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Secretário de Estado muda regras de
. concurso e beneficia empresa de Rui Rio
Presidente de agência pública diz que Secretário de Estado Castro Almeida deu a indicação para alterar as regras do concurso, o que permitiu a escolha da empresa de Rio para seleccionar futuros gestores de fundos europeus.
A
empresa de Rui Rio não venceu em Julho um concurso limitado lançado
para encontrar uma entidade que seleccionasse futuros gestores para
parte significativa dos fundos europeus (2014/2020). Mas uma decisão do
governo voltou a trazê-la a jogo. Dias após ter sido conhecida a decisão
do júri foram modificadas as regras do concurso, e o serviço não só foi
adjudicado à empresa que apresentou a proposta mais vantajosa como
também à de Rui Rio.
A mudança de termos feita foi simples: afinal era necessário que
houvesse mais que uma empresa a seleccionar candidatos para trazer “mais
rigor ao processo”. E a consequência também não é difícil de entender:
em vez de custar 40 mil euros, a selecção de futuros gestores teve um
custo que ascendeu a 100 mil euros.
A indicação de alterar o que fora inicialmente solicitado foi
transmitida à Agência para o Desenvolvimento e Coesão (ADC) –
responsável por lançar os concursos – pelo Secretário de Estado do
Desenvolvimento Regional, Castro Almeida, que mantém desde há alguns
anos relações políticas com o ex-autarca do Porto. Em 2005, por exemplo,
foi indicado por Rui Rio, então presidente da Junta Metropolitana do
Porto, para ocupar o cargo de vice-presidente daquela junta.
Os futuros gestores destes quatro programas operacionais terão a seu
cargo uma importante fatia dos fundos que Bruxelas disponibiliza a
Portugal – quase 12 mil milhões de um bolo total de 25,6 mil milhões de
euros.
Mudam-se as regras, inclui-se a Boyden O presidente da Agência para o Desenvolvimento e Coesão, José Soeiro, confirmou ao i
ter recebido inicialmente a indicação por parte do secretário de Estado
Castro Almeida para escolher apenas a empresa que apresentasse a
proposta mais vantajosa. O responsável atestou ainda que Castro Almeida
só solicitou que fosse feita a adjudicação a todos os concorrentes após
ter sido escolhida pelo júri a Heidrick & Struggles. Esta
concorrente da Boyden de Rui Rio, é uma empresa pertencente ao grupo
Ongoing que apresentou uma proposta de 37 250 euros (Sem IVA).
Com a mudança de regras, inicia-se assim uma segunda ronda de
contactos à Boyden – que inicialmente apresentara uma proposta de 60 mil
(sem IVA) – e à empresa Egon Zehnder que tinha apresentado uma proposta
de 69 mil euros (sem IVA).
Porém, nesta segunda consulta apenas a empresa do ex-autarca do Porto
se mostrou disponível, o que fazia com que a Egon ficasse de fora da
corrida.
“Assim que fomos informados da indisponibilidade da Egon, tal
informação foi concedida ao senhor secretário de estado e adjudicou-se o
serviço à empresa Boyden”, explicou o presidente da ADC
Com esta adjudicação, a selecção de profissionais para gerir parte
dos fundos comunitários deixou de ter um preço total de cerca de 40 mil
euros e ascendeu a mais de 100 mil euros.
Segundo Castro Almeida, contactado pelo i, “a adjudicação do
trabalho a duas empresas distintas teve em vista assegurar dois
objectivos: alargar as hipóteses de escolha, através da diversificação
do leque de contactos de cada uma das empresas e evitar a hegemonia de
uma só empresa no processo de recrutamento para funções tão
importantes.”
Sem referir que a decisão de optar por um ajuste directo ou de abrir
concurso público caberia sempre à Agência para o Desenvolvimento e
Coesão, o secretário de Estado justifica: “Se fosse o objectivo
[favorecer uma das empresas], teria sido legal fazer a adjudicação
directa à empresa que se pretendesse beneficiar, sem necessidade de
efectuar outras consultas e colher outros preços.”
Braço de ferro Mas este processo foi muito complexo desde o início e segundo o i apurou
o lançamento de um concurso limitado para elaboração de listas de
candidatos a gestores dos quatros programas operacionais não era o que
Castro de Almeida e o governo haviam idealizado. O secretário de Estado
do ministério de Poiares Maduro terá mesmo transmitido à agência que
pretendia outra solução, que passava por envolver as três maiores
empresas de “executive search” que trabalham em Portugal na selecção
destes profissionais.
A ADC terá feito, porém, braço de ferro ao considerar que não fazia
sentido a proposta de adjudicar por lotes, ou seja, que os candidatos à
gestão de cada um dos quatro programas operacionais (competitividade e
internacionalização, inclusão social e emprego, capital humano e por fim
o de eficiência de recursos e sustentabilidade) fossem seleccionados
por empresas diferentes.
Ainda que José Soeiro não tenha querido responder a qualquer questão
sobre esta matéria, informações a que o i teve acesso revelam que o
receio da ADC era o Estado ter de pagar a mais de uma empresa – um valor
que poderia ir até 75 mil euros. Isto, porque havia a sensação de que
uma empresa seria, em teoria, suficiente para fazer todo o trabalho e
escolher os potenciais gestores para todas os programas operacionais.
Foi aí que o secretário de Estado do desenvolvimento Regional, Castro
Almeida, aceitara então, em Julho, que fosse escolhida apenas uma
empresa para fazer as listas de candidatos para os quatro programas. Uma
concordância que durou até ser tomada a decisão de escolher uma empresa
concorrente da de Rui Rio.
Várias fontes ligadas a este processo explicaram ao i que o facto de
ter sido adjudicado a várias empresas o mesmo serviço criou algum
desconforto entre os concorrentes. “O normal é contratar uma empresa e
ainda que não fosse inédito adjudicar a mais de uma, houve algum
desconforto”, explica fonte conhecedora do processo que preferiu não se
identificar.
Contactada pelo i, a Boyden optou por salientar que esta
decisão do governo é inédita, dado que pela primeira vez os gestores
estão a ser recrutados fora “das redes pessoais das pessoas que
pretendem preencher os lugares”. Fernando Neves de Almeida, Managing
Partner da empresa, considera “natural” que tenha havido outra empresa a
fazer a mesma pesquisa. Apesar de questionado através da empresa, Rui
Rio não fez qualquer comentário até ao fecho desta edição.
* Nem entre amigos há almoços grátis. Revelada a enorme isenção(?) de quem manda e também(?) de quem recebe. Chama-se "Tecnonorma"
.
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