César das Neves
não pode ficar calado
Ele acha que sem
uma descida generalizada de ordenados o País não se safa. Ele garante
ser disparatado subir o salário mínimo pois isso prejudica os pobres, os
trabalhadores menos qualificados, enviados dessa forma para um
despedimento certo. Ele não acredita no Estado. Contraditoriamente, ele
acha que o Estado deve pagar aos pais para ficarem em casa alguns anos a
cuidar dos filhos.
Ele acusa Portugal de ter desperdiçado
dinheiro em consumo fútil. Ele atira-se ao Tribunal Constitucional por
fazer política. Ele ataca os sindicatos dos médicos, dos juízes e dos
professores com um nome crismado de pecado: corporações. Ele acusa a
maior parte dos pensionistas que protesta de estar a fingir ser pobre.
Esta
é uma parte do pensamento de João César das Neves, cujo desenvolvimento
qualquer leitor do Diário de Notícias pode aprofundar às
segundas-feiras, numa coluna de opinião já bem antiga.
Acontece
que uma entrevista feita neste mesmo jornal, de que sou subdiretor,
publicada no domingo, desencadeou um movimento de protesto nas redes
sociais com volume já assinalável. Além de milhares de comentários
indignados ou insultuosos em múltiplos fóruns, acrescentou-se até uma
página no Facebook chamada "Correr com o César das Neves do DN, TV,
Rádio e UCP" (Universidade Católica Portuguesa). E uma série de atores
políticos, numa unanimidade rara entre quadrantes antagónicos,
criticaram as posições mais polémicas do professor catedrático.
Um
dos insultos mais "meiguinhos" que atiram a César das Neves é
"reacionário". Um dos "mimos" frequentes que recebo é "estalinista".
César das Neves, anticomunista, se pensar alguma coisa sobre o que
escrevo (não nos conhecemos) achará que tudo o que defendo é horrível e
tenebroso. Eu, ao ler César das Neves, só vejo caminhos de agravamento
da exploração do homem pelo homem, algo que acho horrível e tenebroso.
Tudo, portanto, nos separa.
Como opositor das ideias de César
das Neves estou de acordo com a maior parte das críticas, mesmo as mais
violentas, que são feitas ao sentido do que ele diz e escreve. Como
indivíduo, no entanto, sinto--me obrigado a tomar outra posição: exijo
que ele continue a dizer, a escrever e a tornar público o que lhe der na
real gana.
Recuso alinhar em carneiradas que investem, cegas,
contra a liberdade de expressão. Indignam-me estes abaixo-assinados ou
grupos no Facebook, cada vez mais frequentes, que pretendem silenciar A,
B ou C. A História já ensinou vezes sem conta que quem ganha com isso
não são nem os explorados nem os oprimidos. Chega.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
19/11/13
.
Sem comentários:
Enviar um comentário