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www.project-syndicate.org
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
08/09/14
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Levar o dinheiro
de volta a casa
Um crescente número de empresas norte-americanas
planeia transferir as suas sedes para a Europa. Estas chamadas
"inversões" reduzirão a factura fiscal total dessas companhias,
permitindo-lhes escapar às desfavoráveis regras tributárias dos EUA. O
que devem então fazer os legisladores norte-americanos?
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A
Administração do presidente Barack Obama está a tentar bloquear a
inversão corporativa através de medidas administrativas que poderão não
ter o aval dos tribunais norte-americanos. Seria muito melhor
desenvolver um plano legislativo bipartidário destinado, antes de mais, a
eliminar a tentação de transferir as sedes das empresas. Um plano
desses, se fosse atractivo para as multinacionais norte-americanas,
poderia resultar numa transferência do emprego e da produção para os EUA
e em maiores receitas fiscais.
Nos termos da actual legislação, os lucros empresariais nos EUA são
tributados a uma taxa de 35% - a maior entre os países da OCDE, onde a
média é de 25%. Esse imposto é pago sobre os lucros obtidos nos Estados
Unidos e sobre os lucros repatriados obtidos por subsidiárias
estrangeiras de empresas norte-americanas.
A título de exemplo, a subsidiária de uma empresa norte-americana que
opera na Irlanda paga o imposto irlandês sobre o rendimento colectivo,
de 12,5%, sobre os lucros obtidos no país. Se o repatriar após o
pagamento dos impostos, paga um imposto de 22,5% (a diferença entre o
imposto norte-americano de 35% e o imposto de 12,5% que já pagou ao
governo irlandês). Mas se reinvestir os lucros na Irlanda – ou em
qualquer outro país – não tem de pagar qualquer outro imposto adicional.
Não é pois de surpreender que as empresas norte-americanas prefiram
deixar esses lucros no estrangeiro, aplicados em instrumentos
financeiros ou investidos em novas subsidiárias ou nas já existentes.
Consequentemente, as empresas dos EUA detém actualmente no estrangeiro
cerca de dois biliões de dólares em lucros que nunca foram taxados nos
Estados Unidos.
Todos os outros países da OCDE tratam de forma bastante diferente os
lucros das suas subsidiárias no estrangeiro, baseando-se no chamado
método "territorial" de tributação dos lucros obtidos "lá fora". A
título de exemplo, uma empresa francesa que investe na Irlanda paga os
12,5% de imposto corporativo irlandês (IRC), mas depois tem liberdade
para repatriar os lucros após impostos a uma taxa de menos de 5%.
O actual sistema fiscal dos Estados Unidos afecta adversamente a
economia norte-americana, e de várias formas. O imposto extra que as
empresas norte-americanas pagam se repatriarem os seus lucros faz
aumentar os seus custos de capital, reduzindo assim a sua capacidade
para competirem nos mercados internacionais. As empresas estrangeiras
conseguem também superar as ofertas das suas congéneres norte-americanas
na aquisição de novas empresas tecnológicas noutros países. E quando
uma companhia estrangeira compra uma empresa norte-americana, paga o
imposto norte-americano sobre os lucros obtidos nos EUA, mas não sobre
os lucros obtidos pelas suas subsidiárias estrangeiras, o que baixa o
total da sua factura fiscal.
Uma transição para um sistema territorial de tributação eliminaria as
desvantagens com que se deparam as multinacionais norte-americanas e
iria incentivá-las a reinvestirem nos EUA os lucros obtidos no
estrangeiro, aumentando assim o emprego e os lucros nos Estados Unidos.
Uma vez que, actualmente, apenas uma pequena parte dos lucros obtidos no
estrangeiro é repatriada, o governo norte-americano perderia poucas
receitas fiscais ao mudar para um sistema territorial. Há alguns anos, o
Departamento norte-americano do Tesouro estimou que a transição para um
sistema territorial reduziria as receitas fiscais provenientes das
empresas em apenas 130 mil milhões de dólares ao longo de 10 anos.
Seria igualmente desejável reduzir gradualmente a taxa do imposto
corporativo nos EUA, aproximando-o da média de 25% que se aplica na
OCDE. Também isso encorajaria a que mais lucros obtidos no estrangeiro
entrassem nos EUA.
Atendendo a que as empresas norte-americanas têm grandes volumes de
lucros no estrangeiro que nunca foram tributados nos EUA, a transição
poderia ser mesmo implementada de uma forma que aumentasse a receita
líquida. Em troca da transição para um sistema territorial e da redução
da taxa do imposto, o governo federal poderia tributar todos esses
lucros passados não taxados, a uma taxa mais baixa e com um pagamento
faseado por 10 anos. As empresas teriam então a liberdade de repatriar
os seus lucros pré-existentes sem pagarem qualquer imposto adicional, ao
passo que os seus futuros lucros obtidos no estrangeiro poderiam, tal
como acontece noutros países, ser repatriados mediante o pagamento de um
imposto de 5%.
Um imposto de 10% sobre esses lucros existentes e acumulados "lá
fora" levaria a um encaixe de cerca de 200 mil milhões de dólares ao
longo dos referidos 10 anos. Um imposto de 15% levaria a um encaixe de
300 mil milhões de dólares. A escolha da taxa de imposto faria parte da
negociação sobre quanto se deve reduzir a taxa total do imposto sobre o
rendimento colectivo cobrada nos EUA.
A título de exemplo, com um imposto de 10%, uma empresa com 500
milhões de dólares de lucros acumulados no estrangeiro incorreria no
pagamento de 50 milhões de dólares, a serem pagos em 10 anos. Poderia
repatriar 500 milhões de dólares a qualquer momento, sem qualquer
pagamento fiscal adicional. Repatriar quaisquer lucros acima de 500
milhões estaria sujeito a um imposto de 5%.
A passagem para um sistema territorial e para um "IRC" mais baixo
atrairia as multinacionais norte-americanas, mesmo que tivesse de pagar
um imposto entre 10% a 15% sobre os lucros acumulados nos anos
anteriores. Se Obama está à procura de uma oportunidade para negociar um
acordo bipartidário que fortaleça a economia norte-americana e aumenta o
emprego, então deve ponderar seriamente num pacote de reformas desta
natureza.
Professor de Economia na Universidade de
Harvard e presidente emérito do Departamento Nacional de Investigação
Económica nos EUA, presidiu ao Conselho de Assessores Económicos do
presidente Ronald Reagan de 1982 a 1984.
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08/09/14
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