadeia, porque a impunidade impera.
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