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Divisão no PS entra pela casa da família Soares
Mário Soares apoia Costa, João está com Seguro e Maria Barroso preferia que o confronto tivesse sido mais cedo, mas não revela quem apoia
Lá
em casa "cada um pensa pela sua cabeça". A frase é dita por Maria
Barroso, fundadora do PS, em resposta à pergunta sobre como é que a
família Soares está encarar as eleições primárias no PS. Maria Barroso
sorri e garante que "há unidade entre todos nós".
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O sorriso não é inocente. A divisão no PS entrou pela casa da família
Soares: o fundador do partido está ao lado de Costa, João Soares está
com Seguro e Maria Barroso prefere não apoiar publicamente nenhum dos
candidatos, mas, ao contrário do marido, acha que esta luta interna
enfraquece o PS. "Tenho pena que eles tenham procurado esta altura."
A ideia de que Costa devia ter avançado "antes" encaixa nas teses de
Seguro, mas a fundadora do PS garante que tem "consideração pelos dois".
A entourage de Seguro tem passado a mensagem de que Maria Barroso está
com ele, mas nem os mais próximos arriscam um palpite. "Ela é
rigorosamente reservada", diz um amigo da família. Há, pelo menos, uma
pista que podemos seguir. Antes de o PS entrar em guerra já Mário Soares
andava irritado com Seguro e ficou fulo por só ter sido convidado à
última hora para a tradicional descida do Chiado, nas eleições
europeias. Soares não foi, mas Maria Barroso quis dar "um beijinho e dar
felicidades". Seguro registou: "É uma distinta socialista, um gesto de
grande importância política."
Mário e Maria Barroso são casados há mais de 65 anos e a política já
os dividiu várias vezes. A última foi quando Soares surpreendeu tudo e
todos e avançou com uma nova candidatura a Belém. Lá em casa ninguém
concordou: "Toda a gente foi contra. Fizemos um jantar de família, e até
os netos já crescidos e toda a gente se pronunciou contra. Até a minha
mãe", conta, na biografia de Soares de Joaquim Vieira, Isabel Soares, a
mais discreta da família.
Não foi a primeira vez que a política dividiu o casal. Em 1973,
Soares quis transformar a Acção Socialista Portuguesa (ASP) num partido e
Maria Barroso esteve entre os sete socialistas que votaram contra.
Soares recordou, mais tarde, que a sua "própria mulher votou contra",
mas não fez "pressão" para a convencer a ficar ao seu lado. "Votou como
entendeu", disse. O contrário também é verdade. Numa entrevista ao
"Expresso", Maria Barroso assume que a sua influência nas decisões do
ex-Presidente da República era "muito pouca".
As divergências entre pai e filho também foram públicas. Ao ponto de
João Soares assumir na praça pública que o artigo do pai, no jornal
"Público", a declarar apoio a Costa era "um disparate". João disse-o com
"toda a ternura" e um dos maiores amigos da família garante que as
divergências públicas não se transformam em guerras privadas. "Não
belisca rigorosamente nada a relação familiar. Cada um respeita o
outro", conta Vítor Ramalho, garantindo que a política "jamais beliscou a
relação entre pai e filho".
No dia em que criticou publicamente o artigo em que Soares desafiava o
líder do partido a "saber retirar consequências da falta de adesão dos
eleitores a um estilo nada identificado com o povo", João fez um pedido
aos jornalistas: "Peço que respeitem o meu pai. O meu pai tem 90 anos.
Respeitem o meu pai."
As primárias no PS não são, porém, assunto que domine as conversas
entre os dois. "Nunca os vi falar sobre essa matéria. Cada um tem a sua
opção e respeitam isso", garante Ramalho. Maria Barroso confirma que as
primárias não fizeram mossa nas relações familiares e garante que em
casa de "democratas todos respeitam as opiniões uns dos outros". Aos 89
anos, Soares continua activo como poucos da sua idade. Promove encontros
políticos - há menos de um ano juntou as mais diferentes
personalidades, na Aula Magna, numa acção contra o governo -, participa
em conferências, dá entrevistas e escreve artigos regularmente. A
família preferia que o ex-Presidente da República, por motivos de saúde,
tivesse outros cuidados. Mas Soares não abdica de uma vida cheia.
"Levanta-se de manhã e pensa política, e vai ser até à morte", diz na
biografia de Vieira, o ex-assessor cultural em Belém José Manuel dos
Santos.
* Apesar de não sermos seguidores de Mário Soares, nem de ninguém, reconhecemos-lhe uma enorme força e inteligência para ter a vida cheia. Há por aí gentinha que até chega a dizer que Soares está gágá, uns pedaços de asno.
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