HOJE NO
"i"
Nota da direcção do jornal i
A administração do Banco Espírito Santo (BES) teve ontem uma reacção
desproporcional, violenta e inaudita face ao trabalho de investigação
jornalística que o jornal i tem vindo a fazer sobre o envolvimento de
administradores e altos quadros do Grupo Espírito Santo em diversos
processos judiciais.
O jornal i solicitou um comentário do BES
durante o dia de terça-feira ao facto de o dr. Ricardo Salgado ter sido
chamado ao Banco de Portugal, mas não recebeu qualquer resposta – como
tem sido habitual nos últimos contactos feitos pelos nossos jornalistas.
Através
de uma carta enviada às redacções durante o dia de ontem (que não
chegou ao i), a administração do BES acusa o nosso jornal, num tom
inusitado para uma instituição financeira quase centenária, de “atacar
de forma ostensiva e sistemática o BES e o seu presidente executivo”,
ligando as notícias que temos vindo a publicar com a saída do dr. Álvaro
Sobrinho da administração do Banco Espírito Santo de Angola. Tais
acusações levaram mesmo o “Jornal de Negócios” a afirmar que a
administração do BES “assume estar em guerra com o angolano Álvaro
Sobrinho”.
A direcção do jornal i rege o seu trabalho por
critérios exclusivamente jornalísticos, avaliando a credibilidade e a
veracidade da informação recolhida pelos seus jornalistas de forma
independente de qualquer poder político ou económico. Tal como assume,
de boa-fé, os erros quando os mesmos se verificam.
O jornal i não está portanto em guerra com ninguém.
Desde
o início da investigação jornalística que a administração do BES tem
recusado esclarecer de forma clara as dúvidas dos nossos jornalistas,
optando, ao invés, por tentar descredibilizar o trabalho do i. Essa
política de comunicação do BES visa igualmente condicionar o trabalho
dos nossos jornalistas.
O BES tem tentado pressionar igualmente a direcção e os jornalistas do i que têm feito o seu trabalho.
A
direcção do jornal i não se deixa intimidar com o poder económico e
publicitário do BES e continuará a garantir o direito de informar e a
acompanhar toda a informação que os seus jornalistas recolham com
profissionalismo, isenção e respeito pelo nosso código deontológico.
Compreendemos,
obviamente, que a administração do BES não goste de ver escrito que
dois dos seus principais administradores foram constituídos arguidos por
suspeitas do crime de inside trading, percebemos que o BES não queira
que se saiba que o dr. Ricardo Salgado, presidente executivo, e o dr.
Morais Pires, administrador executivo, fizeram rectificações dos
respectivos IRS de 2011 num valor que supera os 9,6 milhões de euros na
sequência do processo Monte Branco, entendemos que a liderança do BES
prefira que não sejam conhecidas declarações de três administradores da
Escom que, após serem informados da sua condição de arguidos por
corrupção activa, branqueamento de capitais e tráfico de influências,
afirmaram que actuaram sempre com “o total conhecimento e concordância
dos seus então accionistas”, isto é, o Grupo Espírito Santo.
Compreendemos
igualmente que a administração do BES prefira não fazer comentários ao
facto de o dr. Ricardo Salgado ter sido remunerado em 8,5 milhões de
euros através de uma offshore por uma consultoria externa realizada a um
cliente do banco.
Compreendemos, enfim, que estes factos sejam
incómodos para a liderança do BES. Mas uma coisa o BES não pode esperar:
que os jornalistas tenham medo do seu poder financeiro e deixem de
exercer a sua profissão.
O jornal i, com toda a certeza,
continuará a fazer o seu trabalho respeitando todos os poderes da
sociedade portuguesa, mas sem ceder um milímetro na missão jornalística
da busca de informação verdadeira, factual e com relevância pública.
A direcção do i
* O DINHEIRO QUER MANDAR EM TUDO, OU JÁ MANDA MESMO?
.
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