HOJE NO
"DIÁRIO ECONÓMICO"
Abrandamento da recessão pode ser
. "varrido" por mais austeridade
O Observatório sobre Crises e Alternativas do Centro de Estudos Sociais (CES) alertou hoje que os sinais de abrandamento da recessão "podem ser varridos pelo novo pacote de austeridade" previsto para 2014.
No Barómetro das Crises de outubro, intitulado "Batemos no
fundo? Estamos a vir à tona", o observatório refere que os dados do
Instituto Nacional de Estatística para os dois primeiros trimestres de
2013 revelam um abrandamento da recessão, "mas não uma inflexão da
situação económica portuguesa ou o fim da recessão".
"Este abrandamento decorre do contributo, não do
investimento, mas de algumas exportações e, mais moderadamente, do
consumo das famílias", adianta o barómetro.
Em declarações à agência Lusa, o investigador do CES e
membro do observatório José Castro Caldas afirmou que os dados
demonstram que Portugal ainda está "muito longe de uma inversão" e
advertiu que os "sinais de abrandamento [da recessão] podem ser varridos
pelo novo pacote de austeridade".
"O que é preocupante é que este abrandamento da recessão que
agora houve" pode ser prejudicado com o que se prefigura no Orçamento
do Estado para 2014, nomeadamente "um grande corte nos rendimentos dos
reformados e pensionistas e nalgumas despesas do Estado" que têm
repercussões na vida das famílias, sublinhou.
Para o investigador, estas medidas vão constituir mais um
golpe no orçamento das famílias, "muito direto nos reformados e
pensionistas, e mais indireto no rendimento das famílias, porque tudo o
que tem a ver com prestações de cuidados de saúde e educação acaba por
se refletir no orçamento das famílias".
"Quando o Estado se retrai na provisão dessas áreas, muitas
vezes as famílias não têm outro remédio senão deixar de ir ao médico ou à
escola, ou então a pagarem esses serviços de outra maneira", sustentou.
José Castro Caldas adiantou que "o abrandamento da recessão
está muito longe de significar uma inversão do ciclo recessivo", pelas
próprias características do crescimento que se verificou no terceiro
trimestre.
Segundo o barómetro, o contributo do investimento para o crescimento do PIB está sobreavaliado nas contas do terceiro trimestre.
"Quando se analisa com cuidado os dados do INE verifica-se
que o investimento parece ser um crescimento um pouco fictício", disse o
investigador, explicando que os seus valores estão ligados a um aumento
de stocks de bens importados e à aquisição de aeronaves.
"Na realidade estes aumentos de stocks e o pagamento de
aquisição de aviões têm como contrapartida importações e, portanto, o
impacto no PIB é nulo", justificou.
Já o crescimento registado do primeiro para o segundo
trimestre é, sobretudo, atribuível à subida das exportações e não a uma
retoma do investimento.
Quanto ao emprego, a subida verificou-se
sobretudo na agricultura e entre trabalhadores sazonais, trabalhadores
por conta própria ou familiares não remunerados no norte e centro.
Para o investigador, tem havido "uma sobrevalorização"
destes dados que foi "muito empolada na época das eleições", sendo
"preciso matizar isto de alguma forma".
Na quarta-feira, o CES fará uma apresentação, em Lisboa, da "Cronologia das Crises".
* Estão a impingir-nos uma garrafa meia-cheia, quando afinal tem um furo no fundo.
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