Um governo
irrevogável?
Uma semana alucinante cheia de demissões, cartas, crises e negociações. Pelo sonho é que vamos, dizia o poeta, mas depois de tudo o que vimos podemos dizer que pelo susto é que vamos.
O risco de um segundo resgate levou-nos a perceber que quem se "lixava" com a crise não era a "‘troika'" mas éramos nós.
A
última semana mostra como a situação do país continua precária.
Bastaram duas cartas de demissão para os juros dispararem, um ‘crash' na
bolsa e um novo resgate ficar eminente. Por mais que nos custe, estamos
a meio caminho do ajustamento. Apesar dos efeitos positivos das
reformas serem ainda tímidos (os últimos dados da OCDE mostram uma
subida sustentável da atividade económica em Portugal, há pelo menos um
ano), olhar para trás pode deitar tudo a perder. Sempre com a Grécia ao
dobrar da esquina.
A semana alucinante mostra que os portugueses valorizam a
estabilidade e não querem eleições antecipadas. Para além das sondagens,
é curioso ver que a esperada vaga de fundo pela dissolução do
Parlamento se reduziu à extrema esquerda, deixando António José Seguro
subir o tom ("a situação é intolerável"), mas a falar sózinho. Talvez
por uma espécie de complexo-de-bancarrota, mas é um facto que poucas
foram as vozes de peso na área socialista a pedir eleições antecipadas. A
excepção foi Jorge Sampaio que parece ter um quid pro quo com a
natureza parlamentar do regime.
A falta de uma alternativa sólida à esquerda ajudou acalmar os ânimos
dos que já vislumbravam o apocalipse do regime. Entre os comentadores, a
euforia eleitoral foi dando lugar, à medida que os juros disparavam, a
elogios à responsabilidade e sentido de estado do primeiro-ministro.
Quem não tem dinheiro não tem vícios, diz o povo. Não é que a
democracia seja um vício, pelo contrário, mas convenhamos que enquanto
dependermos do dinheiro dos outros, há que ter juízo e substituir as
palavras "crise política" por outras duas palavras de que gostamos
menos: estabilidade e austeridade.
Mas terá este governo "refundado" força para equilibrar as contas e
reformar o Estado? Ou será tão revogável como outras coisas tristemente
famosas?
Esta é a pergunta a que Cavaco Silva terá de responder esta semana.
Se é inegável que o peso político do partido minoritário da coligação
sai reforçado, não é menos verdade que a imagem pública de Passos Coelho
sai reforçada. E que Paulo Portas se ridicularizou perante o eleitorado
com a pirueta da sua demissão (ir)revogável.
Mais do que casos ou nomes, termino com uma frase de que gosto cada
vez mais. Foi dita por alguém que sabia do que falava - Eleanor
Roosevelt - primeira dama americana entre 1933 e 1945: ‘Great minds
discuss ideas, average minds discuss events, small minds discuss
people'. Espero que este novo governo não se esqueça disso se quiser ser
admirado pelos portugueses.
IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
09/07/13
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